quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Orientações da Conferência Episcopal Portuguesa – Liberdade responsável no Culto e nas atividades pastorais

 


[Lisboa, 30 de setembro de 2021]


1. Bendito seja Deus, Pai de misericórdia, que nos permite retomar gradualmente, de forma responsável, a normalidade da vida pessoal e comunitária, vivendo, convivendo, celebrando, sendo Igreja: assembleia convocada, reunida na presença do seu Senhor e por Ele enviada ao mundo como fermento de comunhão e fraternidade.

Nesta hora de ação de graças a Deus, queremos também exprimir o nosso reconhecimento a quantos deram um contributo significativo neste duro combate pela saúde, que ainda não terminou. Diante do Deus da Vida, em atitude de oração, fazemos memória dos inúmeros irmãos e irmãs que mais sofreram com esta pandemia e suas consequências, sobretudo daqueles que faleceram e suas famílias.

2. Mantendo-se o apelo a um comportamento responsável, o país assiste ao termo ou mitigação de muitas das medidas de proteção à saúde pública que comportavam restrições aos direitos e liberdade dos cidadãos, nomeadamente na vida social, económica e cultural.

É tempo, também, de rever algumas das orientações dadas por nós, em diálogo com as autoridades de saúde, e que comportavam algumas exceções à liberdade religiosa e ao direito concordatário vigentes.


3. Em relação às nossas assembleias litúrgicas, que são o coração pulsante da vida de fé, geradoras da comunhão eclesial e dinamizadoras do serviço e da missão, tendo em conta a evolução contextual, é tempo de ir retomando uma maior participação dos fiéis, abrandando de forma ponderada os distanciamentos e os limites impostos à lotação das nossas igrejas. Entretanto, as outras medidas de proteção – higienização das mãos e uso da máscara – devem manter-se.

Para facilitar a perceção auditiva, os sacerdotes e demais ministros poderão retirar a máscara para a proclamação da Palavra, desde que haja uma distância suficiente das pessoas colocadas diante deles.

A recolha da coleta poderá realizar-se no momento do ofertório, observando-se as devidas normas de segurança e de saúde.

A saudação da paz, que é facultativa, continua suspensa.

No momento da Comunhão sacramental, em que os comungantes têm de retirar a máscara, o ministro deve utilizá-la. O diálogo com cada fiel «Corpo de Cristo. Amen» – de significado transcendente para a fé católica – deverá ser retomado. A Comunhão deve continuar a ser ministrada apenas na mão dos fiéis.

4. No tocante à celebração dos demais Sacramentos, Sacramentais e Exéquias cristãs, deverão retomar-se as prescrições dos livros litúrgicos.

No Sacramento da Penitência, procure assegurar-se suficiente distância entre o confessor e o penitente, devendo ambos usar máscara, mas sem comprometer quer o diálogo sacramental quer o seu sigilo.

Com os devidos cuidados, faça-se a visita aos doentes e distribua-se a Comunhão.

Nas unções, evite-se o contacto corporal direto, recorrendo ao uso de compressas de algodão que, em seguida, se recolhem e posteriormente serão incineradas.

Antes e depois dos ritos que comportem algum contacto físico com pessoas ou objetos, os ministros devem proceder à higienização das mãos.

Nos velórios, a prática da aspersão supõe a mesma cautela. Se não for possível garantir esse procedimento, é preferível retirar a caldeirinha e usá-la apenas no Rito da Encomendação.

As pias de água benta junto às entradas da igreja continuarão vazias.

5. As atividades pastorais nos espaços eclesiais (paróquias, centros pastorais, casas de retiro, etc.) como catequese e outras ações formativas, reuniões, ajuntamentos, iniciativas culturais e de restauração, entre outras, bem como peregrinações, procissões, festas, romarias, concentrações religiosas, acampamentos e outras atividades similares, seguirão as regras previstas pelas autoridades competentes para situações educativas, sociais e culturais semelhantes.

6. Estas novas orientações, que revogam as de 8 de maio de 2020 e seguintes, entram em vigor no dia 1 de outubro de 2021.

Lisboa, Sede da CEP, 30 de setembro de 2021

Visita Pastoral Arciprestado de Portalegre

 


terça-feira, 28 de setembro de 2021

Dez dados que todo católico deveria saber sobre a Bíblia

 



Para celebrar o mês da Bíblia, o portal católico de recursos apostólicos Catholic Link compartilhou dez informações sobre as Sagradas Escrituras que podem ajudar no apostolado.

A Bíblia é um texto cheio de “histórias fascinantes” escrito por pessoas comuns, que se entregaram à “vontade de Deus”, diz Catholic Link. Eles, sob a inspiração do Espírito Santo, transmitiram um dos “tesouros espirituais mais importantes da nossa fé” e o “fundamento cultural do ocidente”.

Mais do que um “compilado de regras e uma moral espiritual particular”, diz Catholic Link, a Bíblia nos mostra “o próprio Deus comunicando-se com seus filhos, é uma carta de amor, uma rota de navegação, um livro de perguntas e respostas, um manual de instruções do fabricante, um compêndio de testemunhos de homens frágeis sustentados por Deus em momentos difíceis”.

Assim, todo aquele que lê as Sagradas Escrituras pode conhecer a vontade de Deus, aprender a relacionar-se com os outros e viver a “vida em plenitude”. A Bíblia é alimento espiritual para os católicos, pois, como disse o papa Francisco, ali encontramos “a força da nossa vida”.

O portal afirmou que não basta ler a Bíblia “como se fosse um livro qualquer”, pois “não é mera literatura”. Para ler a Bíblia, é “necessário mergulhar nas profundezas de seus versículos, mas também de seu contexto, de sua história, de sua origem”. O papa encorajou os católicos a se aprofundar no seu conteúdo através da Lectio Divina.


Abaixo, uma lista de dez aspectos da Sagrada Bíblia. Mais do que para satisfazer uma curiosidade, essa informação pode ajudar no apostolado:

1. A Bíblia vem do latim “bíblia”, termo que vem do grego βιβλία (biblía), que significa “livros”.

2. A Bíblia católica é composta por 73 livros. No Antigo Testamento são 46 livros; no Novo Testamento, 27.

3. A Bíblia foi escrita em três línguas. O Antigo Testamento foi escrito em hebraico e algumas pequenas partes em aramaico. Há livros do Antigo Testamento que só chegaram a nós em grego, mas podem ter sido traduzidos de originais hebraicos, como o Eclesiástico. O Novo Testamento foi escrito em grego, a língua internacional da região em volta do Mediterrâneo na época.

4. Na Bíblia, há pelo menos 185 canções. Pelo menos 150 canções estão contidas no livro dos Salmos e nos Testamentos.

5. A Bíblia foi escrita por mais de 40 autores, entre os quais se encontram pessoas de diferente condição e posição, como profetas, reis, evangelistas, apóstolos, etc.

6. O livro mais longo da Bíblia é de Jeremias e o mais curto é a terceira carta de João.

7. A Bíblia foi escrita por pessoas de diferentes ocupações: reis, fazendeiros, pescadores, profetas, um médico, um escriba, entre outros.

