Ninguém, no seu perfeito juízo, escolhe o caminho mais difícil. As nossas escolhas têm sempre como Norte aquilo que julgamos ser o melhor para nós e para a nossa vida. Quando optamos, temos esperança de conseguir escolher o melhor, o mais leve e, de preferência, o mais vantajoso. Se a vida nos dissesse que sim a tudo, ficaríamos mimados e insuportáveis. Além disso, existiriam muito menos boas pessoas. Como assim? As melhores pessoas escolhem os caminhos difíceis e ficam contentes com isso? É isso que eu tenho que fazer para ser Bom? Para ser melhor do que me permito ser? Não. Não é bem isso. As melhores pessoas também escolhem na esperança que lhes apareça o mais fácil e o mais brando. Mas, tal como acontece com cada um de nós, são confrontadas com a tristeza e o aperto de um caminho tortuoso e capaz de ferir. Quando se chega a meio caminho, é mais fácil continuar em frente do que voltar para trás. Mas as melhores pessoas não ficam por aqui. Além de seguirem o trilho espinhoso que lhes vai descalçando as certezas ainda aprendem com isso. Aprendem a ajudar os outros a caminhar. Aprendem truques para tornar o difícil mais suportável e ousam ensinar e partilhar essas dicas com quem ainda tem caminhos desses por percorrer. É isso que diferencia as melhores pessoas de todas as outras. É o que escolhem fazer quando sentem que não há nada a fazer. É o que escolhem fazer quando podiam escolher outra coisa qualquer. É o facto de escolherem tornar o mais difícil, mais fácil. É o facto de escolherem plantar flores no sofrimento que tiveram e, depois, fazer um jardim que toda a gente possa ver.
Costumo dizer aos meus amigos que já conheci muita gente. Espero que ainda haja muita gente para atravessar o meu caminho. Sou feita de cada uma dessas pessoas. Das más e das boas. Das ingratas e das generosas. Das bonitas que, no fim, eram feias e das feias que, no fim, eram bonitas. De facto, já conheci muita gente. Mas poucos me fizeram voltar para trás para os ir salvar ou buscar. Talvez me tenha faltado a coragem ou talvez tenha sentido que não valiam a pena. O que eu quero dizer com todas estas palavras (onde me vou deixando morar e viver) é que todas as pessoas valem a pena. Cada pessoa vale a pena. Ainda que doa. Ainda que tudo. Eu diria mais: cada pessoa merece que haja alguém que volte para atrás para as vir salvar e buscar. Especialmente quando for difícil. Especialmente quando o impulso do nosso coração for o de andar para a frente.
Até pode doer muito mas pensa bem. Com cuidado.
Quem é que precisas de ir buscar? Quem é que ficou lá atrás à tua espera?
Marta Arrais
http://www.imissio.net/artigos/49/1162/podes-vir-buscar-me/
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