domingo, 30 de junho de 2024

Na imensidão das águas



Senhor que fizeste o mar, a terra, o céu e o vento…

Senhor que tudo me dás e tudo me tiras…

Senhor que me impeles e me reténs…

És Tu, meu Pai, que fazes em mim tudo o que é novo.


És quem me dá a coragem para navegar nas ondas do mar imenso.

Sei que é a missão que me confias.

Sei que me queres a navegar na Tua Barca,

que é a Igreja una e Santa.


És Tu que visitas o Teu povo e lhe ofereces a Esperança infinita.

És Tu quem ergue as fronteiras do bem e do mal…

És Tu quem nos ama até à última consequência:

A Morte de Cruz, para que jamais pereçamos!


E num infinito mar revolto que me habita…

És Tu quem acalma a tempestade da minha vida.

És Tu quem, com um Pedacinho de Pão, me ilumina e guia.

És Tu que me inundas com um turbilhão de Palavras

que se revelam em brisa suave.


Cristo Jesus, dá-me Força e Fé

para levar-Te a todos e para que eu leve todos a Ti.


Liliana Dinis


JESUS É VIDA

 


Nascemos para viver, ou para morrer? Será a morte o objetivo ou a intenção última do projeto de Deus sobre o homem? A liturgia do 13.º Domingo comum procura responder a estas questões. Convida-nos a olhar para lá do nosso horizonte de criaturas finitas e a descobrir a Vida verdadeira e eterna que Deus quer oferecer a todos os seus filhos e filhas.

Na primeira leitura, um “sábio” de Israel ensina que Deus criou-nos para sermos eternos. É verdade que todas as criaturas passam pela morte biológica; mas essa morte não impede que cheguemos à Vida eterna. Só escolhas de egoísmo e de autossuficiência podem impedir-nos de encontrar essa Vida eterna que está no plano que Deus tem para nós.

No entanto, é certo que o nosso tempo nesta terra é um tempo limitado. Não somos daqui. O nosso corpo tem o seu ciclo de vida, desgasta-se com o tempo, o cansaço, a doença, e a certa altura termina o seu caminho. É a morte biológica que todos os seres criados, incluindo o homem, conhecerão. Contudo, a morte biológica não é a morte verdadeira, a morte que conta. Precisamos de passar por ela, precisamos de deixar este mundo imperfeito, limitado e precário para entrar na realidade de Deus, na Vida eterna. Custa-nos, naturalmente, despedir-nos daqueles que amamos e que terminam o seu caminho na terra; custa-nos, também, despedir-nos dos nossos projetos, das nossas conquistas, até mesmo das coisas materiais que juntamos… Mas a morte biológica é o passo imprescindível para aceder à Vida eterna, à Vida plena. Como lidamos com a morte biológica, a nossa ou a das pessoas que amamos? Somos capazes de encará-la como um nascimento para a Vida eterna?

O Evangelho mostra como Jesus cumpriu a missão que o Pai lhe confiou: dar-nos Vida. Ao curar uma mulher de uma hemorragia que a mantinha presa a uma vida sem horizontes, ou ao pegar pela mão uma jovem para a resgatar da morte, Jesus está a concretizar o plano de Deus e a salvar da morte os filhos e filhas que Deus tanto ama. Abraçamos essa Vida quando confiamos em Jesus, acolhemos as suas indicações, seguimo-l’O no caminho que Ele nos aponta.

Jesus ajuda e dá Vida a duas mulheres que sofrem. Ao contrário do que acontecia na sociedade palestina do seu tempo, quer a nível de legislação quer a nível de prática, Jesus não as discrimina nem as ignora; acolhe-as, valoriza-as, compreende-as, respeita-as na sua dignidade, coloca-as ao nível de filhas muito amadas de Deus. Na Igreja de Jesus, já aprendemos isto? Valorizamos suficientemente tudo aquilo que as mulheres fazem no sentido de construir a comunidade de Jesus?

Na segunda leitura Paulo de Tarso, a propósito de uma questão concreta (o apoio a uma Igreja que passa por dificuldades materiais), convida-nos a encarar a vida a partir de um dinamismo de amor. Esse amor, é expressão da Vida de Deus; mas também é gerador de Vida, de Vida verdadeira.

Paulo pretende, principalmente, que os discípulos de Jesus aprendam a viver de acordo com um dinamismo fraterno de partilha e de comunhão, que enriquece quem dá e quem recebe e que é pressuposto de uma nova ordem, de um novo relacionamento entre os homens. Os seguidores de Jesus aprenderam com o seu Mestre a partilha, a solidariedade, a fraternidade, a comunhão; aprenderam com Jesus que “os outros” não são concorrentes ou adversários, mas sim irmãos. Por isso, os seguidores de Jesus são, no mundo, arautos e testemunhas de uma nova ordem, da revolução do amor. Vemos os homens e mulheres que caminham ao nosso lado como irmãos por quem somos responsáveis? Sentimo-nos implicados na procura de soluções para que todos os nossos irmãos tenham uma vida digna? Fazemos o que está ao nosso alcance para criar uma nova ordem, um relacionamento mais fraterno e mais humano entre todos aqueles que partilham connosco esta “casa” que é o nosso mundo?


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sábado, 29 de junho de 2024

Preciso de colo



E às vezes é só isso que faz falta…colo!

Colo em forma de abraços;

Colo em força de presenças;

Colo em forma de palavras;

Colo em forma de gestos…

Um colo capaz de parar o mundo, sossegar canseiras e arrumar mágoas. Um colo que nos faça sentir importantes, úteis e capazes.

Quantas vezes somos invadidos por dúvidas sobre as nossas capacidades?

Questionamos a nossa força, a nossa inteligência e a forma como lidamos com as contrariedades. Por vezes apenas apetece fazer birra até que alguém repare em nós e…nos dê colo! Alguém que nos olhe nos olhos e nos leia a alma, e em vez de nos dar mezinhas para as nossas maleitas, apenas nos diga que: “compreendo”. Não raras vezes basta a escuta atenta para saber a colo. Um colo de amor e não um colo que meça quem sofre mais, ou quem se sente pior, ou tem uma vida mais ocupada, que desvaloriza cada um dos nossos ais.

Não gosto de precisar de colo, não gosto da fragilidade, não gosto de queixumes, mas sabe tão bem quando nos dão um colo gratuito, sem pedidos nem lamentos.

E eu? Será que sei reconhecer quando precisam do meu colo? Será que me sinto capaz de dar colo? Não sei!

Que sejamos porto de abrigo e colo seguro para muitos e tenhamos a capacidade de reconhecer o colo de quem se abeira de nós com gestos de Amor e ternura.


E tu amiga, quem te dá colo?


Raquel Rodrigues


sexta-feira, 28 de junho de 2024

UM MÊS COM UM CORAÇÃO FERIDO POR AMOR...





O coração é isso! É o coração, e pronto, ponto! É “onde eu sou tudo quanto sou”, dizia Santo Agostinho. Do coração brota o amor ou o ódio, as vilanias ou o bem-fazer. Ter um bom coração é ser uma pessoa de bem e de paz. Ser rancoroso de coração é ser fraca rés. No coração, os sentimentos, as atitudes, o amor e o pensamento formam uma só coisa, a pessoa.
Como escreveu Pedro Arrupe, “Coração” é um conceito complexo (...) expressa a totalidade do homem (...) é símbolo eloquente para expressar o centro mais original da unidade psicológica da pessoa, centro íntimo de cada ser em que se realiza essencialmente a abertura para Deus e para os demais homens (...). É o Eu do homem, o seu interior, a sua personalidade oculta, que se contrapõe ao seu exterior. É no coração que se encontra o lugar em que Deus se insere no homem, em que se grava a lei, em que se infunde o Espírito e habita a Trindade” (cf. Homilia, em Roma, 1979).
O coração precisa de cuidados. Não só médicos, também de outros cuidados. Se a sístole e a diástole representam duas importantes fases do círculo cardíaco sem as quais não há vida, assim também um coração ‘vivinho da silva’ precisa de valores mentais, morais e emocionais que irriguem as atitudes, os pensamentos e os comportamentos nas mais diversas situações da vida. O colesterol espiritual tem efeitos de erva daninha neste processo profilático. Sendo verdade que a nossa natureza cresce e atinge a sua maturidade através de fora, através de processos de aprendizagem, também é verdade que a pessoa só atinge a sua plenitude e perfeição a partir de dentro, quando sair de si própria, se relacionar com os outros e se colocar no lugar deles, servindo-os, pois “há maior alegria em dar do que em receber” (At 20,35), e “Deus ama aquele que dá com alegria” (2 Cor 9,7).
É foleira a educação que não passa pelo coração. A palavra educar vem do latim ‘educare’ (ex=fora, ducere=conduzir, levar, liderar). Educar é ajudar a tirar o outro para fora de si mesmo. Não como quem tira trapos e farrapos lá de dentro, mas como quem orienta a pessoa para viver em sociedade, “como uma flor que desabrocha ou uma borboleta que sai voando”. É conduzir o outro a sair de si próprio, aprendendo “a olhar para as estrelas, a escutar os grilos, a ouvir o outro” (Nayana Viana). Sabemos quanto os heróis influenciam na construção de valores e na tomada de atitudes. Mas haverá, porventura, algum herói ou super-herói com um coração tão nobre e influente como o Coração de Jesus em todas as suas facetas? Só Ele “revela plenamente o homem ao próprio homem, reencontrando a grandeza, a dignidade e o valor próprios da sua humanidade” (cf. RH10).
O Coração de Jesus é o Coração do Homem-Deus, o Coração que ama, o Coração que chama, o Coração que convida, o Coração que gosta de viver e se faz companheiro de viagem, o Coração bom e rico em misericórdia, o Coração que não faz acessão de pessoas, o Coração que desceu até nós, se fez próximo e humilde, criança e pobre, paciente e servo de todos, se fez vítima e morreu, venceu a morte e nos deu a vida: “Ele amou-me e entregou-se por mim”, afirma São Paulo (Gal 2,20). De facto, no centro das preocupações e da missão de Cristo está o homem, o homem de todas as nações, línguas e culturas. “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20,21): “Ide...ensinai todas as nações e batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ... E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos” (Mt 28, 19-20)”.
Se Deus Pai nos ama com amor eterno (cf. Jer 31,3) e tanto amou “o mundo que lhe entregou o seu Filho” (Jo 3,6), de igual forma nos ama o Filho e se entregou por nós: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30), “Como o Pai Me amou, também Eu vos amei” (Jo 15,9), “Aprendei de Mim que sou manso e humilde de Coração” (Mt 11,29).
Com coração de homem, Jesus experimentou todas as alegrias, angústias e sofrimentos, entregando-se por nós, por amor, até ao fim (cf. GS22). Sendo “a luz que ilumina todo o homem que vem a este mundo” (Jo 1,9), Ele está “vivo e a interceder por nós” (Heb 7,25). É a “porta para o interior de Deus”, a porta para o interior de cada um de nós.
Mês de junho, mês do Sagrado Coração de Jesus: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado” (Lc 12, 49). Sabemos, porém, que “nem todo o fogo lança chamas, mas toda a chama supõe fogo, e tanto mais alto se eleva a chama, quanto mais aceso estiver o fogo”, afirmou Bento XV, em junho de 1919. Foram as chamas desse fogo, fogo bem acesso no coração de cada discípulo de Jesus a partir da presença real do Coração de Jesus na Eucaristia, quem, ao longo dos tempos, propagou e continua a propagar esse fogo no coração, no santuário interior de cada um, onde a liberdade e a inteligência se encontram com o amor de Deus.
E hoje, com que fogo é que nós testemunhamos e anunciamos esse amor de Deus pela humanidade? Mesmo que estejamos satisfeitos com o que fazemos, o Livro do Apocalipse interpela-nos: “Conheço as tuas obras: não és frio nem quente. Oxalá fosses frio ou quente (...). Porque dizes: ‘Sou rico, enriqueci e nada me falta’ – e não te dás conta de que és um infeliz, um miserável, um pobre, um cego, um nu ... Olha que Eu estou à porta e bato: se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, Eu entrarei na sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3, 15-17.20).
São João XXIII confessou: “A devoção ao Sagrado Coração acompanhou-me toda a vida... Ainda recém-nascido, minha mãe consagrou-me ao Sagrado Coração.... Quero que a minha devoção a Ele seja o termómetro de todo o meu progresso espiritual ... Para triunfar no meu apostolado não quero conhecer outra escola de pedagogia senão a do Sagrado Coração de Jesus”. E Santa Jacinta Marto desejava ter o poder de colocar no coração de toda a gente este fogo que ardia no seu coração...



