domingo, 30 de novembro de 2025

Advento: acolher Cristo que vem


O Advento começou a ser celebrado em Espanha, no século IV. Principiava a 17 de dezembro e, provavelmente, era um tempo de preparação para o batismo de catecúmenos a 6 de janeiro, festa da Epifania do Senhor. Durante este tempo, os cristãos eram convidados a evitar penitências extraordinárias.


Em Ravena, na Itália, no século V, era um tempo dedicado à contemplação dos mistérios e, não tanto, à ascese. Os sermões de S. Pedro Crisólogo e as orações do Rótulo de Ravena orientam para a contemplação do Verbo Encarnado, da colaboração de Maria no Mistério e da espera de Zacarias e de Isabel.

Em Roma, já no século VI encontramos um tempo de preparação para o Natal, aí celebrado a 25 de dezembro. Era o tempo chamado “adventus“, palavra até então aplicada à vinda do imperador ou de outra personalidade. A Liturgia assumiu o termo, dando-lhe o significado de espera da vinda gloriosa e solene de Cristo, quando da sua aparição definitiva, no fim dos tempos. De qualquer modo, o paralelismo entre as duas vindas de Cristo, tão forte na atual Liturgia do Advento, é antiga.

Na Idade Média, foram introduzidos nas celebrações elementos tipicamente ligados ao mistério do Natal, tais como o cântico “Rorate coeli desuper” e as antífonas “O“, sínteses de alguns títulos cristológicos e da oração dos justos do Antigo Testamento. O Calendário Romano, renovado depois do Vaticano II, diz que “o Advento tem uma dupla característica: é tempo de preparação para a solenidade do Natal, em que se recorda a primeira vinda do Filho de Deus ao meio dos homens e, contemporaneamente, é o tempo em que, pela memória, o nosso espírito é orientado para a espera da segunda vinda de Cristo”. É, pois, um tempo de alegre espera, e não de penitência. A Liturgia atual guia-nos para a vinda do Senhor na carne, com a celebração da sua espera messiânica, sobretudo a partir de 17 de dezembro, tempo mariano litúrgico por excelência, imediata preparação para a festa do Natal do Senhor.

O Advento há de ser vivido com fervor de vida e de iniciativas, até pelo encanto popular que o Natal ainda suscita, apesar do perigo do consumismo. A comunidade cristã há de vivê-lo com atividades como: uma celebração penitencial adaptada ao tema da espera, como propõe o Ritual da Penitência; tempos de lectio divina dos textos bíblicos da Liturgia; tempos de oração a partir desses mesmos textos, para aprofundar o significado do Advento para os homens de hoje e para as nossas comunidades cristãs, dando amplo espaço aos jovens e às crianças. A presença e o exemplo de Maria no Advento podem também inspirar momentos de oração, usando, por exemplo, o hino Akathistos ou o “Angelus”. Pode incorporar-se nas celebrações a Coroa de Advento com as quatro velas e pode celebrar-se a novena do Natal, usufruindo dos ricos textos dos últimos dias feriais do Advento, e até integrando elementos da religiosidade popular.

O Advento não é um tempo fictício. É um tempo real. Com toda a verdade, podemos rezar as orações dos justos do Antigo Testamento, e esperar a realização das profecias, porque elas ainda não estão completamente realizadas em nós nem no mundo. Hão de sê-lo quando Cristo voltar em glória. No Advento, celebrando a Cristo que veio, na esperança de Cristo que virá, é decisivo acolhermos a Cristo que vem, agora, sobretudo na Palavra, nos Sacramentos e na Comunidade reunida em seu nome.

A espiritualidade do Advento é, pois, empenhativa: estimula-nos a receber a Cristo na fé, pois “a todos quantos O receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (cf. Jo 1, 12). O Advento também nos ajuda a recuperar a consciência de sermos Igreja para o mundo, reserva de esperança e de alegria para a Humanidade. Simultaneamente favorece a experiência de sermos Igreja para Cristo, Esposa que espera vigilante na oração e exultante no louvor do Senhor.

O Padre Dehon recomendou: “No tempo do advento… devemos entregar-nos à oração, ao recolhimento, ao silêncio, à meditação, para nos prepararmos para as grandes graças do Natal.” (ASC, p. 504).

Fernando Fonseca, SCJ

VIGIAI!



Iniciamos hoje a caminhada do advento. Ao longo dos próximos dias, passo a passo, iremos preparar o caminho para que Jesus possa vir ao nosso encontro e nós possamos reconhecê-l’O e acolhê-l’O quando Ele chegar. A Palavra de Deus que escutaremos nestes dias vai ajudar-nos a balizar esse caminho. A liturgia deste primeiro domingo do advento diz-nos: “vigiai”, “estai atentos”, “não vos deixeis adormecer”. Seria dramático se, por comodismo, por desleixo, por indiferença, por distração, perdêssemos a oportunidade de acolher Aquele que vem libertar o mundo e imprimir um dinamismo novo à história dos homens.

Na primeira leitura, o profeta Isaías partilha connosco o seu sonho da paz universal e da comunhão fraterna de todos os povos e nações. Trata-se de uma utopia ingénua e impossível? Trata-se de uma promessa de Deus; e as promessas de Deus não costumam cair em saco roto. Jesus, Aquele cujo nascimento celebraremos no final do advento, foi enviado por Deus ao nosso encontro para concretizar essa promessa.
A verdade é que, mais de dois mil anos depois de Jesus, a utopia sonhada pelo profeta Isaías, parece absurdamente distante… A história dos homens continua a ser manchada pela violência, pelo ódio e pelo sangue derramado; a humanidade continua a recorrer à guerra e ao conflito para resolver os diferendos; a ambição dos grandes do mundo continua a lançar as nações umas contra as outras; o diálogo entre as nações e os acordos de paz parecem, tantas e tantas vezes, contaminados por um cinismo atroz; a injustiça e a exploração continuam a fazer crescer, a cada momento, o número de homens e mulheres condenados a uma vida sem sentido e sem esperança; milhões e milhões de homens e mulheres continuam todos os dias a ser atirados para fora da história e abandonados nas bermas da estrada que a humanidade percorre… Jesus falhou, ou somos nós que nos recusamos a acolher as indicações que Ele nos veio dar? O que é que está a impedir ou a atrapalhar a chegada desse mundo de justiça e de paz que Isaías anunciou? Qual a nossa responsabilidade pessoal no “adiamento” desse mundo novo de paz, de justiça e de fraternidade? Que podemos fazer para que o sonho de Isaías – o sonho de todos os homens de boa vontade – se concretize?

Na segunda leitura, Paulo de Tarso avisa os cristãos de Roma – e os cristãos de todas as épocas e lugares – que o tempo está a passar e que se aproxima o dia da nossa libertação definitiva. Portanto, é altura de abandonarmos as “obras das trevas” e de nos revestirmos das “armas da luz”. O Senhor Jesus vai chegar; temos de estar preparados para o encontro com Ele.
Talvez sejamos pessoas generosas, de boa intenção e de boa vontade, que acolheram o chamamento de Jesus e que optaram por abraçar o projeto que Ele veio apresentar aos homens… No entanto, por mais verdadeira e sincera que tenha sido a nossa adesão a Jesus, temos que reencontrar-nos a cada passo com essa nossa opção inicial. Com o passar do tempo, com a monotonia, com o cansaço que a vida traz, com a preguiça que sempre nos espreita, temos uma tendência natural para “adormecer”, para cair na no comodismo, na passividade, na inércia. Então, deixamos correr as coisas e o nosso compromisso com Jesus e o Evangelho vai-se esbatendo. É uma tendência natural, que é preciso contrariar. Por isso, Paulo diz-nos: “acordai!; renovai o vosso entusiasmo pelos valores do Evangelho; é preciso estar preparado – sempre preparado – para acolher o Senhor que vem”. Mantemo-nos atentos, despertos, vigilantes, a fim de que a nossa vida seja coerente com os compromissos que assumimos, enquanto discípulos de Jesus?