8. A Bíblia foi escrita em três continentes. A maior parte dela foi escrita na Ásia, no território que hoje é Israel. Algumas passagens foram escritas na África, no Egito, e várias epístolas do Novo Testamento foram escritas em cidades da Europa.

9. Na Bíblia, há mais de 40 milagres de Jesus, que incluem curas, exorcismos, ressurreição dos mortos e controle sobre a natureza.

10. O livro mais antigo da Bíblia não é Gênesis, como muitos acreditam, mas o livro de Jó, escrito por volta de 1400 a.C.


https://www.acidigital.com/

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Parabéns, Pe Fernando!

Parabéns, Pe Fernando! Bendito seja Deus pela sua vida plena de entrega a Deus e à sua Igreja. Rezamos por si para que lhe conceda saúde e alegria.

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PAPA DESAFIA A SONHAR O MUNDO SEM DISTINÇÃO ENTRE NÓS E OS OUTROS

 




“Rumo a um nós cada vez maior” é o tema da Mensagem do Papa Francisco para o 107º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, que se assinala domingo, dia 26 de setembro.

O Santo Padre refere que em tempos de maior crise, como acontece agora com a pandemia, verifica-se que “o nós querido por Deus está dilacerado e dividido, ferido e desfigurado”, “tanto no mundo, como dentro da Igreja” e “o preço mais alto é pago por aqueles que mais facilmente se podem tornar os outros: os estrangeiros, os migrantes, os marginalizados, que habitam as periferias existenciais”.

Perante esta realidade, Francisco lança um duplo apelo: “a caminharmos juntos rumo a um nós cada vez maior", dirigindo-se em primeiro lugar aos fiéis católicos e depois a todos os homens e mulheres da terra, porque “estamos todos no mesmo barco e somos chamados a empenhar-nos para que não existam mais muros que nos separam, nem existam mais os outros, mas só um nós, do tamanho da humanidade inteira”.

Uma Igreja cada vez mais católica

Para os membros da Igreja Católica, o apelo traduz-se num “esforço para se configurarem cada vez mais fielmente ao seu ser católicos, tornando realidade aquilo que São Paulo recomendava à comunidade de Éfeso: «Um só corpo e um só espírito»”.



"No encontro com a diversidade dos estrangeiros, dos migrantes, dos refugiados e no diálogo intercultural que daí pode brotar, é-nos dada a oportunidade de crescer como Igreja, enriquecer-nos mutuamente”, afirma o Papa, desafiando os fiéis católicos a comprometer-se para que a Igreja se torne cada vez mais inclusiva, dando continuidade à missão que Jesus Cristo confiou aos Apóstolos.

“Hoje, a Igreja é chamada a sair pelas estradas das periferias existenciais para cuidar de quem está ferido e procurar quem anda extraviado, sem preconceitos nem medo, sem proselitismo, mas pronta a ampliar a sua tenda para acolher a todos”, reafirma o Papa, lembrando que "entre os habitantes das periferias existenciais encontraremos muitos migrantes e refugiados, deslocados e vítimas de tráfico humano, aos quais o Senhor deseja que seja manifestado o seu amor e anunciada a sua salvação”.

Um mundo cada vez mais inclusivo


Neste contexto, Francisco exorta todos os homens e mulheres da terra “a caminharem juntos rumo a um nós cada vez maior, a recomporem a família humana, a fim de construirmos em conjunto o nosso futuro de justiça e paz, tendo o cuidado de ninguém ficar excluído”.

É o ideal da nova Jerusalém, prossegue o Papa, “onde todos os povos se encontram unidos, em paz e concórdia, celebrando a bondade de Deus e as maravilhas da criação”. Mas, para alcançar este ideal, todos devem empenhar-se para derrubar os muros que nos separam e construir pontes que favoreçam a cultura do encontro, cientes da profunda interconexão que existe entre nós.

O Santo Padre conclui sustentando que “as migrações contemporâneas oferecem-nos a oportunidade de superar os nossos medos para nos deixarmos enriquecer pela diversidade do dom de cada um”.




https://redemundialdeoracaodopapa.pt/

Foto: Vatican News

domingo, 26 de setembro de 2021

Os preceitos do Senhor alegram o coração.



https://www.youtube.com/watch?v=100LjEeSG4k


A liturgia do 26º Domingo do Tempo Comum apresenta várias sugestões para que os crentes possam purificar a sua opção e integrar, de forma plena e total, a comunidade do Reino. Uma das sugestões mais importantes (que a primeira leitura apresenta e que o Evangelho recupera) é a de que os crentes não pretendam ter o exclusivo do bem e da verdade, mas sejam capazes de reconhecer e aceitar a presença e a acção do Espírito de Deus através de tantas pessoas boas que não pertencem à instituição Igreja, mas que são sinais vivos do amor de Deus no meio do mundo.
A primeira leitura, recorrendo a um episódio da marcha do Povo de Deus pelo deserto, ensina que o Espírito de Deus sopra onde quer e sobre quem quer, sem estar limitado por regras, por interesses pessoais ou por privilégios de grupo. O verdadeiro crente é aquele que, como Moisés, reconhece a presença de Deus nos gestos proféticos que vê acontecer à sua volta.
No Evangelho temos uma instrução, através da qual Jesus procura ajudar os discípulos a situarem-se na órbita do Reino. Nesse sentido, convida-os a constituírem uma comunidade que, sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem e da verdade, procura acolher, apoiar e estimular todos aqueles que actuam em favor da libertação dos irmãos; convida-os também a não excluírem da dinâmica comunitária os pequenos e os pobres; convida-os ainda a arrancarem da própria vida todos os sentimentos e atitudes que são incompatíveis com a opção pelo Reino.
A segunda leitura convida os crentes a não colocarem a sua confiança e a sua esperança nos bens materiais, pois eles são valores perecíveis e que não asseguram a vida plena para o homem. Mais: as injustiças cometidas por quem faz da acumulação dos bens materiais a finalidade da sua existência afastá-lo-ão da comunidade dos eleitos de Deus.
Uma coisa deve ficar clara: Deus não apoia nunca quem vive fechado em si próprio, no açambarcamento egoísta desses bens que Deus nos concedeu para serem postos ao serviço de todos os homens; e qualquer crime cometido contra os pobres é um crime contra Deus, que afasta o homem da vida plena da comunhão com Deus.


https://www.dehonianos.org/

sábado, 25 de setembro de 2021

Os dias bons



Os dias bons são os dias em que se acorda, tendo dormido oito, nove ou, melhor ainda, dez horas e, reflectindo naquela ronha de quem já não consegue dormir mais mas gosta de ficar na cama (porque a temperatura e a companhia são perfeitas), se lembra que não tem nada para fazer, senão tomar o pequeno-almoço, o almoço, o chá e o jantar. E, se quiser, entretanto, nalgum intervalo qualquer, trabalhar, tanto melhor. Mas não importa. Dias de domingos antigos: dias de prazer sem saber.

Os dias bons nunca acontecem. Acontecem, quando muito, cinco ou dez mil vezes numa vida. Três míseros anos já têm mais de mil. Domingo, daqui a uma semana, terei a sorte nunca tida de estar casado e feliz com a Maria João há 12 anos. Doze anos cheios de dias bons, impossíveis de contar.