D.Antonino Dias- Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 28-06-2024.

Sonha todos os teus futuros



A vida dá muito e tira na mesma medida. Pouco fica. Apenas o que construímos dentro de nós e fomos capazes de dar.

Importa ser capaz de sonhar em qualquer circunstância. Há quem tenha medo de ter esperança e quem tenha medo de não a ter, a verdade é que quando já nada esperamos, ou alcançámos a felicidade, ou já entregámos a vida ao desespero.

A vida surpreende-nos muito, mas não é bom que a vida nos deixe numa situação que nunca tínhamos sonhado, tão-pouco o que poderíamos fazer a partir daí.

Todos temos o dever de sonhar. Mesmo quando a angústia nos tenta esmagar, sonhar pode ser uma das mais fortes formas de lhe resistir, porque sonhar também é esquecer, por momentos, o hoje e viajar para longe mais rápido do que a luz.

Não deixes que os sonhos te adormeçam. Desperta, acredita e coloca-te a caminho. Faz real o que imaginas: cria o futuro que sonhaste.

Sonhar é muito mais do que pensar. Nenhum pensamento nos abre a porta da eternidade, já os sonhos são feitos pelo que dela há em nós. Quem passa o tempo a pensar acabará triste, ainda que a vida lhe possa sorrir muito.

Mas sonha com seriedade como hás de sair do pior. De todos os piores. Para que nenhum te encontre perdido e que, assim, de todos eles tenhas força e coragem para dar um salto de fé.


José Luís Nunes Martins

quinta-feira, 27 de junho de 2024

Deus revela-Se em ti.



Deus revela-Se em ti. Nessa tua capacidade de amares quem já não se sente amado. Nessa tua capacidade de abraçares quem já não sabe a quem pode recorrer.

Deus revela-Se em ti. Revela-Se em ti quando tu escolhes quem ninguém escolhe. Quando tu escolhes quem já nem tem confiança no que é e faz.

Deus revela-Se em ti. Nessa tua capacidade de não desistires dos recomeços. Nessa tua vontade em quereres ser pão partido e repartido. Em quereres ser alegria abundante e divina.

Deus revela-Se em ti. Revela-Se em ti quando permites que a Sua palavra encarne em empatia, compaixão e misericórdia. Quando tu escolhes aliviar pesos e sentir que todos são amados, acolhidos e abraçados.

Deus revela-Se em ti. Revela-se em ti quando o mais importante para ti é a pessoa. Quando vives obcecado em permitir que o outro seja. Inteiro. Feliz. Digno!

Deus revela-Se em ti. Mesmo quando não estás numa Igreja. Mesmo quando não tens resposta para tantos gritos de dor e desesperança. Mesmo quando o Seu silêncio parece ensurdecedor.

Deus revela-Se em ti. Pelo Espírito. Pela ação. Pelo dinamismo. Pelo amor que podes dar e ser.

Jesus ao deixar-nos o Seu Espírito convoca-nos a colocar em prática o que Ele é. Por isso, deixa-nos o convite e o desafio de apresentarmos o Deus Pai com entranhas de Mãe, através do que somos.

Deus revela-Se em ti. Consegues perceber a beleza e o poder que tens em ti?

Hoje, antes de esperares por uma revelação mística, questiona-te: estou à espera de quê? Estou à espera de quem?


Emanuel António Dias

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Ser leve...



Um destes dias, li algo como: "segue leve, a vida é um sopro".

Fiquei presa ali por instantes... a pensar no que posso trazer de leveza à minha vida.

E a verdade, é que no rodopiar do dia a dia, há momentos que nos escapam e nem percebemos como eles o podem tornar mais leve e luminoso.

Quantas vezes terminamos o dia a pensar em tudo o que foi exigente, que nos deixou desconfortáveis, insuficientes, enfim... e esquecemo-nos de agradecer; agradecer pelo tudo e pelo todo que conseguimos viver. Pela simples dádiva de respirar; pela coragem, pelo amor, por todos os momentos que sorrimos e fizemos sorrir.

Ser leve... talvez seja olhar para tudo com beleza e com verdade. Beleza e verdade perante o que sentimos e vivemos.

Sem negar o que somos, a nossa essência e a nossa perspetiva perante a vida.

Ser leve... talvez seja viver com atenção. Atenção ao que nos faz sentir em paz. Ao que nos faz sentir em casa.

Ser leve... talvez seja viver em gratidão. Por cada momento, por cada acontecimento, mesmo aqueles que nos tiram o chão. Tantas vezes são esses que nos fazem levantar e seguir em frente.

Ser leve... talvez seja deixar ir...deixar ir o que não nos acrescenta. Deixar ir o que nos limita. Deixar ir o que não nos torna completos. Jung, já dizia " mais vale ser completos, do que ser perfeitos".

Ser leve... talvez seja também vermo-nos como perfeitos, em plena aceitação de nós mesmos, conscientes da nossa individualidade.

Ser leve... talvez seja tirarmos os olhos do nosso quintal, levantarmos a cabeça, olharmos para quem nos rodeia, para as suas feridas e colocarmo-nos ao caminho, lado a lado, mesmo que em silêncio.

Ser leve... está nos olhos de quem vê, no coração de quem sente. Na capacidade de cada um em transcender a vida, aceitando-a com o seu valor sagrado.

Sê leve, "a realidade é o gesto visível, das mãos invisíveis de Deus" (Fernando Pessoa)


Carla Correia

terça-feira, 25 de junho de 2024

Às vezes, é sobre o amor





Às vezes, tantas vezes, não é sobre as coisas grandes.

Às vezes, tantas vezes, é sobre as coisas simples.

Todos os dias.


Às vezes, é sobre aquele abraço mais demorado.

Às vezes, é sobre aquela mão a confortar. A abrigar.

Às vezes, é sobre aquele olhar mais fundo, a ver o que quase ninguém vê, a olhar de verdade: a olhar a alma.

Às vezes, é sobre aquele sorriso do coração, que salva aquele dia cinzento.

Às vezes, é sobre aquele gesto de ternura, que quase parece que cura.

Às vezes, é sobre aquele colo que acolhe. Que ampara. Que serena.

Às vezes, é sobre aquela palavra dita com amor.

Às vezes, é sobre aquele silêncio que escuta com amor. Que diz tudo, sem ser preciso dizer.

Às vezes, é sobre aquela companhia que está, que fica, que se importa.

Às vezes, é sobre cuidar.

Às vezes, é sobre fazer sorrir.

Às vezes, é sobre mostrar (e ser) o lado bom, a parte bonita. Do mundo. Da vida. De tudo.

Às vezes, é sobre o amor. Todas as vezes.


Em todas as vezes, é sobre o amor.

O amor que vamos deixando pelo caminho. E encontrando também.


: Daniela Barreira


segunda-feira, 24 de junho de 2024

S. João Baptista

 


João Batista, além da Virgem Maria, é o único santo de quem a Liturgia celebra o nascimento para a terra. João, como "Precursor" de Jesus teve, de fato, um papel único na História da Salvação. Filho de Zacarias e de Isabel, a sua vida não desabrochou por iniciativa humana, mas por dom de Deus a dois pais de idade avançada e, por isso, já sem possibilidade de gerar filhos. Situado na charneira entre o Antigo e o Novo Testamento, como Precursor, João é considerado profeta de um e outro Testamento. O paralelismo estabelecido por Lucas entre a infância de Jesus e de João Batista levou a Liturgia a celebrar o nascimento de ambos: o de Jesus no solstício de Inverno e o de João no solstício de Verão.