O Evangelho traz-nos parte de um discurso de Jesus pronunciado diante dos discípulos, no Monte das Oliveiras, poucos dias antes da Sua paixão e morte. A indicação que Jesus deixa é clara: “Vigiai, estai sempre preparados, não vos deixeis distrair por futilidades, vivei atentos aos desafios que Deus vos lança, não esqueçais a Boa nova que vos propus, olhai com amor e misericórdia os irmãos que caminham ao vosso lado, empenhai-vos a cada instante na construção de um mundo mais justo, mais humano e mais feliz”. Para os discípulos de Jesus, o desleixo, a preguiça, a indiferença, o conformismo, não são opção.
Começamos hoje a nossa caminhada de advento. Não se trata de um “caminho” geográfico, mas sim de um “caminho” espiritual. Ao longo deste “caminho” preparamo-nos para acolher o Senhor que vem. Nesta primeira etapa do caminho do advento, a palavra-chave que a liturgia nos propõe é “vigiai”. Não podemos continuar distraídos, a perder tempo com coisas sem valor, a enterrarmo-nos na lama dos caminhos que não levam a nenhum lado, a deixar-nos enredar em interesses mesquinhos e fúteis. Se insistirmos em continuar a olhar para o chão, provavelmente iremos passar pelo Senhor que vem ao nosso encontro sem o reconhecer e sem o acolher. Talvez seja boa ideia fazermos uma lista das coisas que tolhem os nossos passos, que nos roubam a liberdade, que não deixam espaço no nosso coração para o Senhor que vem… Comprometemo-nos a elaborar essa lista? Iremos cortar da nossa vida tudo aquilo que nos impede de caminhar ao encontro de Jesus?

www.dehonianos.org

sábado, 29 de novembro de 2025

Papa convida a derrubar «muros do preconceito e da desconfiança» para travar guerras

 Missa em Istambul reforçou apelos ao diálogo e à unidade

Foto: Lusa/EPA


Istambul, Turquia 29 nov 2025 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje, na Turquia, à superação de preconceitos e discursos que promovem a violência, presidindo a uma Missa com a minoria católica do país.

“Queremos caminhar juntos, valorizando o que nos une, derrubando os muros do preconceito e da desconfiança, promovendo o conhecimento e a estima recíproca, para dar a todos uma forte mensagem de esperança e um convite a transformarem-se em operadores de paz”, disse, na homilia da Missa a que presidiu na Volkswagen Arena, em Istambul.

Usando o simbolismo da cidade turca, Leão XIV desafiou a comunidade católica a construir “três pontes” de unidade e condenou a violência em nome da religião.

“Vivemos num mundo em que, com demasiada frequência, a religião é usada para justificar guerras e atrocidades”, alertou, perante uma assembleia de cerca de 4 mil fiéis.

A celebração integrou línguas como o arménio, aramaico, turco e árabe, destacando a diversidade da comunidade católica e dos seus vários ritos, na região.

O Papa recorreu à imagem das pontes sobre o Bósforo, que unem a Ásia e a Europa, para ilustrar os esforços pela unidade, a vários níveis.

“Dentro da comunidade, nas relações ecuménicas com os membros de outras confissões cristãs e no encontro com os irmãos e irmãs pertencentes a outras religiões”, explicou.

Leão XIV destacou a riqueza da diversidade litúrgica na Turquia, onde coabitam as tradições latina, arménia, caldeia e siría, e defendeu que a unidade precisa de cuidado constante, tal como as infraestruturas físicas.

“Como as pontes sobre o Bósforo, ela precisa de cuidado, atenção, manutenção, para que o tempo e as vicissitudes não enfraqueçam as suas estruturas”, afirmou.

Numa liturgia celebrada na véspera da festa de Santo André, padroeiro da Igreja de Constantinopla, e no início do Advento, o Papa recordou a profecia de Isaías sobre a transformação de espadas em relhas de arado.

“Quão urgente parece hoje este apelo! Quanta necessidade de paz, unidade e reconciliação existe à nossa volta, dentro de nós e entre nós”, exclamou.Foto: Lusa/EPA

O Papa evocou ainda o legado de São João XXIII, “grande promotor e testemunha” do diálogo na Turquia, onde foi representante diplomático da Santa Sé, para renovar o compromisso ecuménico, lembrando a oração partilhada desta sexta-feira, em Iznik (antiga Niceia).

“A mesma fé no Salvador une-nos não só entre nós, mas também com todos os irmãos e irmãs pertencentes a outras Igrejas cristãs”, sustentou.

A celebração contou com a presença de fiéis de várias províncias, incluindo sobreviventes do sismo de 2023 vindos de Antioquia e Hatay, num ambiente que o vigário apostólico descreveu como “um novo cenáculo para um Pentecostes renovado”.

No final da celebração, o vigário apostólico de Istambul, D. Massimiliano Palinuro, agradeceu a visita do Papa àquela que definiu como “Terra Santa da Igreja”.

“Agradecemos, Santo Padre, porque, como verdadeiro Pontífice, construtor de pontes, nos encorajou com a palavra e com o exemplo a derrubar os muros da inimizade”, disse o responsável.

D. Massimiliano Palinuro agradeceu ainda a oferta de um cálice artístico e o dom da “casa dos peregrinos em Niceia”, um projeto iniciado pelo Papa Francisco e concretizado agora como sinal jubilar.

Este domingo, Leão XIV encerra a sua visita à Turquia e viaja para o Líbano, dando início à segunda etapa da sua primeira viagem apostólica, iniciada na quinta-feira, em Ancara.

OC

Coroa ou árvore do Advento


Iniciando o novo Ano Litúrgico (A), a Igreja nos apresenta o Tempo do Advento, que traz em si e quer suscitar em nós uma dupla característica: “um tempo de preparação para as solenidades do Natal, em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens e também um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se os corações para a expectativa da segunda vinda do Cristo no fim dos tempos. Por este duplo motivo, o Tempo do Advento se apresenta como um tempo de piedosa e alegre expectativa”. (IGMR n. 39)
Dentro deste contexto, muitos símbolos nos são oferecidos para colaborar em nosso itinerário espiritual rumo ao encontro com Jesus. Dentre eles, destacamos neste artigo, as “velas do advento”, apresentadas a nós dispostas em uma coroa ou em uma árvore (como na foto).
O número quatro na Bíblia, sempre traz a nós a ideia de preparação, de estrada de conversão, de humanidade a caminho. Recorda os quatro pontos cardeais, os quatro elementos (fogo, água, terra e ar), as fases da lua. Aos poucos a História da Salvação incorpora esses elementos cósmicos fazendo-os se encontrar com o tempo salvífico. Assim, as quatro velas passam a nos recordar os quatro domingos do Advento, as quatro fases da História da Salvação. O ato de acender gradativamente as velas vai trazendo a nós a ideia de luz que espanta as trevas e, conforme nos aproximamos de Jesus, mais luz temos em nosso caminho.
Originariamente as velas eram três de cor roxa e uma de cor rosa, as cores dos domingos do Advento: o roxo, para indicar o caminho de conversão e o rosa como sinal de alegria pela proximidade do nascimento de Jesus (usada no 3º Domingo do Advento, chamado de Domingo “Gaudete”, da alegria). Assim ainda utilizamos em nossa Catedral. Entretanto, há em alguns lugares, o costume de se utilizar cores diferentes para cada domingo, como roxa no primeiro, verde no segundo, rosa no terceiro e branco no quatro, mas sempre com a mesma intenção.
Frei Alberto Beckhäuser, em seu livro “Coroa do Advento – história, simbolismo e celebrações” nos traz que existem diferentes tradições sobre os significados das velas. Uma bastante difundida é que a primeira vela é do profeta; a segunda vela é de Belém; a terceira vela é dos pastores; a quarta vela é dos anjos.
Outra tradição vê nas quatro velas as grandes fases da História da Salvação até a chegada de Cristo. Assim: a primeira é a vela do perdão concedido a Adão e Eva; a segunda é a vela da fé dos patriarcas que creram nas promessas; a terceira é a vela da alegria de Davi pela sua descendência; a quarta é a vela do ensinamento dos profetas que anunciam a justiça e a paz.
Nesta perspectiva podemos ver nas quatro velas as vindas ou visitas de Deus na história, preparando sua visita ou vinda definitiva no seu Filho Encarnado, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo: o tempo da criação; o tempo dos patriarcas; o tempo dos reis; o tempo dos profetas.
Como dissemos, geralmente as velas são dispostas numa coroa, ornamentada com ramos verdes de pinheiros que demoram a secar, trazendo a nós a ideia da perfeição, completude, aliança em Deus e da esperança permanente do homem em sua misericórdia.
No exemplo da foto optamos por dispor as velas numa árvore seca, que, aos poucos (a cada domingo do Advento) vai tomando vida, ficando verde, florida e iluminada, como é o desejo para nossas vidas rumo ao Natal do Senhor.
Seja coroa, seja árvore, o importante é lembrar da importância da preparação para o Natal, de como somos secos e sem vida longe de Deus e como podemos ser fortes e iluminados com sua presença no meio de nós. Que tudo isso nos ajude a celebrar melhor o Advento e assim chegarmos radiantes no Natal do Senhor!