O amor, para quem é mais novo e não sabe como fazer, não é uma técnica ou uma táctica. Não há segredo. Não há lições. Ou se ama ou não se ama. Ou se é também amado ou não se é. Esperar é o melhor conselho. Experimentar é o pior. O segredo não é ter paciência: é conseguir manter a impaciência num estado de excelsitude. É como o "nunca mais é domingo". Se não sentirmos, todos os dias, que nunca mais é domingo, quando chegar o domingo parecer-se-á com outro dia qualquer.

Os dias bons não são os que ficam para lembrança. São aqueles que se esquecem, porque se repetem na mais estúpida felicidade mas que, todos juntos, servirão para um dia eu poder dizer "sim, eu já fui feliz".


[@Miguel Esteves Cardoso]



sexta-feira, 24 de setembro de 2021

SOBRE ORGÃOS SOCIAS E RESPONSÁVEIS PAROQUIAIS



O amigo leitor sabe o que é um papibaquígrafo? É um trava-línguas. Há muitos, e este também é: “percebeste? Se percebeste, percebeste, se não percebeste, faz que percebeste para que eu perceba que tu percebeste, percebeste?” Ora, dado este rigoroso e total esclarecimento, mesmo que alguém me olhe de soslaio e eu finja não perceber, vou mesmo parlengar. Sobretudo para ver se ajudo a destravar outras ideias e outro modo de estar em quem, na matéria em título, descarrilou.... Vou falar sobre o papel de Responsáveis disto ou daquilo, mais daquilo do que disto. Não de Órgãos Sociais, ou Equiparados, que o são com todos os pergaminhos. Perante esses, e pela parte que me toca, curvo-me respeitosamente e tiro o meu chapéu, mui grato pelo seu serviço e sentido de corresponsabilidade!... Também não me refiro aos órgãos sociais de instituições meramente civis, como associações humanitárias, culturais, desportivas, fundações, sociedades anónimas ou seja lá o que for. Cada uma dessas organizações sabe bem com que linhas se cose e que espécie de águas por lá correm: se saudáveis, se inquinadas, se turbas ou assim-assim. Refiro-me aos Órgãos Sociais de pessoa jurídica canónica ou de pessoa jurídica canónico-civil, como, por exemplo, Paróquia, Irmandade/Confraria, Centro Social Paroquial... A grande maioria funciona como deve ser, merece os nossos aplausos. No entanto, pode haver certos cozinhados que temos de colocar na beirinha do prato, não apreciamos, é coisa papibaquígrafa! Neste reino de Portugal e dos Algarves, d’aquém e d’além-mar, por vezes bufa uma aragem incómoda que chega a sacudir alguns jornais. Leva a crer que há Responsáveis de uma ou de outra dessas instituições, que o são de direito, mas, de facto, nunca o foram, não o são, são-no de fachada ou do faz de conta! Embora eleitos ou propostos e homologados pela autoridade competente com toda a seriedade, confiança e esperança no seu trabalho, logo são tidos como verbos de encher por quem tem dificuldade em entender que o exercício da presidência reclama comunhão corresponsável e respeitosa. Ou, então, são eles mesmos que, por indigna subserviência, falso respeito ou confiança mal entendida em quem preside, logo se dispensam de assumir o seu lugar e função. Quem aceita ser eleito ou nomeado, é nomeado ou eleito para verdadeiramente assumir e exercer a missão em causa. Não raro, porém, em discreta informação ou em estardalhaço de guerra aberta, ecoa, de facto, o mal-estar de quem tem as responsabilidades atribuídas mas se sente marginalizado ou impossibilitado de as levar a cabo, de forma colegial e complementar. Sabemos que há quem invente, deturpe, exagere, seja de difícil trato ou de difícil inserção em equipas de trabalho onde sempre gosta de falar alto, de se impor ou manipular. Por isso, tudo se ouve com delicadeza e atenção, deita-se água na fervura, não se tiram conclusões precipitadas. Mas, sem grande demora, incrédulos, crentes ou na dúvida, lá se procura auscultar o que, no terreno, na verdade se passa. Nem sempre tal alarido corresponde à verdade, as razões são outras, nem sempre as mais sadias. Noutras vezes, porém, a coisa é mesmo verdade, fica-se triste, sente-se o dever de agir, às vezes sem saber bem como... É muito difícil lidar com pessoas que se julgam donas da verdade e intocáveis. Estão sempre prontas a inventar desculpas ou a escavar razões sem qualquer espécie de razão!...
Entre Conselhos Económicos de Paróquias, Irmandades/Confrarias e Centros Sociais Paroquiais, cujos dirigentes são homologados pela Bispo diocesano, há mais que muitos. É verdade que os Conselhos para os assuntos económicos das paróquias, pela força do Direito Canónico são consultivos, mas, na prática, pelo respeito que nos merecem e pelo serviço que prestam ao povo de Deus e aos próprios párocos, que são quem os apresenta ao Bispo para serem homologados, devem ser tidos e respeitados como se de Órgãos Sociais se tratasse, embora diferentes na sua constituição e missão. Ora, todas as instituições têm direito à boa imagem e à boa fama, mas também têm o dever de fazer por isso. O mesmo se diga de quem as serve, generosa e dedicadamente, com espírito de serviço e boa vontade. O documento que acaba de nos chegar às mãos sobre o próximo Sínodo convocado pelo Papa Francisco, também coloca essa questão: “como são vividos na Igreja a responsabilidade e o poder”? Como se convertem “preconceitos e práticas distorcidas que não estão enraizadas no Evangelho”?
O burburinho que se gera à volta desta ou daquela instituição (Paróquia, Irmandade/Confraria ou Centro Social Paroquial), fazendo correr cobras e lagartos sobre ela e sobre quem as dirige, mesmo que possa ser mentira, pode ter origem na forma de agir, ou de não agir, dos seus Responsáveis. Podem existir muitos vícios acumulados a provocar, mesmo sem maldade, falta de transparência e nervosismo em quem, generosa e retamente, se apresentou a colaborar dentro do normal funcionamento das coisas. De facto, pode haver membros de Órgãos Sociais ou de Conselhos para os assuntos económicos de paróquias que nunca exerceram o cargo para o qual foram eleitos ou propostos e homologados. Tesoureiros que nunca exerceram tal lugar, mas assinam de cruz! Secretários que nunca fizeram uma ata, mas assinam de cruz! Pode haver quem, por sua própria culpa, não tenha ou não conheça os Estatutos ou o Compromisso pelos quais a instituição se rege. Ao aceitar o cargo, era pressuposto tê-los e conhecê-los, sabendo qual é a sua missão e lugar, bem como qual é o espírito da Instituição e o perfil pessoal que ela reclama. Pode haver responsáveis, de uma ou de outra destas instituições, que nunca reuniram, nunca avaliaram, nunca programaram colegialmente, deixam que tudo vá correndo ao sabor dos ventos, de qualquer forma, sei lá se até ao fracasso total. Se alguma coisa conversam entre si sobre algum assunto referente à instituição, é capaz de não ir além de uma mera conversa no café ou no caminho. Por esse falso respeito, subserviência daninha, ou seja lá o que for perante quem preside (leigo/a ou sacerdote), os outros membros da direção, que têm consciência da missão e responsabilidade que lhes foram confiadas, apesar de sofrerem com isso, deixam-se andar até que o mandato acabe para se irem embora. Não querem fazer barulho, não contestam as atitudes de quem preside ou manda, embora reconheçam que ele ou ela se serve deles ou delas como se de joguetes ou de títeres se tratasse. Promove-se o “eu”, ignora-se o “nós”. Entre nós, porque é difícil conviver com isso, até se tem feito formação para que se tenha consciência da igual pertença, para que essa maneira de ser e estar não aconteça, ou, se existe, seja banida, e haja corresponsabilidade no cuidado a ter com pessoas, património, obras, arquivos, inventários.... Além disso, todos os membros dos Órgãos Socias e Equiparados sabem que são responsáveis e respondem pelos atos que a instituição realiza, pequenos ou grandes, mesmo quando eles, porventura, partam das ordens arbitrárias de um só. As boas regras e o senso comum, mandam que, de facto, tudo seja falado e decidido colegialmente e lavrado em ata para a sua real legalidade e defesa de todos. Esta praxe, mesmo que o trabalho e as decisões não sejam muitas e o dinheiro a gerir ainda seja menos, não existe porque os membros da Direção desconfiam uns dos outros, se têm como inimigos ou se julgam imprevisíveis. Acontece porque todos se estimam e respeitam, no muito e no pouco, e têm consciência de que a instituição que representam deve construir a sua história com toda a dignidade e respeito. É possível que haja instituições com uma história rica e bela pelo bem que fazem à comunidade, com apreço e garbo. No entanto, pode acontecer que, desde há anos, não tenham dados para escrever a história: as atas deixaram de existir, nada fica escrito, é pena!
Se saltarmos para o espaço da corresponsabilidade pastoral, também temos de reconhecer quão difícil é a escuta e a programação da mesma em itinerário e modelo sinodal: “como forma, como estilo e como estrutura da Igreja”. Como é difícil este “processo eclesial participativo e inclusivo”, não só em relação “àqueles que, por vários motivos, se encontram à margem”, mas também em relação àqueles que estão dentro e próximos, mas cuja cultura é colocar-se ao lado, deixando “de contribuir para colocar em movimento as ideias, as energias e a criatividade”. Há uma cultura demasiadamente passiva e preconceituosa, promovida, aliás, ao longo dos tempos. A solicitude pastoral, se assim a posso chamar, não raro, dispensava os outros e baseava-se mais no querer, no poder e no mandar, mesmo quando não se sabia. Os efeitos prolongam-se, e porque custa virar o bico ao prego, continua-se a perguntar se a culpa não será de Adão, ou de Eva, ou da cobra.... A nossa fragilidade é muito criativa em artimanhas dessas!...
Seja como for, o Papa Francisco mostrou-se mais uma vez de mangas arregaçadas e a deitar as mãos ao arado. Ele insiste, oportuna e inoportunamente, a que dêmos as mãos nesta tarefa de uma nova sementeira, uma sementeira que comprometa, promova e dê frutos de liberdade e salvação. Se também deitarmos as mãos ao arado, sem olharmos para trás, até não faltará quem comece a repetir bem e muito mais depressa papibaquígrafo e outras coisas mais.... As surpresas de Deus são constantes e gratificantes!...