A festa do nascimento de João Batista leva-nos a pensar no amor preveniente de Deus e na importância das suas preparações para o acolhermos devidamente e com fruto. Deus prepara o nascimento de João: um anjo anuncia a Zacarias que a sua mulher, idosa e estéril, vai ter um filho, cujo nascimento alegrará a muitos; inesperadamente, o nome da criança não é Zacarias, mas João, cujo significado é: "Deus faz graça"; João é enviado a preparar os caminhos do Senhor, o "ano de graça" do Senhor, a vinda de Jesus. Como o agricultor prepara o terreno antes de lhe lançar a semente, assim Deus prepara os tempos e os corações para receberem os seus dons. É por isso que havemos de viver vigilantes, de estar atentos à ação de Deus em nós e nos outros, para a sabermos discernir no meio dos acontecimentos humanos e nas mais variadas situações da nossa vida. João ajuda-nos a estarmos atentos a Jesus e ao que Ele quer fazer em nós e no nosso mundo. João acreditou e indicou Jesus aos que o seguiam: "depois de mim, virá alguém maior do que eu... Eis o Cordeiro de Deus!"
Por todas estas razões, a festa de hoje é um dia de alegria para a Igreja. E, todavia, João foi um profeta austero, que pregou a penitência com uma linguagem pouco amável: "Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da cólera que está para vir? Produzi, pois, frutos dignos de conversão e não vos iludais a vós mesmos, dizendo: 'Temos por pai a Abraão!'" (Mt 3, 7-8). O profeta exortava a uma penitência que se torna alegria, alegria da purificação, alegria da vinda do Senhor.
A missão de João Batista é, de certo modo, a missão de todo o crente: preparar a vinda do Senhor, o que é mais do que simplesmente anunciar. É preciso por ao serviço de Jesus não só as nossas palavras, mas também a nossa vida toda.

Oração

S. João Batista, glorioso Precursor de Jesus, verdadeiro amigo do Esposo, ensinai-me o espírito de penitência e o amor da pureza para alcançar uma união, cada vez maior, com Jesus, o Salvador, e com Maria, sua Mãe. Ensinai-me a viver essa união em todos os momentos da minha vida, incluindo o meu apostolado em que procuro preparar, como vós, os caminhos do Senhor. Que a minha ternura por Jesus se torne, cada vez mais, semelhante à vossa. Ámen.


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domingo, 23 de junho de 2024

Quem é Jesus?

 


A vida pode ter momentos assustadores, momentos de inquietação e de crise em que perdemos o pé e sentimos que nos afundamos. Onde está Deus, nesses momentos? Ele “importa-se” connosco? A liturgia deste 12.º domingo comum garante-nos: Deus não abandona nem ignora os filhos e filhas que criou; Ele ampara-os com amor fiel, vigilante e criador. Ele vai sempre ao nosso lado, cuidando de nós, em cada passo da viagem da vida.

Na primeira leitura Deus revela-se a um crente chamado Job como o Senhor que domina o mar e conhece os segredos do universo e da vida. Nada na criação lhe é indiferente: Ele cuida de todos os seres criados com amor de pai e de mãe. Ao homem resta entregar-se nas mãos desse Deus omnipotente e cheio de amor, com humildade e com total confiança.
Na verdade, o Deus que criou tudo o que existe, que estabeleceu as leis que regem o universo, que conhece os segredos de cada uma das suas criaturas, que cuida de cada ser com cuidados de pai e de mãe, que mil vezes manifestou na história o seu amor e a sua bondade, não pode ignorar os problemas do homem, ou deixar que a humanidade chegue a um beco sem saída. Ele tem um projeto coerente, maduro, estável, irrevogável para o mundo e para os homens; Ele conduz-nos, através das armadilhas da história, ao encontro da realização plena, da Vida definitiva. Esta certeza deve colorir o nosso caminho de todos os dias com as cores da esperança. Somos homens e mulheres de esperança?

No Evangelho, Marcos propõe-nos uma catequese sobre a presença tranquilizadora e pacificadora de Jesus na viagem que a Igreja e os discípulos vão fazendo pela história. Com Jesus no barco, os discípulos estarão sempre aptos a enfrentar todo o tipo de tempestades; com Jesus no comando, eles sabem que a meta final da viagem não pode deixar de ser o porto seguro onde os espera a Vida verdadeira.
A intervenção de Jesus provoca o “temor” dos discípulos. No contexto do relato evangélico que escutamos neste domingo, o “temor” não significa o medo que paralisa, mas significa o reconhecimento de que Jesus é o Deus presente no meio dos homens e a quem os homens são convidados a aderir, a confiar, a obedecer com total entrega. Este “temor” é um “temor” bom, que é caminho para a fé. Também nós, como os discípulos que iam naquele barco, temos o coração tomado por esse santo “temor” que nos leva confiar totalmente em Jesus e a segui-l’O no caminho do amor até ao extremo, no caminho do dom da vida?

A segunda leitura Paulo convida-nos a olhar para a cruz e a contemplar o amor de Jesus expresso na entrega total da sua vida ao projeto do Pai em favor dos homens. Deus enviou o seu Filho para caminhar connosco e nos ensinar a viver no amor. É precisamente isso que move Paulo no seu apostolado: ele considera que a sua missão é dar testemunho desse amor, a fim de que todos os que escutam a Boa nova de Jesus possam viver como pessoas novas, libertas do egoísmo que escraviza e mata.
O objetivo de Deus é fazer aparecer o Homem Novo e a Nova Humanidade. Aos homens, é pedido que aceitem a proposta de Deus, que aceitem renunciar à vida velha do egoísmo e da escravidão e que aceitem nascer, livres e transformados, para o amor que nos torna livres. Como é que acolhemos esta proposta de Deus? Ela conta alguma coisa para nós?
Paulo, depois de ter encontrado Jesus, de ter aderido à sua proposta e de ter feito a experiência da liberdade e da Vida nova, tornou-se testemunha, diante dos homens, do projeto salvador e libertador de Deus para os homens. Cada homem e cada mulher que se encontra com Jesus e que faz a mesma experiência de Paulo, tem de tornar-se arauto das propostas de Deus e de anunciar aos seus irmãos, com gestos concretos, essa oferta de Vida nova e verdadeira que Deus nos faz. Nós, os que somos “de Jesus”, somos testemunhas, com palavras e gestos concretos, da Vida nova e da salvação de Deus?

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sábado, 22 de junho de 2024

MOVIMENTO SINDICAL EM JOGO DE QUALIDADE





Quem tem ouvidos, que oiça. Mesmo sem apóstrofo, popularmente soa a 'coiça', sem que isso venha de coicear ou de escoicear. É uma questão de fones, fonemas e aglutinações..., por aí. Mas presumo que possa haver quem, explorado por terceiros, dê uns pinotes dos diabos só para reprimir o frémito de lhes retribuir uns ‘coices’ bem certeiros. É uma tentação que pode saltar às águas-furtadas do mais paciente e franzino dos mortais. Não para o concretizar ao jeito dos solípedes, que solípede não é, claro está. Mas ao jeito dos bípedes ou dípodes: o leitor faça o favor de escolher o termo de que mais goste enquanto eu vou ali espreitar quem era aquele respeitável ministro que prometeu dar ‘um par de bofetadas’ a dois ilustres trabalhadores desta horta nacional! Dizia ele que esse ‘par de bofetadas’ iria fazer muito bem aos dois destinatários e também a ele próprio pelo facto de lhas dar!... Como isso não aconteceu, acho que foi um grande prejuízo para toda a humanidade, pois ficamos sem saber qual o troco a restituir segundo a cartilha da justiça de Fafe. Antigamente, assim terminavam as festas populares que se prezavam de o ser. Sem pancadaria, a festa não era festa, não ficava história para contar!... Para esclarecer, sobretudo aqueles que até pensam que o leite vem do pacote, solípede, segundo um senhor Regedor do antigamente - uma autoridade local da qual já não se ouve falar! – e a quem foi pedido que respondesse a um inquérito nacional sobre quantos solípedes havia na área da sua jurisdição, ele respondeu que só havia três, colocando em dúvida um outro, mas acabando por concluir que esse outro não era mesmo. Para ele, solípedes eram o senhor presidente da comarca, que viera morar para ali, o senhor prior e a senhora professora, pois eram os únicos que usavam sapatos de sola. O mesmo não poderia afirmar sobre o senhor presidente da junta, que andava sempre de tamancos, como ele, e, às vezes, andava descalço, a pobreza era grande.
Mas esta conversa de chacha vem a propósito de quê? Sim, a propósito de quê? Não se enerve, caro leitor, tenha calma. Estamos no Campeonato Europeu de Futebol. Antes de entrar no jogo, como sabe, é preciso aquecer. Por vezes, durante e depois do jogo, é que salta o testo a muita gente: enerva-se, protesta, reivindica, altera o nome ao árbitro e ao treinador, enfim, aquece os fusíveis sem qualquer fair play que o dignifique. Os atletas, esses, sofridos, tristes e cabisbaixos à espera de que os deixem em paz, costumam dizer que é preciso corrigir os erros e levantar a cabeça, com esperança. Assim é que é, a esperança é a última coisa a morrer!
Agora, depois deste meu aquecimento e de entrar no relvado, vejo o Papa Francisco a sair lesto, como Mister urbi et orbi, a chamar a atenção para dois grandes desafios que o “movimento sindical deve enfrentar e vencer”. Falando aos italianos, eis os esquemas táticos que ele propõe a todos para que o jogo sindical seja de qualidade e capaz de consolidar o bem comum:
“O primeiro é a profecia, e diz respeito à própria natureza do sindicato, à sua vocação mais verdadeira. O sindicato é expressão do perfil profético da sociedade. O sindicato nasce e renasce todas as vezes que, como os profetas bíblicos, dá voz a quem não a tem, denuncia o pobre “vendido por um par de sandálias” (cf. Amós 2, 6), desmascara os poderosos que espezinham os direitos dos trabalhadores mais débeis, defende a causa do estrangeiro, dos últimos, dos “descartados”. Como demonstra também a grande tradição da Confederação Italiana Sindical dos Trabalhadores, o movimento sindical vive os seus grandes momentos quando é profecia. Mas nas nossas sociedades capitalistas progressistas o sindicato corre o risco de perder esta natureza profética e de se tornar demasiado semelhante às instituições e aos poderes que, pelo contrário, deveria criticar. Com o passar do tempo, o sindicato acabou por se assemelhar demais com a política, ou melhor, com os partidos políticos, com a sua linguagem e estilo. E ao contrário, se faltar esta típica e diversa dimensão, até a ação no âmbito das empresas perde força e eficácia. Esta é a profecia.
Segundo desafio: a inovação. Os profetas são sentinelas que vigiam do seu lugar de observação. Também o sindicato deve patrulhar os muros da cidade do trabalho, como sentinelas que vigiam e protegem quem está dentro da cidade do trabalho, mas que vigiam e protegem também quem está fora dos muros. O sindicato não desempenha a sua função essencial de inovação social se vigiar só os que estão dentro, se proteger só os direitos de quem já trabalha ou está na reforma. Isto deve ser feito, mas é metade do vosso trabalho. A vossa vocação é também proteger quem ainda não tem direitos, os excluídos do trabalho, e até dos direitos e da democracia.
O capitalismo do nosso tempo não abrange o valor do sindicato porque se esqueceu da natureza social da economia, da empresa. Este é um dos maiores pecados. Economia de mercado: não. Digamos economia social de mercado, como nos ensinou São João Paulo II: economia social de mercado. A economia esqueceu-se da natureza social que tem como vocação a natureza social da empresa, da vida, dos vínculos e dos pactos. Mas talvez a nossa sociedade não compreenda o sindicato até porque não o vê lutar o suficiente nos lugares dos “direitos do ainda não”: nas periferias existenciais, no meio dos descartados do trabalho. Pensemos nos 40% dos jovens com menos de 25 anos, que não têm trabalho. Aqui na Itália. Deveis lutar contra isto! São periferias existenciais. Não o vê lutar no meio dos imigrados, dos pobres, que estão sob os muros da cidade; ou então não o compreende simplesmente porque às vezes — mas acontece em todas as famílias — a corrupção entra no coração de alguns sindicalistas. Não vos deixeis bloquear por isto. Sei que já há algum tempo vos esforçais nas direções certas, especialmente com os migrantes, os jovens e as mulheres. E isto que digo poderia parecer superado, mas no mundo do trabalho a mulher ainda é considerada de segunda classe. Poderíeis dizer: “Não, mas há uma empresária, aquela outra...”. Sim, mas a mulher ganha menos, é mais facilmente explorada.... Fazei alguma coisa. Encorajo-vos a continuar e, se possível, a fazer mais. Habitar as periferias pode tornar-se uma estratégia de ação, uma prioridade do sindicato de hoje e de amanhã. Não existe uma boa sociedade sem um bom sindicato, e não existe um sindicato bom que não renasça todos os dias nas periferias, que não transforme as pedras descartadas da economia em pedras angulares. Sindicato é uma linda palavra que provém do grego “dike”, que significa justiça, e “syn”, juntos: syn-dike, “justiça juntos”. Não há justiça juntos se não for junto com os excluídos de hoje”.
Quem tem ouvidos, ouça o voz do Espírito!...