Celebrando a vida


𝐎 𝐀𝐝𝐯𝐞𝐧𝐭𝐨, 𝐨𝐫𝐢𝐠𝐞𝐦, 𝐞𝐬𝐩𝐢𝐫𝐢𝐭𝐮𝐚𝐥𝐢𝐝𝐚𝐝𝐞 𝐞 𝐜𝐞𝐥𝐞𝐛𝐫𝐚çã𝐨

O Advento (do latim Adventus: "chegada", do verbo Advenire: "chegar a") é o primeiro tempo do Ano litúrgico, o qual antecede o Natal. É um tempo de preparação e alegria, de expectativa, onde os fiéis, esperando o Nascimento de Jesus Cristo, vivem o arrependimento e promovem a fraternidade e a Paz. No calendário religioso este tempo corresponde às quatro semanas que antecedem o Natal.
Origem
A primeira referência ao "Tempo do Advento" é encontrada na Espanha, quando no ano 380, o Sínodo de Saragossa prescreveu uma preparação de três semanas para a Epifania, data em que, antigamente, também se celebrava o Natal. Na França, Perpétuo, bispo de Tours, instituiu seis semanas de preparação para o Natal e, em Roma, o Sacramentário Gelasiano cita o Advento no fim do século V.
Há relatos de que o Advento começou a ser vivido entre os séculos IV e VII em vários lugares do mundo, como preparação para a festa do Natal.
No final do século IV na Gália (atual França) e na Espanha, tinha caráter ascético com jejum, abstinência e duração de 6 semanas como na Quaresma (quaresma de S. Martinho). Este caráter ascético para a preparação do Natal se devia à preparação dos catecumenos para o batismo na festa da Epifania.
Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a segunda vinda do Senhor e passou a ser celebrado durante 5 domingos.
Só mais tarde é que o Advento passou a ser celebrado nos seus dois aspectos: a vinda definitiva do Senhor e a preparação para o Natal, mantendo a tradição das 4 semanas. A Igreja entendeu que não podia celebrar a liturgia, sem levar em consideração a sua essencial dimensão escatológica.
Surgido na Igreja Católica, este tempo passou também para as igrejas reformadas, em particular à Anglicana, à Luterana, e à Metodista, dentre várias outras. A igreja Ortodoxa tem um período de quarenta dias de jejum em preparação ao Natal.
O tempo do advento e suas características
O tempo do Advento é para toda a Igreja, momento de forte mergulho na liturgia e na mística cristã. É tempo de espera e esperança, de estarmos atentos e vigilantes, preparando-nos alegremente para a vinda do Senhor, como uma noiva que se enfeita, se prepara para a chegada de seu noivo, seu amado.
O Advento começa às vésperas do Domingo mais próximo do dia 30 de Novembro e vai até as primeiras vésperas do Natal de Jesus contando quatro domingos.
Esse tempo possui duas características: Nas duas primeiras semanas, a nossa expectativa se volta para a segunda vinda definitiva e gloriosa de Jesus Cristo, Salvador e Senhor da história, no final dos tempos. As duas últimas semanas, dos dias 17 a 24 de Dezembro, visam em especial, a preparação para a celebração do Natal, a primeira vinda de Jesus entre nós. Por isto, o Tempo do Advento é um tempo de piedosa e alegre expectativa. Uma das expressões desta alegria é o canto das chamada "Antífonas do Ó".
Espiritualidade do advento
A liturgia do Advento nos impulsiona a reviver alguns dos valores essenciais cristãos, como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a pobreza, a conversão.
Deus é fiel a suas promessas: o Salvador virá; daí a alegre expectativa, que deve nesse tempo, não só ser lembrada, mas vivida, pois aquilo que se espera acontecerá com certeza. Portanto, não se está diante de algo irreal, fictício, passado, mas diante de uma realidade concreta e atual. A esperança da Igreja é a esperança de Israel já realizada em Cristo mas que só se consumará definitivamente na parusia (volta) do Senhor. Por isso, o brado da Igreja característico nesse tempo é "Marana tha"! Vem Senhor Jesus!
O tempo do Advento é tempo de esperança porque Cristo é a nossa esperança (I Tm 1, 1); esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas, na vida eterna, esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante das perseguições, etc.
O Advento também é tempo propício à conversão. Sem um retorno de todo o ser a Cristo, não há como viver a alegria e a esperança na expectativa da Sua vinda. É necessário que "preparemos o caminho do Senhor" nas nossas próprias vidas, lutando incessantemente contra o pecado, através de uma maior disposição para a oração e mergulho na Palavra.
No Advento, precisamos nos questionar e aprofundar a vivência da pobreza. Não pobreza econômica, mas principalmente aquela que leva a confiar, se abandonar e depender inteiramente de Deus e não dos bens terrenos. Pobreza que tem n'Ele a única riqueza, a única esperança e que conduz à verdadeira humildade, mansidão e posse do Reino.
A celebração do advento
O Advento deve ser celebrado com sobriedade e com discreta alegria. Não se canta o Glória, para que na festa do Natal, nos unamos aos anjos e entoemos este hino como algo novo, dando glória a Deus pela salvação que realiza no meio de nós. Pelo mesmo motivo, o diretório litúrgico da CNBB orienta que flores e instrumentos sejam usados com moderação, para que não seja antecipada a plena alegria do Natal de Jesus.
Os paramentos litúrgicos(casula, estola, dalmática, pluvial, cíngulo, etc) são de cor roxa, bem como o véu que recobre o ambão, a bolsa do corporal e o véu do cálice; como sinal de recolhimento e conversão em preparação para a festa do Natal. A ínica exceção é o terceiro domingo do Advento, Domingo Gaudete ou da Alegria, cuja cor tradicionalmente usada é a rósea, em substituição ao roxo, para revelar a alegria da vinda do Salvador que está bem próxima. Também os altares são ornados com rosas cor-de-rosa. O nome de Domingo Gaudete refere-se à primeira palavra do intróito deste dia, que é tirado da segunda leitura que diz: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos, pois o Senhor está perto"(Fl 4, 4). Também é chamado "Domingo mediano", por marcar a metade do Tempo do Advento, tendo anologia com o quarto domingo do Tempo da Quaresma, chamado Lætare.