D. Antonino Dias . Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 24-09-2021.


Um novo olhar sobre a confissão, o sacramento da alegria

No centro do perdão está Deus que nos abraça, não a lista de pecados e nossa humilhação.


A confissão é um "sacramento da alegria", na verdade uma "festa", no Céu e na terra. Na terça-feira, 14 de setembro, no Estádio de Košice, era como se o Papa Francisco olhasse nos olhos de cada um dos jovens que o acolheram, para convidá-los a viver o Sacramento da Penitência de uma nova maneira. E o que o Sucessor de Pedro lhes disse foi um conforto não só para os presentes, mas para todos os que acompanharam aquele encontro pela televisão ou pela internet, ou apenas leram o discurso papal.

Não é o sacramento, pouco frequentado nestes dias, que mudou. O que Francisco propôs foi uma visão completamente diferente da confissão em comparação com a experiência de tantos cristãos e a um certo legado histórico.

Em primeiro lugar, o Papa indicou no sacramento "o remédio" para os momentos da vida em que "estamos para baixo". E à pergunta de uma jovem, Petra, que lhe perguntou como seus coetâneos poderiam "superar os obstáculos no caminho para a misericórdia de Deus", ele respondeu com outra pergunta: "Se eu lhes perguntar: o que vocês pensam quando vão se confessar? Estou quase certo da resposta: nos pecados. Mas os pecados são realmente o centro da confissão? Deus quer que você se aproxime dele pensando em você, nos seus pecados ou Nele?"

"A maneira cristã", disse Francisco dois dias antes, em Budapeste, "começa com um passo atrás, com o retirar-se do centro da vida para dar lugar a Deus. Este mesmo critério, esta mesma perspectiva aplicada à confissão pode provocar uma pequena-grande revolução copernicana na vida de cada um: no centro do Sacramento da Penitência não estou mais eu, humilhado com uma lista de pecados - talvez sempre os mesmos - para serem recontados com dificuldade ao sacerdote. No centro está o encontro com Deus que acolhe, abraça, perdoa e eleva.

"Não se vai à confissão", explicou o Papa aos jovens, "como pessoas castigadas que têm que se humilhar, mas como filhos que correm para receber o abraço do Pai. E o Pai nos levanta em cada situação, nos perdoa cada pecado. Ouçam bem isto: Deus sempre perdoa! Vocês entenderam? Deus sempre perdoa". Não se vai a um juiz para acertar contas, mas "a Jesus que me ama e me cura".

Francisco aconselhou os sacerdotes a "sentirem-se" no lugar de Deus: "Que se sintam no lugar de Deus Pai que sempre perdoa, abraça e acolhe. Damos a Deus o primeiro lugar na confissão. Se Deus, se Ele é o protagonista, tudo se torna belo e a confissão se torna o Sacramento da alegria. Sim, da alegria: não do medo e do julgamento, mas da alegria".

O novo olhar sobre o sacramento da penitência proposto pelo Papa pede para não permanecer prisioneiros da vergonha dos próprios pecados - vergonha que "é uma coisa boa" - mas a superá-la porque "Deus não se envergonha de você. Ele o ama bem ali, onde você tem vergonha de si mesmo. Ele o ama sempre". Para aqueles que ainda não conseguem se perdoar acreditando que nem mesmo Deus pode fazê-lo "porque eu sempre cairei nos mesmos pecados", Francisco diz: "Quando Deus se ofende? Quando você vai pedir-lhe perdão? Não, nunca. Deus sofre quando pensamos que Ele não pode nos perdoar, porque é como dizer a Ele: 'Você é fraco no amor'... Mas Deus se regozija em nos perdoar, toda vez. Quando ele nos levanta, ele acredita em nós como fez da primeira vez, não se desanima. Somos nós que nos desanimamos, Ele não. Ele não vê pecadores para rotular, mas filhos para amar. Ele não vê pessoas erradas, mas filhos amados; talvez feridos, e então Ele tem ainda mais compaixão e ternura. Toda vez que nos confessamos - nunca nos esqueçamos disso – há festa no céu. Que seja o mesmo na terra!" Da vergonha à festa, da humilhação à alegria. Não é o Papa Francisco, mas o Evangelho, onde se lê sobre o pai que espera ansiosamente o filho pecador, continuamente examinando o horizonte, e mesmo antes que ele tenha tempo de se humilhar, detalhando meticulosamente todos os seus pecados, Ele o abraça, o levanta e faz festa com ele e para ele.