D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 21-06-2024.

sexta-feira, 21 de junho de 2024

A vida acontece para além do que queremos



A vida não se compadece das tuas escolhas, dos teus desejos ou dos teus sonhos mais profundos. Acontece para além daquilo que tu és e daquilo que são os teus limites. Brinda-te com o que lhe convém, por muito que não te convenha a ti e aos teus timings.

A vida mostra-nos que não controlamos nada. Que o que é para nós acabará por nos perseguir até nos encontrar. Varrerá tudo e todos até que aprendas o que deves aprender. Obrigar-te-á a escutar a voz da tua alma e a ouvir correr o rio que passa no teu coração. Obrigar-te-á a ter tempo para o que ela quer e não para o que tu gostavas de ter ou ouvir. Deixar-te-á sem palavras, sem chão, sem alcance e vai turvar-te a capacidade de entendimento e de compreensão.

Noutras alturas vai surpreender-te com a bondade que devolveres aos outros e com os retornos que não imaginavas, algum dia, receber. Vai trazer-te pessoas boas, pessoas para amar, pessoas para aprender e pessoas para te dar colo. É nestes momentos que mais quererás agradecer-lhe.

Agradece-lhe também os momentos difíceis. Os tumultos que trouxeram aprendizagens e os que te fizeram duvidar de tudo e de ti. Tudo nos acontece por razões que só entenderemos se tivermos capacidade de curar por dentro. De olhar para o sangue que correu das feridas. As cicatrizes que vai deixar-te vão doer-te alguma coisa, mas vão trazer-te sentidos múltiplos e, quem sabe, fazer-te encontrar a tua missão neste mundo.

E que outra missão teremos senão a de aceitar a vida como ela for?

Nem sempre tudo como queres.

Nem sempre tudo como sonhaste.

Quase nada ao alcance do teu entendimento demasiado humano.

Mas sempre tudo com um propósito maior e mais alto.

Ainda vais a subir a montanha. Como é que queres ver o mar daí?

Ainda estás a nadar em águas profundas. Como é que queres ver a ilha daí?

Depois. Mais à frente. Um dia destes. O sentido que não encontras há de encontrar-te.


Marta Arrais

quinta-feira, 20 de junho de 2024

Dá-me, Senhor, um coração puro.





Volta e meia dou por mim zangada comigo mesma, ou melhor, com os meus pensamentos. Dou por mim a guardar rancor ou mágoas que em nada me acrescentam a não ser pesos. E tu amiga?

Já sentiste que deste o teu melhor e isso passou ao lado dos outros?

Já sentiste que fizeste tudo o que era necessário e mesmo assim não chega?

Eu já. Infelizmente, nem sempre me consigo contentar com o discurso tradicional ”dei o meu melhor!” como se isso chegasse. Pois, mas deveria chegar, não fosse eu exigente quanto às expectativas do ”melhor” que todos poderemos dar, inclusive eu!

Se calhar… sou demasiado exigente.

Se calhar… não devo esperar tanto.

Se calhar…não devia reparar tanto em ausências, protagonismos, e desculpas que és obrigada a aceitar sem que possas rebater para não ferir suscetibilidades.

Por isso a minha oração perene é: Dá-me Senhor um coração puro.

Um coração capaz de não guardar rancor perante as falhas dos outros.

Um coração capaz de espalhar amor perante as ausências dos que deveriam estar presentes.

Um coração puro para amar sem reservas, nem reparar em coisas que nada acrescentam.

Um coração capaz de olhar com amor para o protagonismo dos outros e a ouvir com paciência as lamúrias de quem encara a vida com amargura.

Senhor dá-me um coração puro!

Um coração semelhante ao teu.

E tu amiga, como está o teu coração?



Raquel Rodrigues


quarta-feira, 19 de junho de 2024

A felicidade vem de dentro



A minha vida depende muito mais do meu modo de ser do que das coisas que possuo.

A nossa liberdade possibilita-nos que escolhamos, não a nossa alma, mas a forma como a expressamos, como realizamos aquilo que nos é possível. Somos inteiros, mas cada um de nós é tão rico a vários níveis que a nossa identidade a cada momento pode ser diferente, sem que deixemos de ser quem somos!

A cada dia, eu escolho de que forma ser eu. Mais ou menos simpático, de entre aquilo que consigo; mais egoísta ou mais generoso, de entre aquilo que me é possível ser; confiar ou desconfiar dos outros, dentro dos limites do que não deixarei de ser eu próprio.

Na maior parte do tempo, acreditamos que a nossa alegria depende do que se passa à nossa volta, como se fossemos espelhos que apenas devolvem o que lhes aparece diante. Ora, nós temos a capacidade de ser fontes de bem (e de mal) para nós mesmos, como se fossemos fogo, capaz de iluminar os nossos caminhos e os dos outros, aquecer, orientar e até queimar o mal (ou o bem) que escolhemos.

Dois de nós, nas mesmas circunstâncias, escolhem ser de forma diferente. Há fracassos que a alguns destroçam e a outros lhes dão mais ânimo. A maneira como lidamos com o futuro, depositando mais ou menos confiança, é também uma escolha muito determinante para o nosso bem-estar. Centro-me no que de mau poderá acontecer e decido começar desde já a preparar-me? Ou foco-me no que de bom pode acontecer à minha volta, e sou feliz desde já só porque acredito no que está por vir?

Por maior que seja a desgraça que tivermos sido condenados a viver, ainda nos cabe, quer o queiramos quer não, escolher se isso é razão suficiente para desistirmos ou se ainda queremos lutar, apesar de tudo. Porque, afinal, somos tão cobardes quanto heróis. Cabe a cada um decidir-se.


José Luís Nunes Martins

terça-feira, 18 de junho de 2024

Caminhar à luz da Fé



Não quero ser a ave que se abriga no cedro majestoso.

Tenho medo da sombra e do frio.

Apavora-me o silêncio da montanha e a sua imensidão.


O sol, lá do alto do seu trono, queima a minha fronte.

O calor avassala o ritmo da passada da minha Vida.

A terra está seca, sem força, e já não acolhe a semente…


O mundo anseia pelo Reino de Deus!

Está sedento da Esperança que o trigo irradia.

MAS… não procura a Eucaristia!

A Semente é boa.
O Semeador é Cristo.
E eu? Onde estou eu nas parábolas de Jesus?
Quem sou eu enquanto a semente germina e cresce?


Senhor Deus,

Arranca do meu ser os ramos secos…

Rejuvenesce a terra árida que não dá fruto…

Faz-me pequena e fraca, para ser tudo o que sonhaste para mim.


E num devaneio sem fim,

que eu leve Jesus a todos e todos a Jesus,

como sombra que ama cada passarinho

que faz ninho na árvore que Tu plantaste.



Liliana Dinis,

segunda-feira, 17 de junho de 2024

O que é a felicidade?

 


Eis que chegam os Santos Populares! Muita festa pelas aldeias e cidades do nosso país. Parece que toda a gente é feliz...

Mas o que é a Felicidade?

A nossa sociedade propõe modelos de vida baseados na exterioridade, no consumo, no sucesso e no poder, oferecendo imagens de mulheres e homens perfeitos, de preferência famosos entre os seus pares ou até mesmo, num círculo mais alargado. É a lógica do mundo...

A felicidade não se alcança concentrando-se apenas em si mesmo, vivendo apenas no presente e sempre em festa. A verdadeira alegria não surge da emoção do momento, da acumulação de muitos bens ou de participações em eventos, mas de ter enraizado o coração num grande ideal a perseguir, a alcançar. Para os cristãos, esse enraizamento é em Alguém que nos ama gratuitamente, sem mérito algum, que satisfaz o desejo de paz profunda, de nos sentirmos aceites, compreendidos e amados pelo que somos e não pelo que deveríamos ser.