Celebrando a Vida

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

COM LEÃO XIV VIAJEMOS ATÉ NICEIA

Foi há 1700 anos que teve lugar o primeiro Concílio Ecuménico da história da Igreja. Nestes próximos dias, Leão XIV realiza a sua primeira Viagem Apostólica. Incluindo o Líbano, vai à antiga Niceia, hoje Iznik, na Turquia. Esta viagem, se pretende celebrar este acontecimento marcante na vida da Igreja, também procura promover o diálogo ecuménico e inter-religioso. Estão previstos encontros com os ortodoxos na Turquia e os muçulmanos no Líbano.
Em 325, o debate conciliar em Niceia procurava responder às questões levantadas por Ario. Este padre egípcio, de Alexandria, negava a verdadeira divindade de Jesus Cristo. Ensinava que Jesus, embora fosse a primeira e mais eminente criatura de Deus, não era Filho de Deus. As consequências deste desvio doutrinal eram enormes para os conteúdos da fé cristã, o seu cerne era posto em causa. Fiéis à Sagrada Escritura e à Tradição, os Padres Conciliares rejeitaram os ensinamentos de Ario e, baseando-se no credo batismal da Igreja local, redigiram um símbolo de fé, enxuto e claro, a conter a fé recebida, admitida e professada pelos cristãos desde a primeira hora. É o Credo Niceno-Constantinopolitano que ainda hoje rezamos, um património comum dos cristãos, a sua profissão de fé sempre atual.
A Igreja, porém, se é divina também é humana e pecadora. Os conflitos não acabaram aí, outros se desencadearam, já nesse tempo e ao longo da história, incluindo guerras, perseguições, mortes e discriminações em nome de Deus. A Constituição ‘Gaudium et Spes’ diz-nos que, nesta área, os cristãos não estão imunes de culpa nem de responsabilidades, “na medida em que, pela negligência na educação da sua fé, ou por exposições falaciosas da doutrina, ou ainda pelas deficiências da sua vida religiosa, moral e social, se pode dizer que antes esconderam do que revelaram o autêntico rosto de Deus e da religião” (GS19). Hoje, aqui e ali, infelizmente, não é muito diferente!
Leão XIV refere que o “caminho que se desenvolveu da Sagrada Escritura à profissão de fé de Niceia, à sua aceitação nos Concílios de Constantinopla e Calcedónia, passando pelo século XVI e chegando ao nosso século XXI, foi longo e linear”. No entanto, apesar da divisão dos cristãos, este Credo, universalmente vinculativo, constitui a profissão de fé comum a todas as tradições cristãs do Oriente e do Ocidente, bem como foi mantido no século XVI pelas comunidades surgidas da Reforma. Ainda hoje é fundamental para o diálogo ecuménico, propõe-nos “um modelo de verdadeira unidade na legítima diversidade. Unidade na Trindade, Trindade na Unidade, porque a unidade sem multiplicidade é tirania, a multiplicidade sem unidade é desintegração”. A divisão dos cristãos não testemunha o que Jesus desejou. Ele rezou para que todos fossem um, como Ele e o Pai são um. Por isso, a unidade dos cristãos sempre foi um desafio para a Igreja. O Concilio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965, publicou o decreto ‘Unitatis Redintegratio’ sobre o diálogo ecuménico e a necessidade de se promover a reconciliação e a unidade dos cristãos com base naquilo que é comum a todos. Em maio de 1995, na mesma linha de pensamento, São João Paulo II oferece-nos a Encíclica ‘Ut unum sint’, “considerada como um manifesto que atualizou os mesmos fundamentos ecuménicos estabelecidos pelo Concílio de Nicéia”. Ultimamente, a Comissão Teológica Internacional, a propósito deste aniversário do Concilio de Niceia, também publicou um importante documento sobre “Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador”. Baseado nele, Leão XIV, no dia 23 deste mês de novembro, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei do Universo, escreveu-nos a Carta Apostólica “In Unitate Fidei”, com a finalidade de “aprofundar a importância e a atualidade não só teológica e eclesial, mas também cultural e social do Concilio de Niceia”.
A resposta à pergunta que Jesus fez aos discípulos em Cesareia de Filipe continua a ser feita por Jesus a cada um de nós: “Quem dizeis que eu sou?” (Mt 16, 15). Da resposta que lhe dermos depende o estilo de toda a nossa vida cristã. Ou nos comprometemos a seguir Jesus como Mestre e Senhor, como companheiro, irmão e amigo, como Filho de Deus vivo que “pela nossa salvação desceu do céu e morreu ‘por nós’ na cruz, abrindo-nos o caminho para uma vida nova com a sua ressurreição e ascensão”, ou nos acomodamos ao rame-rame duma vida que assumimos como cristã mas que não passa dum ateísmo prático, sem amor à camisola nem compromisso com o mundo, a sociedade e a nossa própria conversão e santidade.
Leão XIV, no documento citado, propõe-nos o Credo de Niceia como guião para uma espécie de exame de consciência sobre o significado de Deus na nossa vida, como testemunhamos a fé n’Ele, como tratamos o que Ele criou e nos servimos do que nos ofereceu com tanto amor e entrega de si próprio.

D. Antonino Dias


quinta-feira, 27 de novembro de 2025

🌾 Ouvir a voz do vento



Em África, quando alguém chega com um problema, não se corre a dar-lhe uma resposta. Primeiro escuta-se. Escutam-se os anciãos, escuta-se o coração… e depois escuta-se o vento.
Chamam-lhe o tempo de mastigar palavras com Deus. É o tempo de deixar que o Espírito sussurre por entre as folhas, que a poeira assente, que a alma encontre o seu próprio passo. Ali, não se procuram soluções apressadas — procura-se sentido. Porque há dores que não se resolvem, apenas se atravessam. E no fim, não há uma conclusão, há uma estrada.
Aqui, no nosso mundo apressado, perdemos essa arte antiga.
Queremos respostas imediatas, curas instantâneas, atalhos para tudo.
Corremos a resolver o que mal compreendemos. Tomamos decisões no calor da pressa e, depois, admiramo-nos com o frio que fica. Esquecemo-nos de que um problema mal escutado renasce noutro lugar,
e que fingir que nada se passa não é sabedoria — é cegueira.
Os africanos dizem: “Os problemas não apodrecem com o tempo.”
E têm razão.
O que não se enfrenta, enraíza-se.
O que não se nomeia, apodrece por dentro.
O que não se escuta, transforma-se em ruído, e o ruído faz-nos surdos à voz do vento.
Talvez o que nos falta seja isto:
parar.
Parar, não para desistir, mas para discernir.
Para permitir que as nossas almas nos alcancem.
Para que Deus tenha tempo de nos dizer alguma coisa antes de falarmos nós.
A voz do vento não grita — sussurra.
E só quem abranda a consegue ouvir.
Ela sopra sobre as nossas confusões, sobre as dores e as escolhas,
e ensina-nos que nem tudo tem de ser decidido já.
Que há decisões que nascem do silêncio, e não da pressa.
Vivemos como se tivéssemos de chegar sempre a algum lado,
mas esquecemo-nos de perguntar se é lá que o coração quer ir.
Corremos — porque todos correm.
Produzimos — porque é o que se espera.
E, no meio da pressa, deixamos o coração para trás.
Mas quem ouve o vento, a Voz de Deus sabe:
há um tempo para agir e um tempo para escutar.
Um tempo para decidir e um tempo para deixar que a vida fale primeiro.
Talvez Deus fale assim — não em trovões nem em respostas prontas,
mas no rumor suave que passa quando paramos para O ouvir.
E é aí, nesse instante de calma,
que tudo começa a fazer sentido.


Padre João Torres


quarta-feira, 26 de novembro de 2025

🌅 É O FIM? TEMOS QUE DESISTIR? 🌅



A realidade de sermos e sentirmo-nos frágeis e a consciência de finitude perturbam-nos numerosas vezes.
Em tempos de crise, os projetos esvaziam-se, a esperança atrofia-se, a criatividade assombra-se... Tal situação gera insegurança, medo, impotência e experimentamos o fracasso.
O Evangelho põe a claro que, em todos os tempos, a história e o mundo manifestam sinais de crise, de sofrimento, de incerteza...
Jesus adverte-nos: «Não vos deixeis enganar, nem perturbar!»
Esse é o desafio — orientar o nosso olhar e o nosso coração para o essencial.
Os tempos difíceis não hão de ser tempos para lamentos, nostalgia ou desalento. Não é a hora da resignação, passividade ou demissão.
É hora de dizer: eu estou aqui!
É o momento de cultivar um estilo de vida cristã, paciente e tenaz, que nos ajude a responder a novas situações e desafios sem perder a paz nem a lucidez.
Olha as coisas positivas, o muito amor que a humanidade, apesar de tudo, consegue produzir. Olha para ti mesmo, o que conseguiste realizar em todos os anos da tua vida. Olha para o bem e para o belo que Deus criou em ti.
Olha e não desanimes. Não é o fim e não é hora de desistir.


Padre João Torres





terça-feira, 25 de novembro de 2025

Bispo D. Pedro Fernandes visita Castelo Branco pela primeira vez

 


O bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, D. Pedro Fernandes, realizou este domingo, 23 de novembro, a sua primeira visita oficial à cidade de Castelo Branco.
A jornada incluiu um concerto da Sinfonieta de Castelo Branco, seguido da celebração da Eucaristia na Sé Cocatedral, ambos momentos com forte adesão da comunidade. A visita visa reforçar os laços entre o novo bispo e os fiéis albicastrenses, numa iniciativa que marca simbolicamente o início da sua missão pastoral na região.
Esta deslocação insere-se no esforço de aproximação da Igreja às comunidades locais, num contexto de renovação e novos desafios pastorais.










 
Beira Baixa TV



segunda-feira, 24 de novembro de 2025

O Olhar que salva ✨


Uma das verdades mais profundas do cristianismo é esta: aquilo que salva é o olhar.
Simone Weil disse-o, e quem já foi verdadeiramente olhado sabe o que isso significa.
A adúltera não foi salva por uma lei, mas por um olhar. Zaqueu não foi transformado por um sermão, mas por aquele olhar que o encontrou na árvore e o fez descer — não da altura, mas do orgulho.
O olhar de Jesus não se resigna ao pouco de bom que há em nós: desenterra o melhor, mesmo quando já só resta pó. É um olhar que não acusa, que não mede, que não exige — apenas vê. E, ao ver, restitui à pessoa o direito de existir.
Olhar é um ato espiritual. É colocar o outro no centro da atenção, é dar-lhe um lugar no mundo. Por isso, é fundamental olhar nos olhos quem está diante de nós — sobretudo quem não gosta de nós, ou quem se perdeu de si mesmo. Porque há olhos que ferem e há olhos que curam.
O olhar precisa de ser purificado:
desarmado da posse,
lavado da agressividade,
curado da indiferença.
Só assim poderá voltar a ver o outro como mistério e espanto, não como ameaça ou utilidade.
Devemos ter cuidado com os olhos, porque o mal começa muitas vezes no modo como olhamos. Quem se deixou enganar pelo mal foi seduzido por uma falsa promessa de felicidade. E o olhar que salva é aquele que desmascara essa mentira, não com condenação, mas com compaixão.
Olhar e desnudar — não para expor, mas para libertar. Olhar e perdoar — para que a pessoa possa voltar a caminhar, ver a própria miséria e ainda assim acreditar que é amada.

