Somos todos os reis da coragem quando estamos atrás do ecrã. Levamos bandeiras pouco discretas e arrancamos a pés juntos se não gostamos de alguma coisa que lemos ou vemos. Mais ainda, trucidamos qualquer pessoa caso não concordemos com ela, abalando esse território de guerra que assumimos ser nosso nas redes sociais.
De vez em quando leio os comentários que aparecem numa notícia polémica ou num post mais reivindicativo… é simplesmente assustador. Não só o conteúdo, mas a agressividade implícita nas palavras que se escrevem.
De onde é que vem esta atitude, e tão generalizada? Como é que nos tornámos estas pessoas que só apontam o dedo ao outro e, tantas vezes, de forma tão profundamente infundada?
A resposta é simples. Pelo menos a meu ver. Em primeiro lugar as pessoas, no geral, não têm um espaço seguro para expressar aquilo que sentem. Gerem mal a sua raiva, a sua frustração; e, como assim é, não conseguem deixar de a dirigir (ou de a disparar?) para todos os lados. De forma descompensada, gratuita e muito pouco inteligente. Este é também um espelho do quanto comunicamos mal uns com os outros. Alguém faz alguma coisa que não gostamos e, em vez de conversar com a pessoa em questão sobre isso, amuamos, fingimos que a pessoa não existe ou pensamos numa estratégia para lhe fazer o mesmo mais tarde.
Precisamos de uma reeducação ao nível das competências emocionais e sociais. Precisamos de tratar mais os outros como pessoas e não como perfis “vazios” nas redes sociais. Precisamos de julgar menos e de perguntar mais vezes se precisam de alguma coisa. Precisamos de contar até dez antes de responder quando estivermos irritados ou zangados. E precisamos de desenvolver um nível de simpatia razoável com as pessoas que se cruzam connosco todos os dias: no trânsito, nos transportes, no aeroporto, na escola, no trabalho, nas redes sociais.
Falamos tanto das guerras que se passam lá fora mas depois somos os primeiros a incendiar os outros com as nossas tochas de raiva mal gerida e mal guiada.
Nunca esta frase fez tanto sentido:
“Mais amor, por favor!”
Marta Arrais
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