quarta-feira, 14 de agosto de 2024
Mas que há bons padres, há!
A vocação do sacerdócio, não será para quem quer. Muitos descrevem-na como um mistério, um chamamento, uma vontade repentina de seguir o exemplo de Jesus. E cumprem na prática essa vocação.
Devo sublinhar, numa espécie de declaração de interesses, que o presente artigo, não é escrito a pedido, ou até influenciado por terceiros, tendo em conta o meio profissional em que me movo. Mas é um texto justo e franco direcionado aos bons padres que a Igreja também tem. Em 13 anos de colaboração profissional de âmbito religioso, e como em todas as atividades e ofícios, reconheço que há padres que nunca deveriam ter seguido essa vocação, porque simplesmente não a têm, mas há aqueles, que me fazem ter vontade de escrever este texto.
A vocação do sacerdócio, não será para quem quer. Muitos descrevem-na como um mistério, um chamamento, uma vontade repentina de seguir o exemplo de Jesus. E cumprem na prática essa vocação.
Ora, se Jesus Cristo é o modelo do ministério sacerdotal, nada fará mais sentido do que um padre que cumpre a missão de bondade, respeito e não julgamento do próximo. Na exortação apostólica Pastores dabo vobis lançada a 25 de março de 1992 pelo Papa João Paulo II, é destacada a formação humana como base de toda a formação sacerdotal. “O princípio interior, a virtude que orienta e anima a vida espiritual do presbítero, enquanto configurado a Cristo Cabeça e Pastor, é a caridade pastoral, participação da própria caridade pastoral de Cristo Jesus: dom gratuito do Espírito Santo, e ao mesmo tempo tarefa e apelo a uma resposta livre e responsável do sacerdote” (p.23).
E efetivamente, há sacerdotes de uma bondade extrema, de um cuidado constante ao próximo, modernos, arejados de pensamento, porque no campo da interpretação dos cânones religiosos, as leituras são por vezes diversas e diferenciadas.
Estes padres têm rotinas intensas de trabalho e em meios interiores, cada vez mais paróquias são destinadas ao mesmo sacerdote, pela falta de homens que queiram seguir essa vocação. Atendem, ouvem e escutam os problemas de quem os procura, dando resposta veloz. Celebram, às vezes, a eucaristia, na presença de poucos participantes, sem por isso desmotivarem. Alguns são jovens, demasiado jovens até, e é lhes cobrado, principalmente em meios mais locais, em jeito de senso comum e mesmo que de forma não evidente, que não saiam à noite, que não bebam, que não sejam vistos de forma mais íntima com outras pessoas.
Os padres, mesmo que abraçando a vocação com toda a força e determinação, são antes de tudo, homens, e não é por isso de estranhar que alguns em Portugal, estejam agora a comunicar através das redes sociais, conquistando milhares de visualizações e likes. São talvez das classes profissionais, com mais sentido de humor, a seguir obviamente aos jornalistas. Basta assistir a um torneio de futsal do Clericus Cup, para se perceber o ambiente descontraído e de camaradagem saudável que se respira.
Não hesito a abraçar os padres de quem gosto e por quem tenho estima, cultivada ao longo destes anos. Uma vez em trabalho bati com o carro, numa pequena povoação. Não vi uma rocha, enquanto estacionava. Valeu-me um padre que não me conhecia de lado nenhum, que não só arregaçou as mangas para tirar o pneu, como foi a pé, chamar um mecânico para me ajudar.
O meu ar de aborrecimento por toda a situação contrastava com o seu ar de alegria em poder ajudar. Outros recordam-me de forma constante, nas suas orações. Orar por alguém, crente ou não crente, é um raro gesto de amor. Assim como é rara a dedicação de quem visita enfermarias ao longo de todo o dia, para ouvir, para rezar em conjunto, para aliviar a dor de quem sofre.
Os capelães hospitalares desempenham um trabalho notável, nem sempre reconhecido. Ouvem e guardam para si os últimos suspiros. Esta entrega total, de quem é constantemente solicitado (celebrando várias missas em dias da semana e particularmente ao domingo) é esquecida… e o tempo para acolher, que é necessário, é muitas vezes roubado.
Ainda assim, há vários exemplos em Portugal, de sacerdotes que criaram valências, associações de apoio aos mais necessitados. E no fim da vida, estes padres são amparados em seminários ou instituições religiosas diversas, mas não deixam também em alguns casos, de se sentirem profundamente sós e esquecidos.
Procuro entender por que motivos decidem ser padres. Não há desgostos amorosos, nem muitas vezes contextos familiares que o incentivem. É um mistério. Mas que há bons padres, há.
[@Liliana Carona]
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