Os Santos que celebramos neste mês são exemplos deste seguimento que dá a verdadeira felicidade. Descobriram o segredo da felicidade autêntica que habita no fundo do coração e tem a sua fonte no amor de Deus.

Não é viver num mundo fictício sem problemas, mas viver a vida tal como ela se apresenta sem medo. Significa celebrar os sucessos, mas também aprender com os fracassos; viver relações com sentimento ricos, mas também deceções e, infelizmente, também traições; sentir-se amado e apreciado, mas também marginalizado; recomeçar cada vez que errar e saber pedir desculpas, saber perdoar, saber agradecer...

É deixar de se sentir vítima para se tornar protagonista da própria vida.

Quando pensamos na vida dos santos, geralmente a relegamos para uma conceção do espiritual abstrato. Lidar com a vida espiritual significa lidar com algo que não é concreto. Mas é um grande engano. Santo António, por exemplo, foi profundamente concreto. Não é por acaso que foi responsável por uma mudança nas leis relativas à usura e, portanto, à injustiça social. Foi um homem que abordou os problemas da sua época com um grande sentido prático e concreto.

Aprendamos pois, a valorizar verdadeiramente o exemplo dos santos.

Bons Santos Populares!


Paulo Victória

domingo, 16 de junho de 2024

Encerramento da Catequese



Hoje dia 16 de junho concluiu -se mais um ano de Catequese. Será uma boa ocasião para todos – catequistas, catequizandos e encarregados de educação – fazerem o balanço de mais um ano, vivido no desejo – espera-se! – de crescerem na fé! Final de uma etapa e início de outra de novos conhecimentos Cristãos.
Colocamos em vós a semente da fé em "Jesus Cristo", um pouco sobre tudo aquilo que sabemos sobre Cristo e sua mãe, Maria Santíssima, e esperamos que fiquem sempre em seus corações estes ensinamentos.
Lembrem-se sempre que a maior arma para tudo é o amor a "Cristo" e ao próximo. Quando estiverem tristes lembrem-se "Dele" e quando estiverem feliz também!
Sigam sempre seus mandamentos e trilhem sempre o caminho da verdade, do amor e da fé.
Apesar de serem pequenos, aprendemos bastante também. Sentiremos saudades, e não se esqueçam nunca que somos o Templo vivo de "Cristo".

Cristo os abençoe.



sábado, 15 de junho de 2024

A semente é a palavra de Deus

 



A liturgia do 11.º Domingo do Tempo Comum fala-nos de esperança. Lembra-nos que Deus é o Senhor da História e garante-nos que Ele nunca deixará de acompanhar os seus filhos na sua peregrinação pela terra. Ele só tem um objetivo: conduzir-nos ao encontro da Vida plena e definitiva, da felicidade sem fim.

Na primeira leitura, o profeta Ezequiel assegura ao Povo de Deus, exilado na Babilónia, que Deus não esqueceu a Aliança, nem as promessas que fez no passado. Apesar das vicissitudes, dos desastres e das crises que as voltas da História comportam, Israel deve confiar nesse Deus que é fiel e que nunca desistirá de oferecer ao seu Povo um futuro de tranquilidade, de justiça e de paz sem fim.

A lógica de Deus convida-nos a repensar a nossa forma de ver, de julgar, de atuar; convida-nos a mudar os nossos critérios de avaliação e a nossa atitude face ao mundo e face aos que nos rodeiam. Por um lado, ensina-nos a valorizar aquilo e aquelas pessoas simples e humildes que o mundo, por vezes, marginaliza ou despreza; ensina-nos, por outro lado, que as grandes realizações de Deus não estão dependentes das grandes capacidades dos homens, mas antes da vontade amorosa de Deus; ensina-nos ainda que o fundamental, para sermos agentes de Deus, não é possuir brilhantes qualidades humanas, mas uma atitude de disponibilidade humilde que nos leve a acolher os apelos e desafios de Deus. A nossa forma de “abordar” o mundo e a vida tem em conta essa “lógica de Deus”? Somos capazes de “ler” os sinais de Deus na simplicidade, na humildade, na pequenez que se faz dom a todos?

No Evangelho, Jesus compara o Reino de Deus com uma pequena semente, de aparência insignificante, mas capaz de mudar a paisagem do mundo. Ela cresce sem se fazer notada, sem dar nas vistas, sem publicidade, mas tem em si o dinamismo de Deus, um dinamismo capaz de fazer nascer um mundo novo. Esse Reino que Jesus, por mandato do Pai nos veio propor, é um presente de Deus para os seus filhos.

A referência à pequenez da semente (segunda parábola) convida-nos – como já o havia feito a primeira leitura deste domingo – a rever os nossos critérios de atuação e a nossa forma de olhar o mundo e os nossos irmãos. Os exemplos que a história da salvação nos revela não deixam margem para qualquer dúvida: é naquilo que é pequeno, débil e aparentemente insignificante que Deus Se revela. Deus está nos pequenos, nos humildes, nos pobres, nos que renunciaram a esquemas de triunfalismo e de ostentação; e é através deles que Deus transforma o mundo e faz acontecer a salvação. Sempre que nos deixamos levar por tentações de grandeza, de orgulho, de prepotência, de vaidade, estamos a ir em sentido contrário ao do Reino de Deus e estamos a frustrar o projeto de Deus. Temos consciência disto?

A segunda leitura recorda-nos que a vida nesta terra, marcada pela finitude e pela transitoriedade, deve ser vivida como uma peregrinação ao encontro de Deus, da Vida definitiva. O cristão deve estar consciente de que o Reino de Deus (de que fala o Evangelho de hoje), embora já presente na nossa atual caminhada pela História, só atingirá a sua plena maturação no final dos tempos, quando todos os homens e mulheres se sentarem à mesa de Deus e receberem de Deus a vida que não acaba. É para aí que devemos tender, é essa a visão que deve animar a nossa caminhada.

Tendemos a viver ao sabor do imediato e do momento, subalternizando as opções definitivas e os valores duradouros. É também uma cultura do bem-estar material: ao seduzir os homens com o brilho dos bens perecíveis, ao potenciar o reinado do “ter” sobre o “ser”, escraviza o homem e relativiza a sua busca de eternidade. É ainda uma cultura da facilidade, que ensina a evitar tudo o que exige esforço, sofrimento e compromisso: produz pessoas incapazes de lutar por objetivos exigentes e por realizar projetos que exijam esforço, fidelidade, compromisso, sacrifício. Neste contexto, a palavra de Paulo aos cristãos de Corinto soa a desafio profético: é necessário que tenhamos sempre diante dos olhos a nossa condição de “peregrinos” nesta terra e que aprendamos a dar valor àquilo que tem a marca da eternidade. É nos valores duradouros – e não nos valores efémeros e passageiros – que encontramos a Vida plena. O fim último da nossa existência não está nesta terra; o nosso horizonte e as nossas apostas devem apontar sempre para o mais além, para a Vida plena e definitiva. Como é que nos situamos perante a vida: como alguém que se limita a “aproveitar o momento”, ou como alguém que caminha de olhos postos na eternidade? Quais são as nossas prioridades?


www.dehonianos.org

sexta-feira, 14 de junho de 2024

APRE!... AINDA BEM QUE FOI APENAS UM SONHO!....



Mas olhem que acordei mesmo sobressaltado. Ao princípio, interroguei-me do que é que se trataria, tal era o aparato festivo. Mas tudo indicava ser uma festa dum batismo, e era mesmo, dum batismo aprincesado! Sonhei que havia convidados, muitos convidados, todos eles mui bem aperaltados e catitas. Os buriladores da moda capricharam com zelo e mestria. Os homens, enfardelados em marcas registadas e nos conformes, puxavam aquela atenção de boca aberta de quem os via passar. As senhoras, nada de trapinhos de trazer lá por casa, requintavam Dior, Prada ou Valentino...
Esta requalificação humana tão bem cinzelada, tão apurada quão demorada, não deixou cumprir os horários de chegar à igreja. Paciência, há tempo! O que é que isso importa, se fazer esperar sempre foi uma prerrogativa do poder e de quem se julga superior!? A festa era deles, pois então. E até que enfim, lá chega o aguardado cortejo, com toda a pompa e circunstância, mesmo que sem grande pressa. Naquele espaço ajardinado ao redor da igreja, mais uma e outra fotografia ritmavam o andamento do cortejo!...
O Pároco, depois de ter esperado, pacientemente, mais de hora e meia por toda aquela elegância, aproximou-se, sorridente. Cumprimentou a todos, delicadamente e de boa cara, mas de vísceras amordaçadas com o vinagre da indelicadeza sem qualquer pedido de desculpas. Qualquer Padre nunca tem razão perante quem se julga importante, superior e sem deveres.
As coisas lá se foram desenrolando conforme Deus e a criança foram servidos. E eis senão quando, a madrinha saca da sua bolsa de mão, bolsa de pele, uma vela encetada. Talvez já tivesse ardido sonolenta aos pés de Santa Bárbara, quando o trovão rolou, fez estremecer a casa e agitou os movimentos peristálticos da senhora, comentou alguém lá para o lado. Todos entenderam, desculpando, que a tarefa dos preparativos pessoais não deixou tempo para preparar a festa do homenageado. Além disso, uma vela é uma vela, e a criança nem repara nisso, casquinou um outro mais desempoeirado!
Mais depois, uma idosa senhora puxa de uma fieirinha de ouro branco para colocar no pulso da criança, após ser batizada. A fieira pendurava uma figa, uma ferradura, um chifre, e mais qualquer coisa dessa tralha... pois, não fosse o diabo tecê-las, pensaria ela. Para a madrinha, melhor seria ficar de bem com os dois, com Deus e o diabo, eles lá que se entendessem e deixassem a criança crescer escorreita e sem maleitas!
Não sei como teria decorrido o opíparo banquete. Se foi de caviar com maranho, tigelada e sericaia com ameixa de Elvas, se de cabrito estonado, com farófias e queijo fresco a finalizar. O que sonhei é que, se para o banquete tudo e todos davam sinais de estarem bem preparados, ninguém se preparou para participar na celebração do Batismo da criança. E era a criança o centro da festa! E era a criança que, no seu silêncio, reclamava mais diligência e atenção, mais testemunho dos seus familiares e convidados, centralizando a festa no essencial, vivendo-a de forma dignamente cristã. Mas, concluí, a sonhar, que foi tudo menos isso. Nem pais, nem irmãos, nem padrinhos, nem convidados, nem um sequer foi à comunhão ou manifestava jeito de saber estar e viver o momento. Ninguém respondia ao diálogo celebrativo. Não sei se alguém estava atento ao que se passava, tal era a preocupação dos figurantes consigo próprios, tal era a preocupação da pose para o fotógrafo!
Mas, dando mais uma volta ao sono, logo sonhei que, se isso acontecia num batizado, o que seria nos casamentos, quando se gerou o costume de, antes da celebração na igreja, se passar pela casa do noivo e da noiva para escorrichar uns largos copos e engarfar um substrato à medida.
Acordei mesmo sobressaltado. Há celebrações que são mesmo difíceis de digerir, mesmo sonhando!...