Padre João Torres


domingo, 23 de novembro de 2025

Diocese de Portalegre-Castelo Branco celebra Jubileu dos Jovens


A Diocese de Portalegre-Castelo Branco celebrou o Dia da Juventude, que é também o Jubileu diocesano dos Jovens, com o tema ‘Ecos de Esperança’, no dia 22 de novembro, a partir das 09h00, em Portalegre.

“Esta proposta surgiu do coração dos jovens da Diocese de Portalegre-Castelo Branco que querem cumprir com os seus sonhos: o jubileu dos jovens da nossa diocese”, explicou o Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações de Portalegre-Castelo Branco.

Com o tema geral ‘Ecos de Esperança’, o Dia da Juventude da Diocese de Portalegre-Castelo, “que este ano é também o Jubileu dos Jovens”, é o “grande encontro de jovens”.

“Continuamos a caminhar unidos na Esperança e desejamos que o novo ano seja cheio de boas surpresas.”, assinalou o Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude e Vocações de Portalegre Castelo Branco, na sua página na rede social Facebook.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

O Dia diocesano da Juventude foi celebrado já com um novo bispo na Diocese de Portalegre Castelo Branco, D. Pedro Fernandes, que foi ordenado domingo, dia 16, pelas 15h00, na Sé de Portalegre.

“Os jovens de Portalegre-Castelo Branco, do seu novo bispo, podem esperar proximidade e disponibilidade; os jovens, parece-me, são absolutamente determinantes, não é só porque são o futuro, mas é porque são o presente e porque eles são a sinalização fundamental do nosso modo apropriado de estarmos num mundo contemporâneo”, disse o bispo eleito D. Pedro Fernandes, em entrevista à Agência ECCLESIA.


Gonçalo Rafael Gomes foi ordenado diácono


O seminarista Gonçalo Rafael Duarte Gomes foi ordenado diácono, dia 22 deste mês, na Sé de Portalegre.

A cerimónia foi às 15h30 e presidida por D. Pedro Fernandes, Bispo de Portalegre-Castelo Branco.

SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO

 



A “Festa de Cristo Rei” foi instituída pelo Papa Pio XI, a 11 de dezembro de 1925, através da Carta Encíclica “Quas Primas”. Ao instituir esta festa, Pio XI quis propor ao mundo – saído há pouco da tragédia da I Guerra Mundial e mergulhado ainda em contradições que pareciam insanáveis – o regresso a Cristo, o reconhecimento da soberania de Cristo sobre a História e sobre a vida dos homens, o reencontro da humanidade com os valores cristãos e com a paz que só Cristo pode dar. Celebrada inicialmente no último domingo de outubro, esta festa acabou mais tarde por fixar-se no último domingo do ano litúrgico.

A primeira leitura recorda-nos o momento em que David foi ungido como rei de todo o Israel. Com David iniciou-se uma época de felicidade e de abundância que ficou na memória de todo o Povo de Deus. O reinado de David tornou-se símbolo e anúncio de um tempo novo, de uma era de justiça, de bem-aventurança e de paz sem fim. O Povo de Deus vivia dessa esperança e aguardava ansiosamente a sua concretização.A escolha de David para reinar sobre as tribos que constituíam o antigo reino de Saul pareceu, aos anciãos de Israel que se apresentaram em Hebron, uma escolha óbvia, do ponto de vista humano e político. No entanto, a catequese de Israel vai mais além e faz questão de lembrar que David é o “escolhido de Javé”, aquele que Deus designou para “apascentar” o seu povo. Na Bíblia deparamo-nos a cada passo com a ideia de que Deus chama pessoas, confia-lhes determinadas tarefas, age através delas para moldar a história dos homens e concretizar o seu projeto de salvação. Nós também fazemos parte desta história. Como fez com David, também a nós Deus chama para desempenhar uma determinada missão no mundo. Estamos conscientes disso? Como encaramos e como concretizamos a missão que Deus nos confiou?

O Evangelho mostra a peculiar resposta de Deus à expetativa de Israel. Jesus é o “ungido de Deus”, o Messias-Rei enviado pelo Pai para inaugurar o reinado de Deus. Contudo, a realeza de Jesus soa estranha e paradoxal aos olhos do mundo: as armas que esse rei leva consigo são o amor e a misericórdia; a autoridade que esse rei reivindica é a do serviço simples e humilde; o trono que este rei ocupa é uma cruz onde Ele derrama o seu sangue em benefício de todos; os soldados que rodeiam esse rei são gente desarmada, que Ele irá enviar pelo mundo a anunciar o amor e a paz; os súbditos desse rei são todos aqueles que aceitam colocar as suas vidas ao serviço de Deus e dos irmãos. Decididamente, a realeza de Deus não funciona segundo a lógica dos grandes da terra.O evangelista Lucas convida-nos, na Solenidade de Cristo Rei do Universo, a olhar para a cruz onde agoniza Jesus, o “rei dos judeus”. Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude que Ele assumiu e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade. Olhar a cruz de Jesus significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste modo pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição. A contemplação da cruz de Jesus leva-nos ao compromisso com a transformação do mundo? A contemplação da cruz de Jesus faz com que nos sintamos solidários com todos os nossos irmãos que todos os dias são crucificados e injustiçados? A contemplação da cruz de Jesus dá-nos a coragem para lutarmos contra tudo aquilo que gera sofrimento e morte, mesmo que isso implique correr riscos, ser incompreendido e condenado?

Na segunda leitura, Paulo apresenta-nos um hino que celebra a grandeza universal de Cristo, aquele que tem soberania sobre toda a criação e que é a cabeça da Igreja. O hino exorta os crentes a fazerem de Cristo a sua referência e a viverem em comunhão com Ele. Por Cristo passa, indubitavelmente, o caminho que conduz à vida eterna.Existem questões decisivas que, mais tarde ou mais cedo, se nos colocam: como dar significado pleno à nossa existência? Como construir uma vida que valha a pena? Por que caminhos devemos andar, na viagem da vida, para não ficarmos atolados em becos sem saída? O que é que é essencial e o que é que é secundário, quando se trata de definir o eixo fundamental da nossa existência? Os cristãos de Colossos também se debatiam com estas questões; e, na sua ânsia de encontrar respostas, abriam portas a doutrinas estranhas e a propostas incompatíveis com o Evangelho de Jesus. Hoje, em pleno séc. XXI, numa altura em que vivemos “em rede” e somos confrontados a cada instante com mil e uma propostas e sugestões, esta questão adquire uma particular relevância. Confundidos e baralhados por tanta informação, tornamo-nos permeáveis a propostas mais ou menos excêntricas, mais ou menos esotéricas, mais ou menos ecléticas, por vezes pouco condizentes com a pureza e a autenticidade da proposta cristã. Por outro lado, muitos cristãos continuam a colocar a sua esperança de realização em “poderes”, em figuras, em superstições, em instituições, em rituais “mágicos”, que não libertam e que não ajudam a encontrar caminhos de plena realização. Como nos situamos face a isto? Procuramos definir claramente, em coerência com a nossa fé, o caminho que devemos seguir?


www.dehonianos.org

sábado, 22 de novembro de 2025

O que é um pobre?



Que pobres? Que pobreza? O que é que sabemos sobre eles? Falamos muito da pobreza e dos pobres, mas pouco ou nada partilhamos verdadeiramente das suas vidas. Ouvimo-los? Estamos onde eles estão? No domingo passado celebramos o Dia Mundial dos Pobres...

Ainda no passado dia 17 de outubro celebramos o Dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, instituído pela ONU em 1992, depois do padre Joseph Wresinski, fundador do Movimento ATD Fourth World, ter reunido mais de 100.000 pessoas na Praça do Trocadero, em Paris, para uma cerimónia onde inaugurou um memorial de pedra em homenagem às vítimas da pobreza:


Defensores dos direitos humanos e do cidadão
de todos os países reuniram-se nesta praça.
Renderam homenagem
às vítimas da fome, da ignorância e da violência.
Afirmaram a sua convicção de que a miséria não é fatal.
Proclamaram a sua solidariedade com os que, no mundo inteiro, lutam para a destruir.