ANDREA TORNIELLI  

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

A fé torna-te leve?




Persiste ainda a ideia de que não se pode seguir um caminho de fé sem que este nos traga um peso ou um ar sisudo. Durante anos e anos acreditou-se que uma celebração ou um ato de fé só teriam dignidade se se refletissem em gestos rígidos e em faces pouco jubilosas.

No entanto, é fácil perceber-se, através dos relatos dos Evangelhos e até mesmo pela história de vários santos, que isto da fé só pode ser levado a sério se não nos levarmos tão a sério. E que Deus não se afasta de nós por andarmos de rosto alegre durante as suas celebrações ou durante uma oração. Ele fez-nos para esta felicidade. E sim, é possível anunciar este Verbo "conjugando-o" com alegria e boa disposição. O próprio Cristo, ao estar rodeado sempre por vários homens, mulheres e crianças, teria muitas vezes que rir-se dos outros e com os outros. Ou achamos mesmo que o Messias não tinha tempo para tal? Acreditamos mesmo que o Messias, naquele tempo, conquistaria o coração de multidões se andasse sempre de face fechada? Aquela gente já tinha sofrimento suficiente naquela época, e não precisavam de alguém que lhes colocasse um peso maior nas suas vidas.

A fé não tem de ser um fardo. Para isso já temos os problemas do nosso quotidiano. Para isso já existem as preocupações do dia a dia que nos consomem e que tantas vezes não nos permitem andar de rosto arejado. A fé serve para nos tornar leves e, assim, podermos chegar mais perto do Pai. A fé serve para nos relembrar da alegria eterna anunciada na manhã de Páscoa e não para nos deixarmos ficar amorfos na tristeza da Sexta-feira santa.

A alegria de viver a fé é, sem dúvida alguma, uma forma de se caminhar para a santidade. É através da alegria, do sorriso e do riso dos outros que encontramos tantas vezes o rosto de Deus.

Não quero com isto dizer que a fé seja coisa para se levar na brincadeira, nem para ser motivo de rebaldaria. A fé é para se levar a sério e não há nada mais sério do que podermos olhar para toda a nossa história e conseguirmo-nos rir com a certeza de que sabemos que Ele sempre está.

A alegria e a fé partilham do mesmo poder: ambas nos elevam diante deste mistério que é a nossa vida!

Hoje, antes de te fechares nas tuas certezas, pergunta-te: a tua fé prende-te ou liberta-te? A tua fé anima ou aborrece os que se cruzam contigo?




Emanuel António Dias

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

A Amizade é um tesouro, mas não é fácil…



A amizade é um dom valioso, que multiplica a alegria e alivia a tristeza.

«Um amigo fiel é um poderoso refúgio, quem o descobriu descobriu um tesouro. Um amigo fiel não tem preço, é imponderável o seu valor. Um amigo fiel é um bálsamo vital e os que temem o Senhor o encontrarão.» (Eclesiástico 6, 14-16)


É bom ter amigos por perto. É bom saber que existem pessoas que se cruzam connosco para nos ajudar a ser quem somos. E se fizermos um exercício de gratidão veremos quantas pessoas Deus colocou no nosso caminho e que são verdadeiros tesouros.

Num mundo repleto de solidões e de generalizada falta de comunicação, saber que temos alguém que nos faz viver o contrário disso, faz toda a diferença.

«O vosso amigo são as vossas necessidades atendidas. Ele é o vosso campo, que semeais com amor e colheis com gratidão. É a vossa mesa e a vossa lareira. Pois vindes até ele com a vossa fome, e nele buscais a paz. Quando o vosso amigo vos diz o que pensa, vós não temeis o "não" na vossa própria mente, nem evitais o "sim".» (Khalil Gibran, in "O Grande Livro do Amor")

Por isso, também é verdade que um verdadeiro amigo não pode ficar indiferente ao ver quem lhe é querido ficar aquém dos seus próprios ideais e abraçar outros que, pelo contrário, o levam a becos sem saída.

Tarefa difícil… A verdade é que, muitas vezes, as pessoas preferem "fingir que nada aconteceu", tentando silenciar a consciência com a resposta que Caim deu à pergunta de Deus acerca de Abel: "Sou eu o guardião do meu irmão?" (Cfr. Génesis 4, 9)

Mas a correção fraterna é necessária, ainda que difícil e delicada. Para praticá-la são indispensáveis ​​algumas virtudes como o respeito e o amor gratuito que faz com que o outro se sinta livre, amado e respeitado qualquer que seja a sua decisão e orientação existencial.

Muitas vezes, em relação aos que cometem erros - ou que nos parecem errados - agimos com pressa ou com impulso emocional, enquanto seria necessário reservar tempo para reflexão pessoal, oração, discernimento, avaliando se o que percebemos é realmente um erro objetivo ou não. De facto, às vezes, o que nos parece um erro existencial é, na verdade, apenas uma questão de sensibilidade, opinião, ou visões e perspetivas diferentes.

De qualquer forma é fundamental dizer a verdade com delicadeza, respeito e caridade. Não é fácil, mas extremamente necessário.

O próprio Deus age assim connosco… E se Ele faz isso, porque não deveríamos nós também fazer com os nossos amigos mais próximos e aceitar que eles façam connosco?

Bom caminho!


Paulo J. A. Victória

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Que tempestades trazemos dentro?







Ainda é Verão, mas fomos arremessados por uma(s) tempestade(s) que nos roubaram o sol e algum ânimo. Neste tempo de regresso ao trabalho para tantos de nós, é como se até a meteorologia não se compadecesse de nós. Já não bastava termos que ser arrancados das espreguiçadeiras, ainda temos que suportar ventanias, varetas de guarda-chuva partidas e a insuportabilidade do trânsito.

Esta semana o tempo alinhou-se com o nosso estado de espírito. Mas quantas vezes somos tempestade mesmo com o Sol a brilhar lá fora? Quantas vezes sentimos que o que nos chove na alma nos faz buracos do lado de dentro do peito? Quantas tempestades trazemos dentro, afinal?

Na verdade, a tempestade e as tempestades fazem parte do que somos e deviam ter o mesmo espaço que reservamos para a alegria e para a festa. Somos profundamente preconceituosos no que respeita aos nossos lados negros. Às nossas nuvens feias e escuras. Essa impossibilidade de aceitarmos os relâmpagos que nos saem, por vezes, do coração paga-se muito cara. As tempestades interiores que não acolhemos e que não abraçamos podem rebentar-nos por dentro e destruir-nos. Claro que ninguém gosta tanto de uma tempestade como de um dia de sol, mas isso não significa que a neguemos. Que a calemos. Que façamos de conta que só existem dias de sol e de calma.