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano


Portalegre-Castelo Branco, 14-06-2024.

«É preciso mudar de vida», afirmou D. Antonino Dias, salientando que sociedade «precisa de saber, de ouvir e de por em prática» a mensagem de Fátima

 

Bispo de Portalegre-Castelo-Branco, presidente da Peregrinação Internacional Aniversária de junho, celebra, esta quinta-feira, 50 anos de ordenação sacerdotal


Fátima, 13 de jun 2024 (Ecclesia) – D. Antonino Dias, presidente da Peregrinação Internacional Aniversária de junho ao Santuário de Fátima, afirmou que a mensagem de Nossa Senhora é o que “mais o tempo” hoje “precisa de saber, de ouvir e de por em prática”.

“Vir a Fátima é deixar ecoar no silêncio de nós mesmos a mensagem da Senhora, é ponderar no coração tudo quanto ela nos disse e pediu, para agirmos em conformidade. Sem conversão vir a Fátima e regressar a casa pelo mesmo caminho, então Fátima não será Fátima”, disse o bispo de Portalegre-Castelo-Branco, na homilia proferida, esta quinta-feira, no recinto de oração do santuário mariano da Cova da Iria.

D. Antonino Dias explicou que Fátima, em primeiro lugar, “não é um muro de lamentações e dor”, mas acolhe e abraça “muita dor e lamentação”, porque “Fátima é festa”, a festa de perdão e misericórdia, de conversão e mudança de vida, a “festa de peregrinos na esperança”.

“Ninguém vem a Fátima para celebrar a festa da dor e do sofrimento sem sentido. Vimos para celebrar a festa da fé que dá sentido à dor e ao sofrimento”, afirmou.


“Sabemos que para muita gente a mensagem de Fátima não faz sentido, é a mais estranha das ideias, no entanto, constitui aquilo que mais o nosso tempo precisa de saber, de ouvir e de por em prática: É preciso mudar de vida.”
Foto Agência ECCLESIA/Arlindo Homem

A Peregrinação Internacional Aniversária de junho celebra a segunda aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos – Francisco e Jacinta Marto e Lúcia, a 13 de junho de 1917; o Santuário de Fátima recorda que “a Senhora mais brilhante que o Sol” insistiu na oração do Rosário e anunciou a vontade de Deus em estabelecer no mundo a devoção ao Imaculado Coração de Maria.

O presidente da celebração destacou que Nossa Senhora em Fátima fez apelos que “nunca é demais recordá-los” – “apelou à oração, ao sacrifício reparador e à emenda de vida – e fez “três pedidos concretos” relacionados com a devoção ao seu Imaculado Coração: “a oração quotidiana do Terço, a devoção dos cinco primeiros sábados, e a consagração da Rússia ao seu Imaculado Coração”.

“Rússia é o símbolo de muitas guerras que nos cercam e das quais precisamos de conseguir o fim também com oração e sacrifício; Rússia representa também todas as guerras que a natureza humana tem de travar com todos os seus inimigos da alma, sintetizados habitualmente na trilogia: mundo, demónio e carne”, desenvolveu.

O bispo de Portalegre-Castelo Branco, que celebra neste 13 de junho de 2024 os 50 anos da sua ordenação sacerdotal, explicou que Nossa Senhora na Cova da Iria falou da “dor de Deus”: “de Deus que é preciso consolar, de Deus que está muito ofendido. Veio dizer-nos que a causa desta dor de Deus é o pecado e o sofrimento dos homens”.

quinta-feira, 13 de junho de 2024

Coragem...



Coragem é agir com o coração. E agir com o coração não tem de ser um ato heróico ( embora também o seja). Talvez fosse bom que a coragem se torna-se "banal", não de banalidade sem sentido ou compromisso, antes pelo contrário, a coragem de sermos comprometidos com os nossos pensamentos e emoções. Comprometidos com a descoberta da nossa autenticidade.

Vou mais longe até, e falo da coragem de olharmos profundamente para as nossas vulnerabilidades.

Ainda me parece que nos dias de hoje, ser corajoso/a, implica não se mostrar frágil, imperfeito ou vulnerável.

Gostava mesmo de acreditar que está fora de moda, olhar-se para a coragem como" só sou corajoso/a se for para além dos ( meus) limites".

Coragem é falar honestamente sobre quem somos, sobre o que sentimentos, as nossas dúvidas e experiências.

Corajoso/a é conhecer-se a si mesmo/a; os seus medos, as suas vergonhas, o seu desamor.

Ser corajoso/a é pedir ajuda.

Ter coragem é dizer não sei, quando todos à volta, sabem de tudo, conhecem tudo, falam de tudo.

É avançar mesmo não sabendo o que está mais à frente. É ter a sabedoria de entregar e abrir o coração à vida.

"Coragem é caminhar suavemente no sentido daquilo que nos atemoriza" e mesmo assim, todos os dias acordar com esperança e fé no novo amanhacer.

Coragem é colocar limites. É cultivarmos a aceitação de nós mesmos. A nossa responsabilidade. Assumirmos o nosso caminho.

Coragem é ter a capacidade de recebermos de coracao aberto, pois só assim conseguiremos dar de coração pleno.

A coragem é algo que alimentamos e que cresce. A coragem é um ato de amor. Um ato de amor por aquilo que cada um de nós é. Pela verdade que habita dentro de cada um.

Só amando quem és, poderás amar verdadeiramente o outro. E só nesse caminho de amor, poderás encontrar verdadeiramente o sentido da tua coragem.


Carla Correia

quarta-feira, 12 de junho de 2024

A dor da impotência perante a dor dos outros


Passamos muito tempo a tentar ignorar, relativizar e desvalorizar as coisas que nos magoam. É um trabalho árduo mas que nos protege de pesos que nos tornam a mente cinzenta.

Mas quem nos protege do mal que fazem aos outros que são nossos?

O que fazemos à raiva, à ansiedade e ao medo de fazerem algo de mal aos nossos?

O que fazemos quando assistimos a injustiças, corações partidos, orgulhos feridos e tristezas daqueles que são nossos?

Vivemos uma cultura um pouco estranha, por um lado a uns é ensinado a “dar a oura face”, a tentar não responder nem agredir. A outros incute-se-lhes a lei da sobrevivência, do mais forte do “salve-se quem puder”.

E quem medeia isto? Quem prevalece?

Quantas vezes nos apetece levantar e ir ao encontro do outro para tirar satisfações e por tudo em pratos limpos? Mas depois temos medos das represálias, do que pensam de nós e dos rótulos que nos afetam e em especial afetam os outros que são nossos.

Quem tem filhos sabe bem do que falo. Sabe da dor que é ver filhos desmotivados com o ambiente da escola, com a falta de empatia de alguns professores, com os resultados e com uma tristeza que rapidamente se transforma num buraco. E confortamos com: “deixa lá, amanhã vai ser melhor”, mas na verdade é como uma lança que atravessa o nosso coração. Mesmo quando são mais velhos, não estamos imunes ao sofrimento que vivemos com a instabilidade que os nossos filhos vivem no trabalho, ora com chefes intragáveis, colegas de trabalho complicados e vida social precária. E sorrimos a disfarçar a angústia que vai cá dentro. Arrisco-me a dizer que sofremos mais com a dor dos nossos do que com a nossa maior dor. Sentimo-nos impotentes e incapazes de solucionar o que quer que seja.

Talvez tenha mesmo de ser assim, cada um no seu caminho, cada um com a sua dor, mas a verdade é que acho que nunca deixamos de ser Cireneus nem Verónicas e sofremos sempre ao ver a dor dos outros e essa dor…por mais que a mascaremos de palavras motivacionais abre chagas cá dentro.

E tu amiga, que dores carregas tu?



Raquel Rodrigues

terça-feira, 11 de junho de 2024

A vida nasce do amor




Se o amor não gerar vida, não é amor. Vida capaz de transbordar alegria a partir do mais íntimo da alma, vida capaz de ajudar a sarar as feridas mais extensas e os sofrimentos mais profundos.

O amor não funciona a dois. Ou os que se querem amar se abrem ao céu, ou então nunca se amarão. O amor ou se abre ou morre.

A nossa existência resulta do amor. A criatura que somos é chamada a ser criadora, amando e dando mais vida à vida, de todas as formas, desde uma simples alegria a quem está triste, passando pela presença junto de quem, de outra forma, choraria desamparado, até a compromissos maiores do que a nossa própria existência individual.

O amor alimenta-se da confiança. Quando amamos alguém não podemos obrigá-lo a aceitar o nosso amor. Esse reconhecimento e acolhimento só pode acontecer como um ato livre. O amor só pode ser oferecido, não imposto.

Reconhecer que sou amado é um ato de amor! Mas amar com verdade implica uma confiança ainda maior. Envolve que eu vá ao encontro do outro, que o escute com atenção e que atenda às suas necessidades, dando-me. E tudo isto sem qualquer garantia que serei sequer reconhecido ou valorizado.

Hoje, num mundo em que somos mais inspirados a duvidar do que a confiar, a preocupação mais comum é a de procurarmos ter provas de que somos amados. Ao contrário, são poucos os que arriscam amar, entregando-se a alguém que pode, de forma livre, não os aceitar.

O amor é uma vontade de vida, é o que faz a vida querer viver, prosperar e multiplicar-se ainda que nas circunstâncias mais adversas. O amor é uma forma de imortalidade que se eterniza acima de quem o escolhe e de quem por ele é abençoado.


José Luís Nunes Martins


segunda-feira, 10 de junho de 2024

Sempre, a fé...