“Lá onde os homens estão condenados a viver na miséria,
aí os direitos humanos são violados.
unir-se para os fazer respeitar é um dever sagrado.”

Padre Joseph Wresinski


O Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco em 2017, é um pouco diferente. A pobreza não é apenas miséria, os pobres não são apenas pobreza. Nem toda a pobreza e nem todas as pessoas pobres devem ser erradicadas.

No visão cristã, o sentido da palavra pobreza é muito vasto. Vai desde o desespero daqueles que sofrem a pobreza por culpa de outros ou por infortúnio, até aqueles que escolhem livremente a pobreza como caminho. Uma escolha livre que muitas vezes se torna a principal via de libertação para aqueles que não escolheram a pobreza. Na Dilexi te o Papa Leão XIV fala sobretudo da má pobreza para nos encorajar a cuidar dela e a não «baixar a guarda», mas não esquece a bela pobreza do Evangelho.

Mas se formos honestos, devemos reconhecer que temos dificuldade em celebrar estes dias. Porque quase todos nós, sentados nos sofás confortáveis ​​das nossas casas, perdemos o contacto com os verdadeiramente pobres. Para falar sobre e celebrar o Dia dos Pobres, devemos primeiro conhecer os pobres de perto, fazer amizade com alguns deles, entrar nas suas casas, barracas ou habitações improvisadas, e talvez ficar lá por um tempo. Ouvir os seus pensamentos, deixá-los falar, reconhecer neles a dignidade de pensamento e de palavras.

Todos os relatórios, estudos, estatísticas, livros, conferências, ações e políticas sobre a pobreza são escritos por pessoas que não são pobres, por especialistas que falam quase sempre de uma realidade que nunca visitaram e que conhecem apenas por ouvir dizer. Estes relatórios e estudos, muitas vezes úteis, devem ser acompanhados por outros relatórios e estudos, com origem em quem vive a pobreza por dentro.

Seria profético se formássemos uma comissão composta predominantemente por pobres para ouvir a sua perspetiva. Aprenderíamos a olhar para o nosso mundo ao lado de Lázaro debaixo da mesa do rico. Os pobres não devem permanecer meramente objetos de estudo, ações e orações. Podem e devem ser protagonistas.

Talvez não o façamos porque, por vezes, mesmo na Igreja, os verdadeiramente pobres assustam-nos, lembrando-nos um lado negro das nossas vidas que não queremos ver, e assim, em vez de os encontrarmos realmente, preferimos falar dos pobres e dar esmolas...


p.s. Na foto, Biagio Conte (Palermo, 1963 – 2023) foi um missionário leigo italiano. Também conhecido por Irmão Biagio, fundou a "Missão da Esperança e da Caridade" em Palermo para combater as situações dramáticas de pobreza e marginalização, primeiro entre os habitantes da sua cidade natal e, mais tarde, entre os imigrantes.



Paulo Victória,

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Ser espiritual...



É ser feito de uma vida simples...

De saber escutar até ao fim...
De confiar...

Saber que cada conquista, por mais pequena que possa parecer, vem de um lugar bonito. Tem origem na força, na coragem, na persistência e na fé.

Na fé de acreditar mesmo não vendo; do silêncio e das histórias que ninguém viu.

Muitas vezes, na ânsia de querermos sempre saber o final, esquecemos de viver a narrativa da história.

Ser espiritual é compreender a beleza que cada momento encerra. O amanhã não nos pertence.

É compreender que a cada respirar, a cada sentir e a cada caminhar, realizamos o maior milagre de todos:
A verdade da nossa existência.

Boa semana!


Carla Correia

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Há dias que pedem refúgio



Há dias que pedem refúgio que nos guarde o coração, que nos serene a alma, onde repousar a vida e ficar. Refúgio que nos envolva, que segure tudo o que somos.

Há dias que pedem refúgio que nos abrace, que alivie o peso do mundo, que faça o tempo parar. Refúgio que nos resgate, que nos ajude a respirar.

Há dias que pedem refúgio que seja o abraço que precisamos, o colo que nos falta. Refúgio onde nos podemos curar.

Há dias que pedem refúgio.

Às vezes, é só um abraço mais apertado, uma mão que ampara ou um olhar em cheio na alma.

Às vezes, é só um sorriso do coração, uma palavra com ternura ou um silêncio que fala.

Às vezes, é só uma companhia que fica, um gesto de bondade, ou alguém que nos quer bem.

Às vezes, é só o amor.

É isso: o amor.

Há dias que pedem refúgio.

E, em todos os dias, é sempre o amor.


Daniela Barreira

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

As pinturas de Deus





Se Deus tivesse uma profissão de certeza que seria artista. Um artista sim senhor!

Só pode ser artista, aquele que desenha no escuro luzeiros que parecem tachos e animais e que cintilam em lugares diferentes como que a exigir a tua atenção.

Artista, porque pinta no céu degradés de cores entre o nascer e o ocaso da sua estrela maior.

Artista, porque volta e meia nos recorda, com sete cores, que o céu não tem limites.

Artista, porque entre o azul do céu e do mar e o laranja do sol arranja umas nuvens ora brancas ora cinzentas que com formas aleatórias e estranhas nos faz ficar pasmados a olhar para o alto.

Mas Deus é um artista insatisfeito com a sua obra. Todos os dias apaga o feito e nos brinda num novo dia com cores, arranjos e combinações diferentes. Deve ser uma canseira!

E para quê? Já reparas-te que na criação de Deus tudo nos eleva para mais alto e mais longe? O horizonte é algo inatingível e a beleza natural das coisas é sem dúvida um estimulo a vivermos cada dia com expectativa pelo que o artista nos prepara.

Somos convidados a olhar para o alto, mas com os pés assentes na terra.

Somos convidados a saborear gratuitamente a arte que nos é oferecida, mas não te distraias porque cada traço do artista tem a sua função e sendo tu a sua maior obra de arte, não te podes esquecer de cumprir a tua parte na pintura. Tal como as estrelas nos guiam no escuro, e o sol nos aquece, também eu e tu temos a nossa quota parte na beleza deste quadro.

E tu, amiga, qual o teu papel nesta pintura?


Raquel Rodrigues


terça-feira, 18 de novembro de 2025

As dores que não conseguimos dizer




Uma dor funda é um caminho que tem um princípio e um fim. Nunca nos deixa da mesma forma que nos encontrou. Muda o que somos a uma profundidade à qual as palavras não chegam. Engrandece-nos, apesar de tudo.

O amor que dói é também o único que nos cura.

Quem conseguirá explicar a outra pessoa o quanto os seus piores momentos lhe doeram e ainda doem, sentindo que disse tudo?

Podemos e devemos tentar partilhar o que trazemos no coração, mas com a certeza de que haverá uma espécie de coração do coração. Aí residem segredos que são mistérios até para nós mesmos.

A vida é feita de adversidades. A paz pela qual ansiamos não é deste mundo.

Também é verdade que, muitas vezes, sofremos demais por coisas que não valem nem uma lágrima.

Quem não quer sofrer não pode viver, muito menos amar.

A dor desperta-nos forças que não tínhamos.

Se, em silêncio, conseguirmos fazer uma peregrinação à fonte da vida que há em nós… é bem possível que, ao chegarmos lá, encontremos uma porta que dá para o céu.


José Luís Nunes Martins


segunda-feira, 17 de novembro de 2025

«Na Igreja não há estrangeiros, nem irmãos de segunda» – D. Pedro Fernandes

 


Portalegre, 16 nov 2025 (Ecclesia) – O bispo de Portalegre-Castelo Branco assumiu hoje, na Sé daquela cidade onde decorreu a ordenação episcopal, um compromisso com os migrantes e mais excluídos da sociedade, e afirmou que “na Igreja não há estrangeiros”.

“Contem com a minha oposição a todas as formas de intolerância e a exclusão injusta. Peço a Cristo que nos conceda a graça de estar com Ele e n’Ele, ao serviço dos mais frágeis, assumindo os quatro verbos que os Papas Francisco e Leão XIV sublinharam para descrever a solicitude cristã relativamente aos migrantes: acolher, proteger, promover e integrar”, afirmou.