Podemos ser tempestade e dia de sol.

Podemos ser silêncios ou sinceridade rasgada em palavras.

Podemos ser doentes nalgumas partes de nós e ser infinitamente saudáveis noutras.

Podemos ser boas pessoas e pessoas pouco tolerantes.

Podemos ser paciência e rastilho curto.

Podemos ser gentileza ou sobrancelha franzida.

Podemos ser tolerantes ou preconceituosos.


Na verdade, somos um pouco de tudo o que é bom e mau. Para ser mais inteiro e para crescer para o lado certo, há que saber olhar com verdade (e com amor!) para os dias de sol, mas, principalmente, para as tempestades. Para as nossas. Para as dos outros e para aquelas que, sem querer, fizemos nascer.


Marta Arrais

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

O que há de bom na tua vida?





O que há de bom na tua vida? É verdade que podes não ter tudo o que queres, e nem tudo pode acontecer tal e qual como imaginas. Mas o peso que colocas no que não tens vai-te retirando a sabedoria de olhar para o tanto que tens e muitas vezes não te apercebes.

O que há de bom na tua vida? Consegues enumerar? Ou é-te mais fácil criar uma lista de queixas e desculpas? É verdade que a vida pode ser dura, com perdas, tristezas e revoltas. Mas já paraste para contemplar o nascer do sol? Já te deixaste relaxar ao som do vento de um final de tarde? Já te permitiste encontrar contigo no silêncio da noite? Já tomaste atenção ao som das gargalhadas que dás com os teus mais que tudo?

São vários os momentos em que podes dar graças e bendizer a tua vida. Sim, podes dizer bem de ti e da tua vida. Olhando, de forma atenta, para aquilo que te faz feliz. Olhando, esperançosamente, para aqueles que relembram amar-te só porque sim. Só porque te querem bem. Só porque querem estar contigo. Só porque desejam partilhar contigo momentos das suas vidas.

Não quero com isto dizer que deves ignorar as tuas dores, as tuas inquietações ou dúvidas, mas antes dizer-te que tudo o que sentes e procuras se torna mais fácil de resolver e enfrentar quando olhamos a vida como um conjunto de jornadas e renovações.

O caminho que percorremos não está pré-definido e pode não se traçar do jeito que imaginas. Seja esse pacífico ou sinuoso. Aprende a olhar o que tens, valorizando o bom e aprendendo com o menos bom. No final, será tudo ainda maior e mais saboroso do que alguma vez poderias imaginar.

Agora, depois de tudo o que já te contei, consegues-me dizer o que há de bom na tua vida?




Emanuel António Dias


domingo, 19 de setembro de 2021

SABEDORIA DE DEUS

 

https://www.youtube.com/watch?v=4rT-hal5av0

A liturgia do 25º Domingo do Comum convida os crentes a prescindir da "sabedoria do mundo" e a escolher a "sabedoria de Deus". Só a "sabedoria de Deus" - dizem os textos bíblicos deste domingo - possibilitará ao homem o acesso à vida plena, à felicidade sem fim.
O Evangelho apresenta-nos uma história de confronto entre a "sabedoria de Deus" e a "sabedoria do mundo". Jesus, imbuído da lógica de Deus, está disposto a aceitar o projecto do Pai e a fazer da sua vida um dom de amor aos homens; os discípulos, imbuídos da lógica do mundo, não têm dificuldade em entender essa opção e em comprometer-se com esse projecto. Jesus avisa-os, contudo, de que só há lugar na comunidade cristã para quem escuta os desafios de Deus e aceita fazer da vida um serviço aos irmãos, particularmente aos humildes, aos pequenos, aos pobres.
O Evangelho de hoje convida-nos a repensar a nossa forma de nos situarmos, quer na sociedade, quer dentro da própria comunidade cristã. A instrução de Jesus aos discípulos que o Evangelho deste domingo nos apresenta é uma denúncia dos jogos de poder, das tentativas de domínio sobre os irmãos, dos sonhos de grandeza, das manobras para conquistar honras e privilégios, da busca desenfreada de títulos, da caça às posições de prestígio... Esses comportamentos são ainda mais graves quando acontecem dentro da comunidade cristã: trata-se de comportamentos incompatíveis com o seguimento de Jesus. Nós, os seguidores de Jesus, não podemos, de forma alguma, pactuar com a "sabedoria do mundo"; e uma Igreja que se organiza e estrutura tendo em conta os esquemas do mundo não é a Igreja de Jesus.
A segunda leitura exorta os crentes a viverem de acordo com a "sabedoria de Deus", pois só ela pode conduzir o homem ao encontro da vida plena. Ao contrário, uma vida conduzida segundo os critérios da "sabedoria do mundo" irá gerar violência, divisões, conflitos, infelicidade, morte.
Uma palavra para o tema da oração, abordado no último versículo do nosso texto... Quando o nosso coração está cheio da "sabedoria do mundo", a nossa oração não faz sentido; torna-se um monólogo egoísta, uma pedinchice de coisas que se destinam a satisfazer as nossas "paixões", as nossas ambições, os nossos interesses pessoais. Antes de falar com Deus, precisamos de mudar o nosso coração, de reequacionar os nossos valores e as nossas prioridades, de aprender a ver o mundo e a vida com os olhos de Deus. Só então a nossa oração fará sentido: será um diálogo de amor e de comunhão, através do qual escutamos Deus, percebemos os seus planos, acolhemos essa vida que Ele nos quer oferecer.
A primeira leitura avisa os crentes de que escolher a "sabedoria de Deus" provocará o ódio do mundo. Contudo, o sofrimento não pode desanimar os que escolhem a "sabedoria de Deus": a perseguição é a consequência natural da sua coerência de vida.


O que é a "sabedoria de Deus"? A "sabedoria de Deus" é a atitude daqueles que assumiram e interiorizaram as propostas de Deus e se deixam conduzir por elas. Atentos à vontade e aos desafios de Deus, procuram escutá-l'O e seguir os seus caminhos; tendo como modelo de vida Jesus Cristo, vivem a sua existência no amor e no serviço aos irmãos; comprometem-se com a construção de um mundo mais fraterno e lutam pela justiça e pela paz. Trata-se de uma "sabedoria" que nem sempre é entendida pelos homens e que, tantas vezes, é considerada um refúgio para os simples, os incapazes, os pouco ambiciosos, os vencidos, aqueles que nunca moldarão o edifício social. Parece, muitas vezes, apenas gerar sofrimento, perseguição, incompreensão, dor, fracasso. No entanto, trata-se de uma "sabedoria" que leva o homem ao encontro da verdadeira felicidade, da verdadeira realização, da vida plena.

• Quem escolhe a "sabedoria de Deus", não tem uma vida fácil. Será incompreendido, caluniado, desautorizado, perseguido, torturado... Contudo, o sofrimento não pode desanimar os que escolhem a "sabedoria de Deus": a perseguição é a consequência natural da sua coerência de vida. Não devemos ficar preocupados quando o mundo nos persegue; devemos ficar preocupados quando somos aplaudidos e adulados por aqueles que escolheram a "sabedoria do mundo".

https://www.dehonianos.org/portal

sábado, 18 de setembro de 2021

As irmãs de Mem Soares Vão Partir




A caminho dos sessenta e um anos de presença nesta Diocese de Portalegre-Castelo Branco, as Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, partem, neste sábado, dia 18 de setembro de 2021.