 


A fé permite-me ser viajante ao longo do caminho da vida. Permite-me observar cada momento, percorrer o templo interior e ir aos lugares mais profundos, muitas vezes em silêncio.

A fé é quanto possa renascer e transceder de toda a experiência desafiante. Quanto possa crescer e perceber, mesmo que não seja no imediato, que na verdade somos ilimitados e que é apenas o nosso pessimismo, egoismo e medos que nos limitam a viagem.

A fé mostra-me que nós e o universo somos um. Que não há separatividade. Como uma gota que se completa no oceano.
É pela fé que compreendo que todos somos caminho e peregrinos. Que a cada passo dado a esperança instala-se como guia e ilumina a imensidão.

A fé é uma centelha que vive e permanece dentro de cada um. Que reconhece a nossa inteireza e fortalece em plenitude a nossa essência.

A fé é bússola. É o centro. É o religar no regresso a casa. O invisível na mão de Deus.


Carla Correia

domingo, 9 de junho de 2024

No Senhor está a misericórdia

 




O tema deste 10.º Domingo do Tempo Comum gravita à volta da identidade de Jesus e da comunhão que Ele deseja estabelecer com aqueles que se colocam na disposição de O seguir: fica claro que Jesus não tem qualquer aliança com o Demónio e com o poder do mal e que quer definir-Se pela sua relação de obediência com Deus Pai, à qual convida todos aqueles que se querem sentir parte da sua família.

No Evangelho, Jesus demonstra que, na sua atividade de libertação do poder do mal, não pode estar a pactuar com o Demónio, mas vem para libertar os homens e as mulheres de todos os tempos. Também nisso está a fazer a vontade de Deus e convida todos a fazer comunidade centrada na sua pessoa e decidida a construir um mundo que se baseie neste desejo de fazer a vontade de Deus.

O método para estabelecer uma relação de familiaridade com Jesus passa necessariamente por seguir o seu exemplo: é Ele o primeiro a fazer a vontade de Deus, mesmo quando isso acarreta incompreensão e rejeição do seu ministério. O cristão continua no mundo a missão de Jesus e tem como único horizonte fazer a vontade de Deus; esta é uma das petições do Pai Nosso, a oração que Jesus ensina a rezar: «Faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu». De que modo deixo que a minha vida seja modelada pelo cumprimento da vontade de Deus?

A primeira leitura traz-nos o diálogo de Deus com as figuras poéticas do primeiro homem e da primeira mulher, depois da queda. Este texto procura chamar-nos ao sentido da existência, deixando claro que todos somos chamados a não pactuar com o mal e a estar de sobreaviso diante das tentações do Maligno.

Diz-se que é comum a tendência para desculpabilizar, desresponsabilizar e autojustificar-se. Também neste relato se vê um contínuo passar da culpa para os outros personagens. Retomando as questões anteriores, poderá ser hora de assumir as nossas responsabilidades diante de Deus, sabendo que, como dirá o Salmo 129 (130), «no Senhor está a misericórdia e a abundante redenção». A autojustificação não é caminho; o caminho passa pela justificação trazida por Cristo na sua morte de cruz, para nos reconciliar com o Pai. Como lido com a culpa? Sou capaz de assumir a minha culpa diante de Deus, confiando na sua misericórdia?

Na segunda leitura, São Paulo mostra como as tribulações que sofre não abrandam o seu ardor missionário, que se caracteriza pela grande confiança em Deus e na vida eterna que há de conceder; duas grandes atitudes qualificam o ministério de Paulo: a esperança de estar unido com Jesus na ressurreição tal como o está na tribulação terrena e o desejo íntimo de estar em comunhão com os cristãos a quem anuncia o Evangelho de Jesus Cristo.

A atitude de Paulo diante das tribulações serve de modelo para os cristãos de todos os tempos, como atitude a conservar diante das provas e tribulações, quer derivem do exercício dos diversos ministérios na comunidade eclesial, quer se refiram a tantas outras situações que derivam do próprio “ser cristãos” no mundo contemporâneo. É antes de mais uma atitude de fé e de confiança que tem a eternidade como fim bem visível. A ressurreição de Cristo abriu caminho, para mostrar que a vida humana não se confina à vida terrena, mas é chamada à vida de comunhão com Jesus ressuscitado, sentado à direita do Pai. A fé na vida eterna deve continuar a iluminar o momento presente dos cristãos. Que influência tem a fé na forma como olho o mundo?


https://www.dehonianos.org/

sábado, 8 de junho de 2024

Somos todos Crianças.





E nem sempre significa que é bom.

Às vezes soltamos a criança birrenta que temos em nós.

Às vezes amuamos quando não gostamos do que nos dão, ou que nos contrariem.

E solta-se a adolescente que tem a mania que não precisa de ninguém.

E solta-se o jovem que quer aventura, mesmo que não seja o tempo para tal.

Voltando à criança. Quando dizemos” todos temos uma criança dentro de nós” é bem verdade. Damos por nós com os olhos a brilhar perante a fantasia e a gostar de colo.

Mas também é verdade que por vezes parecemos crianças a amuar porque o amigo não brincou comigo (em linguagem adulta: alguém que te ignorou).

Ou então, esperavas um brinquedo e deram-te uma peça de roupa (em linguagem de adulto: estavas à espera de ouro e saí estanho).

Há! Que linda a criança dentro de nós, desde que esteja bem disposta, dê muitos mimos e respeite tudo o que os outros querem que faça.

Caso contrário: Irra! “Rais parta a canalha!”

Por isso, se todos temos uma criança dentro de nós... talvez tenhamos que a soltar para brincar ao ar livre, dar-lhe muito mimo e dar-lhe alguns raspanetes. O resto, a adolescência vai encarregar-se de saborear, a juventude de viver e os adultos de recordar.

E tu amiga, como está a criança dentro de ti?


Raquel Rodrigues


BERNARDO DE VASCONCELOS É DE SE LHE TIRAR O CHAPÉU



Não para lho roubar, até porque, além de ser um gesto de mau gosto, de incitar perseguição, paulada e prisão, não sei se Bernardo usava chapéu. Que os havia, havia, basta recordar o filme ‘A Canção de Lisboa’, em que Vasco Santana, o Vasquinho da Anatomia que enganava as tias do Norte, arreliado, dizia que sim, que os havia, e muitos. Aqui, dizendo que este jovem é de se lhe tirar o chapéu, é dizer que é digno de uma saudação reverencial, com reverências muito mais solenes que as prestadas a Luís XIV, o Rei-Sol.
Há gente que, se chega às reuniões, só chega a tempo de se ir embora. Chega tarde e apressado como se viesse dum trabalho inadiável, perturba, e logo mostra na palma das mãos a muita pressa que traz nos bolsos: tem de sair antes de a reunião acabar!... Também há quem nasça e logo parta, com pena sua e de quem fica. No entanto, se não entendemos bem tal pressa, e, até, aos olhos humanos, nos pareça injusta e descabida, existências há, que, enquanto viveram e conviveram connosco, tornaram a sua presença exemplar, estimulante, deixando aquelas saudades que são a memória do coração. Uma dessas pessoas é este celoricense de que falo e de quem se falou no 5º Congresso Eucarístico Nacional em Braga, na semana passada. Ele participou, há cem anos, no primeiro desses Congressos, com uma conferência sobre ‘O Ideal Cristão’. Foi patrono dos jovens da Arquidiocese de Braga na Jornada Mundial da Juventude 2023, em Lisboa. Sempre recusou ser fotocópia fosse de quem fosse. Sempre rejeitou viver ao estilo dos cataventos ou de cana agitada pelo vento. Sempre entendeu que a vida é um dom e deve ser vivida com alegria e responsabilidade. Era um jovem que sonhava, um jovem jovem, não um jovem cansado e velho sempre pendurado em cigarros e a querer fintar a vida por becos escuros e quelhas tortuosas. Embora não tenhamos nada a ver com quem age assim (às vezes não sei se não temos mesmo!), embora isso, isso faz-nos sofrer silenciosamente, até porque, regra geral, quem por aí enfileira não ouve ninguém nem aprende com quem, por esses caminhos, já se esfarrapou todo e partiu a cabeça contra a parede. Bernardo era um jovem à procura de um ponto de apoio para virar o mundo, um jovem espião do futuro. Um jovem em constante busca de sentido para a sua vida e em contínua procura do seu lugar no mundo para melhor servir a comunidade humana. Quando os jovens forem aquilo que devem ser, ‘eles pegarão fogo ao mundo inteiro’, afirmava São João Paulo II, reforçando esta afirmação com palavras de Santa Catarina de Sena, Padroeira da Europa. E a Europa precisa mesmo de jovens competentes e saudáveis, de jovens de mangas arregaçadas, de olhos abertos e pé ligeiro, sem teias de aranha na cabeça e no coração. De jovens que se empenhem com coragem na sua missão, sem abandonarem o seguimento de Cristo, o único que é capaz de fundamentar, promover e satisfazer plenamente os seus desejos de liberdade, de felicidade e de bem-estar, para si, para todos e com todos. De jovens felizes, com sensibilidade e competência no campo político, social, económico, artístico e cultural, sempre no respeito pela liberdade religiosa de cada um. De jovens que defendam que se deve dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus, mas que também não esqueçam que se Deus dá a César o que é de César, também César deve dar a Deus o que é de Deus.
Jesus dividiu a História no antes e no depois d’Ele, deu sentido à História, suportou as agruras da paixão e da morte para que a História, individual e coletiva, se construísse sobre os alicerces da justiça e do amor, sem armas nem prepotências, sem egoísmos nem maldades. E ensinou-nos o caminho para que isso pudesse acontecer naturalmente. Ele próprio, apresentou-se como o caminho: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Feliz a pessoa que o reconhece quando Ele se faz encontrado, o aceita como companheiro de viagem, o sabe escutar no que Ele tem para lhe dizer e descobre quão preciosa é a sua ajuda, sem que Ele apresente fatura. Sempre ouvi dizer que o jovem que se ama a si próprio precisa de boas companhias, busca valores e santidade no meio das suas irreverências e traquinices saudáveis, ama os outros e serve responsavelmente, sabe que a santidade é sempre jovem, um desafio constante. A juventude de Deus é eterna, sempre atual e atuante.
Bernardo Vaz Lobo Teixeira de Vasconcelos, mais conhecido por Frei Bernardo de Vasconcelos, nasceu a 7 de julho de 1902, na Casa do Marvão, freguesia de São Romão do Corgo, concelho de Celorico de Basto, o sétimo de oito irmãos. Foi batizado a 5 de agosto do mesmo ano, na igreja matriz de São Romão do Corgo. De saúde débil, mas de caráter dócil, foi crescendo, como todas as outras crianças, na sua aldeia natal. Fez estudos em Lamego, em Coimbra e no Porto. Como estudante universitário em Coimbra, filia-se no Centro Académico da Democracia Cristã (CADC), do qual veio a ser vice-presidente, sendo também nomeado secretário da Redação da revista Estudos. Revela conhecimentos bíblicos, teológicos e místicos. Funda a Liga Eucarística para estudantes universitários, da qual foi presidente. Inscreve-se na Conferência Vicentina, em Coimbra, da qual também acaba por ser responsável por algum tempo, participa como maqueiro, numa peregrinação nacional a Lourdes. Entre os retiros que fez, o do Luso, orientado pelos jesuítas, foi para ele marcante. Em Coimbra, que tem mais encanto na hora da despedida, Bernardo, que alimentava a ideia do casamento e teve namorada, depois de uma longa caminhada de discernimento, com um ombrinho de alguns ilustres cireneus, deixa-se surpreender por Deus e decide, com liberdade e entusiasmo, ser monge beneditino. Entra no Mosteiro de Singeverga, inicia o postulantado, parte para a Abadia de Samos, Galiza, onde fez o noviciado e recebe o hábito beneditino, tomando o nome de Frei Bernardo da Anunciada. Em 1926 sai para a Bélgica, para estudar Teologia na abadia de Mont-César-Lovaina. Uma doença, o Mal de Pott, porém, fê-lo regressar ao Porto, obrigando-o a trepar o seu calvário durante seis anos, passando ainda pela comunidade da Falperra, em Braga, mas grande parte do tempo pelos hospitais e casas do Porto e Póvoa de Varzim. Não dá mau tempo, dá testemunho da sua fé, uma fé bem provada pela doença. Escrevia com arte e beleza, foi poeta e monge, um místico, a quem se atribui oito livros, sendo um dos mais significativos o “Cântico de Amor”. Como doente, participou numa peregrinação a Fátima e noutra ao Sameiro. Faleceu na madrugada de 4 de julho de 1932, na Rua de São Bartolomeu, n.º 29, na Foz do Douro. Após as exéquias, foi provisoriamente sepultado ali, no cemitério local. Ainda nesse ano, foi trasladado para o cemitério de Molares, Celorico de Basto, para o jazigo duma família amiga. Desde 4 de julho de 1933, jaz na capela de Nossa Senhora das Dores, na igreja de S. Romão do Corgo, aldeia onde nasceu, foi batizado e cresceu. Em sua memória, existe um busto no adro da igreja de S. Romão do Corgo.
Depois de ter decorrido o respetivo processo, o Papa Francisco, em 14 de junho de 2016, assinou o decreto que declara Frei Bernardo ‘Venerável’, o primeiro passo em ordem à canonização. Periodicamente, chega-nos o Boletim promotor da sua canonização, dando-nos notícias e apelando à oração e à adesão a esta causa.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 07-06-2024.