Na alocução que realizou no final da celebração, D. Pedro Fernandes referiu que estas atitudes se aplicam “também com igual pertinência a todas as pessoas magoadas pela exclusão, pelos discursos de ódio ou pela indiferença que mata”.

Na Igreja não há estrangeiros, nem irmãos de segunda”, sublinhou.

Aos migrantes, aos membros de comunidades minoritárias, aos portadores de deficiência, aos reclusos, aos solitários, aos doentes e idosos, a todos, quero dizer que tudo farei no que possa estar ao meu alcance para que a Igreja seja mesmo a sua casa, onde se sintam acolhidos, protegidos, promovidos e integrados”, garantiu.

D. Pedro Fernandes foi nomeado bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco pelo Papa Leão XIV, a 7 de outubro, sucedendo a D. Antonino Dias que renunciou por motivos de idade.

Na primeira vez que se dirigiu à diocese depois da ordenação episcopal, o novo bispo deixou também “uma palavra especialíssima de comunhão com os jovens” da diocese.

“Estamos juntos. Contemos uns com os outros. Vocês são preciosos aos olhos de Jesus Cristo, que vos ama infinitamente, vos chama e vos envia. Muitos de vocês se interrogam sobre o sentido da vida e sobre os próprios projetos e vocações. Com João Paulo II, repito a convocação. Não tenham medo. Abram, escancarem as portas a Cristo”, exortou.

O novo bispo expressou o desejo de “resistir a todas as formas de falsidade que destroem a família, os valores autenticamente humanos e o respeito pela liberdade e pela dignidade das pessoas, sobretudo as mais frágeis”.

A alocução assinalou também a “injusta redução para uma periférica situação de interioridade secundarizada e não suficientemente atendida” que, segundo D. Pedro Fernandes, “tem posto a população” daquelas terras, abrangidas pela diocese, “numa posição de crónica carência e desigualdade”.

“Estar ao lado do povo de Deus é subscrever também esta causa da igualdade e da justiça”,
realçou, na igreja que encheu para assistir à tomada de posse, reunindo padres, bispos, religiosos e religiosas, familiares e amigos de D. Pedro Fernandes.

Na celebração, em que lembrou as comunidades que serviu em Portugal e no exterior, o novo bispo lembrou que todos, irmãos e irmãos da diocese, “são presença viva de Cristo missionário”: “Todos vocês são missão. Junto-me a esta viagem feliz e agradeço a vossa hospitalidade. Quero caminhar de perto com todos”.

A todos os batizados e batizadas, deixem-me dizer que a Igreja somos todos nós. Não se tratará apenas de dizer que sou eu que conto com a vossa colaboração para o meu trabalho, mas sobretudo que são vocês que poderão contar sempre comigo”, expressou.

No final do discurso, o bispo agradeceu a D. Antonino Dias, ressaltando os “muitos anos de sangue, suor e lágrimas que passou ao serviço” da comunidade diocesana, que são por ele bem reconhecidos, bem como por aqueles que compõem a diocese e “ainda mais por Deus”.

“Para uma tal doação de vida no ministério episcopal, todas as palavras de agradecimento soam a pouco. Simplesmente espero estar à altura do legado pastoral que recebo deste meu antecessor. Continuamos com ele como sabemos que continuará connosco”, referiu.

Por último, D. Pedro Fernandes expressou que espera dos diocesanos “muita disponibilidade” para lhe ensinarem “caminhos comuns”, “muita paciência” com as suas “demoras e tantos limites” e “muito compromisso missionário”.

“Diz-nos Jesus que sem ele nada podemos fazer. E sabemos nós que também nada podemos fazer uns sem os outros”, enfatizou.

LJ/PR








Portalegre-Castelo Branco: Presidente da Conferência Episcopal ordenou bispo D. Pedro Fernandes

 

D. José Ornelas presidiu à celebração, na Sé de Portalegre, convidando diocese a acolher novo bispo «como dom de Deus»




Portalegre, 16 nov 2025 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) presidiu hoje à ordenação episcopal de D. Pedro Fernandes, novo bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, destacando que foi escolhido depois de um processo de consulta.

“D. Pedro, que hoje é colocado à frente desta Igreja de Portalegre-Castelo Branco, não vem por iniciativa própria nem por simples eleição, mas por chamamento de Deus através de um processo de consulta a leigos, padres e bispos, que se concluiu com a nomeação do Santo Padre, o Papa Leão XIV”, afirmou D. José Ornelas, na homilia da Missa que decorreu na Sé de Portalegre, lotada.

D. Pedro Fernandes, religioso espiritano, foi nomeado como bispo da Diocese de Portalegre-Castelo Branco pelo Papa Leão XIV, a 7 de outubro, sucedendo a D. Antonino Dias que renunciou por motivos de idade.

A ordenação episcopal teve como co-ordenantes D. Antonino Dias (bispo emérito de Portalegre-Castelo Branco) e D. Teodoro Tavares (Bispo da Diocese de Ponta de Pedras – Brasil), missionário espiritano.

O presidente da CEP e bispo de Leiria-Fátima indicou que o “processo de escuta, de reflexão e discernimento”, que resultou na nomeação de D. Pedro Fernandes e envolveu “toda a Igreja nas diferentes funções e serviços que a compõem”, exprime o desejo de que o ministério, que agora começa, seja iniciado “num modo sinodal”.

Na homilia, em que apresentou o novo bispo como “um dom fundamental e precioso de Deus para a Igreja, D. José Ornelas referiu que “a nomeação pelo Santo Padre não é uma simples submissão à autoridade suprema da Igreja”.

“É, antes de mais, a livre aceitação de um chamamento de Deus e de um serviço para o bem do seu povo”, assinalou.

D. José Ornelas agradeceu o convite para presidir à ordenação episcopal, expressando “o gosto de partilhar” com D. Pedro Fernandes e com os bispos da Igreja em Portugal e no mundo “a alegria, o labor, o esforço e a esperança do serviço” que realizam juntos.

“Seja bem-vindo a este colégio de Irmãos na Conferência Episcopal. Na nossa oração, diálogo e busca de caminhos, imploramos sempre a presença do Espírito que hoje desce sobre si para o seu ministério, mas também nos esforçamos por escutarmo–nos uns aos outros e por escutar a Igreja para não caminharmos em vão, como diz o apóstolo Paulo”, expressou.

Dirigindo-se à diocese de Portalegre-Castelo Branco, o bispo convidou todos a agradecer pelo ministério de D. Antonino Dias, que durante 17 anos esteve ao serviço da diocese, “com dedicação, espírito fraterno e missão”.

“Depois, acolhei o vosso novo bispo como dom de Deus. Colaborai com ele, que continua a presença de Jesus como pastor nesta sua Igreja. Permanecei unidos a ele, para que toda a Igreja que formais possa viver unida e tenha credibilidade para anunciar o Evangelho do Senhor, que é o Evangelho de Reconciliação”, pediu.

A liturgia da ordenação inclui a imposição das mãos e a unção da cabeça dos eleitos, a entrega do livro dos Evangelhos e das insígnias episcopais – o anel, a mitra e o báculo.

O lema episcopal do novo bispo é ‘Um só coração, uma só alma’ (Cor Unum et Anima Una) dos missionários do Espírito Santo, uma frase do livro bíblico dos Atos dos Apóstolos (4, 32b), e descreve “a comunidade cristã primitiva”.








domingo, 16 de novembro de 2025

Portalegre-Castelo Branco: Brasão e lema do bispo eleito evocam a «unidade» e a Congregação do Espírito Santo

D. Pedro Fernandes vai ser ordenado este domingo




Lisboa, 14 nov 2025 (Ecclesia) – O bispo eleito da Diocese de Portalegre-Castelo Branco, D. Pedro Fernandes, que toma posse e ordenado este domingo, escolheu como lema ‘Um só coração, uma só alma’ (Cor Unum et Anima Una) dos missionários do Espírito Santo.

“O tema da unidade é muito querido a D. Pedro, que assumiu o diálogo ecuménico como vocação especial aquando da sua ordenação presbiteral”, lê-se na explicação do brasão enviado hoje à Agência ECCLESIA, pela Congregação do Espírito Santo em Portugal.

Os Missionários Espiritanos acrescentam que o lema no listel do brasão do bispo eleito da Diocese de Portalegre-Castelo Branco é a frase que do livro bíblico dos Atos dos Apóstolos ( 4, 32b), e descreve “a comunidade cristă primitiva”.

‘Cor Unum et Anima Una’, em português ‘Um só coração uma só alma’, é o lema de D. Pedro Fernandes, que é também o mote do brasão da Congregação do Espírito Santo à qual pertence o novo bispo.