Face a documentos existentes na Cúria Diocesana de Portalegre, os primeiros contactos das Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo e o Bispo desta Diocese, D. Agostinho de Moura, tiveram lugar pelo ano de 1954. A Irmã Sousa Prego, Provincial na altura, chegou a visitar Vila de Rei, com essa intenção, mas parece que nunca se instalaram naquela zona, a documentação não o comprova. A Ereção Canónica foi dada em 26 de outubro de 1960 para uma comunidade formada no Hospital Sub-Regional da vila de Nisa, para exercerem a missão de Enfermeiras.

A caminho dos sessenta e um anos de presença nesta Diocese de Portalegre-Castelo Branco, as Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, partem, neste sábado, dia 18 de setembro de 2021. Desde que chegaram, lançaram-se nesta feliz aventura de servir, com alegria e total dedicação à enfermagem e não só. Do Hospital de Nisa, repartiam-se em ação missionária, recordando-se com especial memória a atividade da Irmã Celina da Paixão Gomes, que não se cansava de andar de paróquia em paróquia, levando a Palavra e a alegria contagiante de fazer bem sem olhar a quem. Posteriormente, em 21 de novembro de 1984, a Comunidade estabeleceu-se em Mem Soares, Castelo de Vide, na Casa Diocesana que ali nascia. A Irmã Guiomar, que presidia, à época, ao Conselho Provincial das Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, e o Sr. Dom Augusto César, também ele antigo membro dos Padres Vicentinos e Bispo desta Diocese, assim delinearam as coisas, dado o alcance daquele Centro Diocesano de Pastoral na formação da fé. E ali se prontificaram a prestar a sua colaboração, de forma permanente e gratuita.

Em ligação com Mons. Francisco Vermelho, assumiram os destinos daquela Casa Diocesana de Pastoral, que foi servindo e tem continuado a servir como Centro Pastoral e Cultural Diocesano de Nossa Senhora das Graças, acolhendo cursos de formação, retiros para sacerdotes e leigos, cursilhos de cristandade, campos de férias de jovens, formação de catequistas, de ministros extraordinários da Comunhão e da celebração da Palavra na ausência de presbítero, iniciativas de formação litúrgica, reuniões de conselhos e organismos diocesanos, jornadas pastorais, reflexão e programação de atividades pastorais a nível diocesano, como as missões itinerantes a percorrer a Diocese organizando grupos de reflexão e oração, etc. etc…. Dali também divulgaram em diversas paróquias da Diocese, ao perto e ao longe, a Associação da Medalha Milagrosa, tendo assinalado a passagem do milénio com um pequeno monumento em honra de Nossa Senhora das Graças em frente da Casa Diocesana.

Na impossibilidade de continuarem por falta de vocações, partem com todos no coração e no desejo de continuarem a trabalhar ao serviço do Reino de Deus, enquanto as forças lho permitirem. A Irmã Superiora Provincial, Maria Fátima Viríssimo Ferreira, falou-nos do que lhe ia na alma. Lembrou a caminhada das Irmãs nesta Diocese, falou sobre os “dois anos de reflexão e de esforço para manterem esta comunidade”. No entanto, tudo ponderado, “chegou o momento de decidir a saída”. E se lhes é “muito constrangedor ter de tomar esta decisão”, as razões prendem-se com o facto “do envelhecimento das Irmãs, da pouca saúde e da falta de novas vocações, não dispondo de Irmãs, para assegurar um serviço de qualidade e a permanência na Instituição”.

Tantos anos de presença e de serviço acolhedor e alegre, preencheriam muitas e belas páginas de serviço à Igreja que seria bom fossem escritas.

Na pessoa da Irmã Provincial, e das Irmãs que agora partem, manifestamos a toda a Companhia das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo o nosso mais profundo reconhecimento diocesano e pessoal e auguramos-lhes muitas felicidades ao serviço do Reino de Deus, onde o Senhor da Messe as convidar a testemunhar a alegria da sua vocação na vida consagrada. E se rogamos a Deus pelas que já passaram para o outro lado da vida, que elas intercedam por todos nós e por esta Diocese de Portalegre-Castelo Branco.

Oxalá entendamos estes sinais dos tempos que o Senhor nos dá. E sejamos capazes de renovar a confiança no Senhor e de ousar novos caminhos de ação, os caminhos que Ele nos vai apontando. Os tempos que atravessamos desafiam-nos a renovar a confiança no Senhor, a persistir na oração, a não abandonar a ação, com alegria e esperança.

Obrigado, Irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Que o Senhor vos ajude.

Portalegre, 15 de setembro de 2021.