sexta-feira, 7 de junho de 2024

O amigo que quero ser


Gostava de ser um amigo verdadeiro. Aquele de quem alguém se lembra quando um sofrimento o desgraça. Incapaz de alegria se tiver um amigo a passar pelos vales da tristeza.

Gostava de ter a coragem de dizer sempre a verdade aos meus amigos, por mais desagradável que seja, se isso lhes for útil. Mas sempre e só no tempo certo, sabendo escolhê-lo e esperando por ele.

Gostava de apoiar os meus amigos quando a vida lhes corre mal. Não importando de quem seja a responsabilidade. Queria ser o que está presente, respeitando a distância. Em silêncio, apenas afirmando a minha lealdade através da presença.

Gostava de ser capaz de dar abraços que fossem melhores do que as casas daqueles a quem os desse. E de ir onde fosse preciso para os entregar.

Gostava de ser um semeador de alegrias e um matador de medos no dia a dia daqueles cujas vidas se cruzem com a minha.

Gostava de ter sempre presente os sonhos dos meus amigos e contribuir para a sua concretização, na medida do possível, como se fossem meus.

Gostava de ajudar de perto, em vez de aconselhar ao longe. E que a minha ajuda fosse uma certeza. Tão certa como a vida querer viver.

Gostava de pedir ajuda, de agradecer e de pedir perdão. Sem esperar nada em troca, não reclamando pelo que não me agradecem nem pelos males que não assumem. Gostava de ser aquele que é capaz de perdoar até as deslealdades dos seus amigos!

Gostava de ser amigo de algumas pessoas que não me conhecem, e que não me passariam a conhecer ainda assim.

Gostava de amar os meus amigos, sempre. Não pelas suas qualidades, mas tão-só por serem amigos que escolhi.

Gostava de preencher as necessidades do outro, mais do que procurar eliminar os meus vazios.

Gostava que o meu abraço pudesse ser um abrigo seguro no meio de uma qualquer tempestade.

E, entre ser amigo de muitos ou de poucos… creio que se fosse de poucos já seria alguém extraordinário!


Emanuel António Dias

quinta-feira, 6 de junho de 2024

E se a Eucaristia fosse a mesa da (nossa) Vida?



“Veio o Filho do homem, que come e bebe, e dizeis: Eis aí um glutão e um beberrão,amigo dos publicanos e pecadores.”

Lucas 7,34


Jesus, o Nazareno, glutão e beberrão. Jesus, o Cristo, conhecido como aquele que se reúne, à volta da mesa, com todos. Amigo dos sem amigo. Próximo dos que se apresentavam inteiros. Íntimo dos que tinham fome e sede de Vida.

Jesus encontrou-Se à volta da mesa e, por isso, decidiu que o seu memorial teria de estar relacionado com a refeição: o pão partido que relembra a sua vida doada e o vinho partilhado que relembra a alegria da novidade e do recomeço.

Jesus comia e bebia para entrar no concreto das vidas. Jesus comia e bebia para conhecer de perto o que alimentava a alma de tantos homens e mulheres. Jesus comia e bebia, porque sabia que à volta da mesa partilhava-se a refeição da vida. É ali, à volta da mesa, que partilhamos as alegrias, as tristezas, as conquistas, as derrotas, as dúvidas, as angústias e as dores. É ali, à volta da mesa, que recordamos o que fomos, o que somos e o que podemos vir a ser. É ali, à volta da mesa, que nos apercebemos quem dá sabor à nossa vida. É à volta da mesa que recordamos porque somos amados!

E hoje, o que celebramos à volta da mesa? Quem se senta ao redor da Sua mesa? Quem convidamos para partilhar da Sua refeição? Quem recordamos à volta da Sua mesa? Com quem e por quem partilhamos o Seu pão e o Seu vinho? O que partilhamos à volta da mesa?

A Eucaristia não é para colocar de parte a nossa vida. A Eucaristia é para ser adensada com a vida de todos e todas. A Eucaristia é para ser temperada com a nossa inteireza. A Eucaristia é para ser mesa: espaço onde todos podem partilhar a sua fome!

Se a Eucaristia não transmite a intimidade e o exagero de Jesus, estaremos reunidos por Si e consigo?


Emanuel antónio dias

quarta-feira, 5 de junho de 2024

E se...


Olharmos com profundidade e amor para todos os momentos da nossa vida?
Se apreciarmos com compaixão cada experiência, o que ela nos traz e para onde nos leva?
Se escutarmos atentamente cada silêncio, o que ele nos diz e o que nos faz sentir?
Se aceitarmos humildemente as nossas fragilidades e crescermos com elas?
Se aceitarmos o outro, sem julgamento e sem critica?
Se abrirmos a porta do nosso coração à fé e à esperança?
Se abraçarmos quem nos chega de mãos fechadas?
Se oferecermos sorrisos?
Se acreditarmos que somos coragem e força no caminho?
Se plantarmos roseiras no nosso jardim?
Se redirecionarmos a bússola da nossa alma em direção ao sol?
Se fecharmos os olhos e sentirmos o vento?
Se abrirmos o gaiola e ganharmos asas?

A paz e a felicidade andam de mãos dadas. Sao estados de consciência que podemos trazer para a nossa vida todos os dias, a cada momento.

Talvez seja esta a grandiosa experiência da humanidade. Acreditar que é sempre possível ser a paz e levar a paz a cada lugar, começando dentro do nosso coração.

Temos o direito e o dever de vivermos em felicidade, pelo presente único da vida em si mesma.
Que desafio este! Que magia esta!

Que amor maravilhoso que nos sustenta e nos conduz.

E se tu acreditares que há uma luz interior que nunca se apaga, que brilha e ilumina?

Aí estás tu.

Aí está Deus.



Carla Correia

terça-feira, 4 de junho de 2024

O maior pecado é não fazer o bem


O mais condenável de todos os erros não é fazer o mal, mas sim deixar de fazer o bem.

É curioso que haja tantas pessoas que se julgam a si mesmas como justas só porque não fazem nada de mal. A verdade é que não são nem justas nem bondosas se não fizerem nada de bom.

Pior do que transgredirmos uma lei é não sermos tão bons quanto podemos ser.

O que tens feito com os dons que te foram dados e com as possibilidades que estão ao teu alcance? Esforças-te por dar ao mundo o melhor de ti?

É impossível amar de forma passiva. Quem ama tem de dar-se ao outro, enquanto também se abre a ele, aceitando sua dádiva de si mesmo.

Os pecados são mentiras. A indiferença é mentira. A inatividade é mentira. Todos nós somos verdade, pelo que temos o supremo dever de sermos fiéis a nós mesmos e fazermos tudo aquilo de que somos capazes.

Mas quem faz o bem vai sofrer? Sim, muito. Contudo, serão dores passageiras, bem diferentes das que sofrerão aqueles a quem um dia lhes for mostrada toda a sua vida que ficou por viver. Todo o bem: o que esteve ao seu alcance e o que decidiram não realizar. Não invejemos o sucesso de quem não ama… pois desconhecemos o seu fim.

O arrependimento é um dos infernos na Terra.


José Luís Nunes Martins