O campo do escudo “é todo vermelho” representando a cor do Espírito Santo e do testemunho/martírio, em cima tem o galero, o chapéu de peregrino que “representa o pastor caminhando com o seu povo”, com cordões terminados em borlas que é o símbolo comum dos bispos.

A cruz processional, no topo do brasão, tem o braço horizontal vergado, “como que cedendo ao peso do crucificado”, e no centro um espaço vazio, “simboliza a morte vencida (sepulcro vazio), ressurreição”.

“Esta cruz é a estilização de um crucifixo em pau preto, feito em Moçambique e oferecido a D. Pedro”, onde o bispo eleito da Diocese de Portalegre-Castelo Branco foi missionário.

Para o centro do brasão, o novo bispo escolheu símbolos dos Missionários do Espírito Santo, uma pomba branca e um coração da mesma cor: “A pomba representa o Espírito Santo e o coração com a coroa de rosas representa o Coração Imaculado de Maria”.

D. Pedro Fernandes vai tomar posse e ser ordenado este domingo, pelas 15h00, na Sé de Portalegre.

Na celebração, o ordenante vai ser D. José Ornelas (bispo de Leiria-Fátima e presidente da CEP) e co-ordenantes D. Antonino Dias (bispo emérito de Portalegre-Castelo Branco) e D. Teodoro Tavares (bispo da Diocese de Ponta de Pedras, Brasil), missionário espiritano.

O Papa Leão XIV nomeou a 7 outubro, o novo bispo para Diocese de Portalegre-Castelo Branco, D. Pedro Fernandes, religioso Espiritano, que sucede a D. Antonino Dias que renunciou por motivos de idade.

O novo bispo, de 56 anos de idade, era até agora presidente do Conselho de Administração da Associação de Apoio Social ‘Anima Una’ (Braga).

A Diocese de Portalegre-Castelo Branco tem 161 paróquias, distribuídas por cinco regiões (arciprestado de Abrantes 33 paróquias, de Castelo Branco 44, Ponte de Sor 27, Portalegre 22 e Sertã 35), contando com o trabalho pastoral de padres diocesanos e religiosos, religiosas, diáconos permanentes, três institutos seculares, associações, movimentos de leigos e 39 misericórdias.

LFS/CB/OC

Foto: Agência ECCLESIA/HM

Pedro Alexandre Simões Gouveia Fernandes nasceu a 22 de junho de 1969 em Lisboa; frequentou o primeiro ano de Teologia na Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, e em 1988, ingressou na comunidade de estudantes Espiritanos do Restelo, em Lisboa, onde prosseguiu os seus estudos enquanto desenvolvia trabalho pastoral.

Em 1991 ingressou no noviciado Espiritano em Silva, Barcelos, e fez os primeiros votos a 8 de setembro de 1992, regressando a Lisboa em 1993 para o quinto ano de teologia, concluindo com uma tese sobre o diálogo católico-anglicano.

De 1993 a 1995 foi membro da Comunidade Espiritana de Clamart (França), obtendo uma licenciatura em Teologia Moral no Institut Catholique de Paris; em 8 de setembro de 1995 fez os votos perpétuos e, de 1995 a outubro de 1996, realizou o seu estágio missionário na Guiné-Bissau como diácono.

Foi ordenado sacerdote em Lisboa a 21 de julho de 1996 e integrou, nesse ano, o primeiro grupo de Espiritanos enviados para a missão em Moçambique, onde permaneceu até 2009; em Roma, obteve um diploma no Centro Interdisciplinar para a Formação de Formadores para o Sacerdócio, na Universidade Pontifícia Gregoriana de Roma (2009-2010).

De regresso a Portugal, de 2010 a 2018 foi superior da comunidade Espiritana do Porto, tendo sido conselheiro provincial e assistente da Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo, acompanhando grupos pertencentes aos Jovens sem Fronteiras, movimento ligado aos Espiritanos.

De 2018 a 2024 foi superior da Província Portuguesa dos Espiritanos e Vice-Presidente da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP).


Ao encontro de Deus

 


Quase no final do ano litúrgico, a Palavra de Deus convida-nos a lançar um olhar sobre a história dos homens e sobre aquilo que nos espera quando o nosso caminho na terra terminar. Garante-nos que caminhamos ao encontro de Deus, da vida verdadeira. A história dos homens não é uma história de perdição, mas sim uma história de salvação. É tendo diante dos olhos esse horizonte que enfrentamos a vida de todos os dias e derrotamos as dificuldades que o caminho apresenta.

Na primeira leitura, um “enviado de Deus” anuncia a uma comunidade desanimada que, ao contrário do que dizem alguns céticos, Javé não abandonou o seu Povo nem deixou o mal assumir as rédeas da história dos homens. No tempo oportuno Deus vai atuar, vai limpar o mundo, vai derrotar as forças da opressão e da morte que privam os homens de vida. Das cinzas do mundo velho Deus vai fazer nascer um mundo novo, iluminado pela luz da salvação.O discurso sobre o fim do mundo e as catástrofes que esperam a humanidade pecadora é um discurso que alguns pregadores – muitas vezes da área das seitas, outras vezes de grupos ditos “cristãos”, mas que se movimentam em terrenos e conceções muito próximas das seitas – gostam de usar para incutir medo. Independentemente das boas ou más intenções desses pregadores, o medo não é uma boa base para construirmos a nossa experiência de fé e para nos aproximarmos do Deus que Jesus nos veio revelar. Usar certos textos – como este que a liturgia nos propõe hoje como primeira leitura – para fomentar o medo e para “forçar” à conversão poderá constituir uma grave distorção da Palavra de Deus. Como é que “ouvimos” discursos desse tipo? São discursos que nos impressionam e que condicionam a nossa visão de Deus e do seu projeto?

No Evangelho Jesus conversa com os seus discípulos sobre o sentido da história humana. Garante-lhes que a história dos homens não terminará num fracasso: no final do caminho estará Deus para oferecer aos seus queridos filhos a salvação, a vida definitiva. Essa certeza deve proporcionar-nos a força de que necessitamos para enfrentar as crises, os abalos, as convulsões da história, até mesmo as condenações e perseguições que se apresentarão em cada curva do caminho.O caminho que os homens percorrem pela história será fácil e indolor? É claro que não. Será sempre um caminho marcado pela fragilidade do homem e, portanto, pela presença do mal. Sim, a história dos homens conhecerá a cada passo a violência, a guerra, a injustiça, a mentira, a ambição, a prepotência, as trevas. Mas nessa história também está Deus a apontar aos homens o caminho que leva ao mundo novo. Por isso, a história dos homens também conhecerá a justiça, a bondade, a verdade, o amor, a luz. Jesus lançou à terra a semente do mundo novo, do Reino de Deus; e todos os dias essa semente desenvolve-se e produz frutos abundantes. Esses frutos – os gestos que tantos homens e mulheres fazem, muitas vezes sem “dar nas vistas”, e que tornam o nosso mundo mais justo, mais humano, mais feliz – são os sinais da presença do Reino de Deus na história e na vida dos homens. Aos discípulos de Jesus pede-se que reconheçam os sinais do Reino de Deus, que se alegrem porque o Reino está presente e que se esforcem, todos os dias, por construí-lo. Quais são os sinais de esperança que vemos brilhar no mundo e que nos fazem acreditar na presença do Reino de Deus no meio de nós? O que podemos fazer, no dia a dia, para apressar a chegada do Reino de Deus?

Na segunda leitura o apóstolo Paulo pede aos cristãos de Tessalónica – e aos cristãos de todas as épocas e lugares – que não se instalem na mediocridade, na apatia, na ociosidade, mas sejam protagonistas da história, gente comprometida com a construção do Reino de Deus. Viver de olhos postos em Deus não significa colocar-se à margem da construção do mundo.Nas nossas comunidades cristãs encontramos com frequência pessoas que, independentemente da sua condição, das suas qualificações, das suas qualidades, se limitam a ser “consumidores passivos” da religião: usufruem daquilo que a comunidade constrói, participam de alguns momentos celebrativos que lhes interessam, mas não estão disponíveis para colaborar na comunidade, para ajudar a construir a comunidade, para pôr ao serviço da comunidade os dons que Deus lhes concedeu. Acabam por não estar envolvidos na vida da comunidade e por não fazer uma verdadeira experiência de vivência comunitária da fé. Como é que nos situamos em relação à comunidade cristã? Damos o nosso contributo na construção da comunidade? Pomos a render os nossos dons, colocando-os ao serviço da comunidade?


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