Antonino Dias

Bispo de Portalegre-Castelo Branco

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

PATOLOGIAS DUM PROGRESSO SEM REGRAS




O planeta Terra continua imprevisível. E vai-se queixando, aqui ou além, com calamidades e outras coisas mais. Não por ser um senhor casmurro, que acorda mal dormido e mal humorado. Em pés de lá ou com botas cardadas, há quem, num desordenado modo de conceber a vida e a ação humana, o faça sentir-se assaltado, espancado, espremido e abandonado, sem respeito pela sua extraordinária complexidade, harmonia e beleza sem igual. Para espicaçar o apetite do leitor a saber mais sobre as suas queixas, convido-o, mais uma vez, a pescar, no mar imenso do senhor doutor Google, a Carta Encíclica Laudato Si, cujo III Capítulo vou sintetizar. É um fármaco a não desperdiçar. Se o tomarem diariamente, em doses aconselháveis, é um medicamento profilático de alta qualidade. E excelente também para minimizar as graves doenças desta casa comum, antes que, desde os telhados aos alicerces, tudo vá pró maneta, e o maneta não fique atrás!... Embora o diga a brincar, a coisa é mais que séria!...
Mesmo quem vive noutro mundo ou muito distraído com futebóis e fantasias alienantes, não deixa de apreciar o avanço da ciência, da cultura, do progresso. E aqueles que, de calças rotas, mas remendadas e limpas!, já saltámos do milénio passado para este, em que muitos tinham de ir descalços à escola, a quilómetros de distância, sem transporte, sem ar condicionado, sem cantina nem bar onde pudessem comer o que agora lhes proíbem por tão apaparicados que são (e ainda bem!), não podemos deixar de agradecer o que, de facto, foi acontecendo: “somos herdeiros de dois séculos de ondas enormes de mudanças: a máquina a vapor, a ferrovia, o telégrafo, a eletricidade, o automóvel, o avião, as indústrias químicas, a medicina moderna, a informática e, mais recentemente, a revolução digital, a robótica, as biotecnologias e as nanotecnologias. É justo que nos alegremos com estes progressos e nos entusiasmemos à vista das amplas possibilidades que nos abrem estas novidades incessantes”. Imensas autoestradas se abriram, por terra e ar, nas mais diversas direções do saber e do fazer, e das respostas a dar às necessidades humanas. E mais veremos, tenham paciência e esperança!
No entanto, não são favas contadas que tudo esteja a ser usado de forma construtiva. Há muitos sintomas de doença, há patologias e desvios endeusados com consequências imprevisíveis. É um poder tal que, se está na mão de poucos, pode não significar progresso da humanidade e da história. Sobretudo quando se perde o sentido da responsabilidade e dos valores para bem gerir o uso desse poder. A liberdade do ser humano “adoece, quando se entrega às forças cegas do inconsciente, das necessidades imediatas, do egoísmo, da violência brutal”. Se ao longo dos milénios, o homem e a natureza caminhavam conjuntamente, dando-se as mãos, agora, o homem esqueceu essa nobre e educada delicadeza no trato e convivência com este jardim que lhe foi confiado. Vive apoiado na “mentira da disponibilidade infinita dos bens do planeta, que leva a ‘espremê-lo’ até ao limite e para além do mesmo”.
Os avanços da ciência, do saber e da técnica são um dom, uma graça, a humanidade mudou profundamente. No entanto, se é verdade que ninguém quer o regresso ao antigamente, “é indispensável abrandar a marcha para olhar a realidade doutra forma, recolher os avanços positivos e sustentáveis e ao mesmo tempo recuperar os valores e os grandes objetivos arrasados por um desenfreamento megalómano”.
Não podemos perder o sentido e a profundidade da vida. Não podemos viver numa espécie de vazio, de tédio enfadonho por entre uma permanente e globalizada novidade de produtos que entusiasmam os homens da economia e da técnica, os teóricos da finança e os promotores do ter e do poder próprio, mas exploram o povo, a natureza e, sobretudo, os mais pobres de entre os pobres. Os avanços da ciência e da técnica não são neutros. Se usados sem responsabilidade e valores, são daninhos, condicionam a cultura e os estilos de vida. Acabam por determinar e orientar “as possibilidades sociais na linha dos interesses de determinado grupo de poder”. Com boca doce, eles sabem impor a lógica do domínio que está para além da mera lógica do bem-estar e do bem-fazer. Pela sua teimosa influência, até se vai tornando “anti cultural a escolha dum estilo de vida, cujos objetivos possam ser, pelo menos em parte, independentes da técnica, dos seus custos e do seu poder globalizante e massificador”. E a vida “passa a ser uma rendição às circunstâncias condicionadas pela técnica, entendida como o recurso principal para interpretar a existência”. Os sintomas deste erro estão à vista: degradação ambiental, ansiedade, perda do sentido da vida, enfraquecimento da sã convivência social, uma economia que mata, uma tecnologia ao serviço do lucro, uma finança que sufoca a economia real. As reservas naturais vão-se esgotando, os ecossistemas sofrem, os problemas da fome e da miséria não se resolvem, agravam-se. Não há uma visão global da situação humana. Muitos não têm o básico, não se garante o desenvolvimento humano integral nem a inclusão social, não se respeita a vida, não se promove a ecologia integral. A fragmentação do saber, fez esquecer o desenvolvimento que a ciência gerou nas outras áreas, inclusive na área da filosofia e da ética social. Por tudo isso e muito mais, torna-se urgente “um olhar diferente, um pensamento, uma política, um programa educativo, um estilo de vida e uma espiritualidade que oponham resistência ao avanço do paradigma tecnocrático. Caso contrário, até as melhores iniciativas ecológicas podem acabar bloqueadas na mesma lógica globalizada. Buscar apenas um remédio técnico para cada problema ambiental que aparece, é isolar coisas que, na realidade, estão interligadas, é esconder os problemas verdadeiros e mais profundos do sistema mundial” (cf. LSi, 101-136).
Entre nós, no Alentejo, sente-se alguma preocupação com as culturas ou monoculturas intensivas ou superintensivas. Nutrientes, fertilizantes, desinfeção de pragas, maquinarias, rega, transportes dos produtos, etc. etc., acompanham o processo. E quem vê com os olhos de querer ver, não vê. Mesmo que estique os olhos por entre a imensa extensão das explorações, aliás, bonitas de se verem, fica sem enxergar bem se os pequenos produtores já foram dando à sola ou se viraram em assalariados precários, se a diversidade produtiva deu às de vila-diogo e levou atrás de si a economia agrícola regional, se a mão-de-obra é escrava, se os lucros são tributados na região, se ao menos no país, se todos ou quase todos em Espanha. O que parece verdade certinha, é que, em muitos locais, muitas espécies da biodiversidade já tiveram de comprar bilhete de “voos low cost” para migrar. E as safadas, encrespadas com tanta insistência das TVs em mostrar os técnicos a espetar a agulha da vacina no braço ou a enfiar a zaragatoa por nariz abaixo do cliente, até se aventuraram a partir sem certificado de vacinação e máscara, aceitando apenas a obrigação de cumprir o rápido distanciamento, antes que fosse tarde. E não eram negacionistas, não senhor. Inteirámo-nos junto de fonte fidedigna e bem informada, embora sigilosa, claro!


D. Antonino Dias . Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 2021-09-17.


Como posso viver melhor?








Se queres ser mais do que és, o fundamental é começares por conhecer-te a ti mesmo. Cada um de nós é único e diferente, pelo que as escolhas individuais devem ser ponderadas de acordo com as fragilidades, forças e dons, pilares da nossa identidade.

Se ter uma vida boa e feliz é um grande objetivo de quase todos nós, isso não significa que todos tenhamos de fazer o mesmo para o alcançar. Depende sempre muito do ponto do caminho onde se está e das capacidades de que dispomos.

Para saberes o que é bom e mau para ti, tens de saber bem quem és! O bem e o mal não variam de pessoa para pessoa, mas a forma como cada um de nós tem o dever de os aplicar em cada circunstância, sim.

Não vale a pena ansiares por lugares de sonho se não sabes onde estás. Pouco vale ter objetivos de vida se não nos conhecemos.

Investe algum tempo a observares-te com paciência, como se fosses alguém que pretende ter informações importantes sobre ti: Como ages e como reages ao que te acontece? O que te alegra e o que te entristece? O que te atrai e o que te repugna? De quem gostas, de quem não gostas e qual o critério para uns e para outros? Quais são os teus sonhos e, ainda mais importante, que medos têm poder, ainda que subtil, sobre ti?

Mas nada disto teria sentido se nós não fossemos também criadores de nós mesmos.

Cada um de nós é quem é, mas deve-o, em parte, a si mesmo.

Se tudo o que faz parte do passado é imutável, muito do que ainda não o é está em aberto.

Esta liberdade assusta-nos. Confessamos muitas vezes viver mal. Quando confrontados com a possibilidade de mudar isso, resistimos ao ponto de… preferirmos o mal ao bem.

Tu és, em ti mesmo, uma possibilidade. De bem, de mal ou de nada.

Se queres mesmo ser feliz, é importante que assumas que os caminhos para lá chegar são íngremes e agrestes. Tão duros que, por mais paradoxal que te possa parecer, cumpri-los já é ser feliz!


José Luís Nunes Martins


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Rezar a Vida: Livre para amar

 




“Falta-te apenas uma coisa: vai, vende tudo o que tens,

dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu;

depois, vem e segue-me.” (Mc 10, 21).



À semelhança do jovem rico, também eu corro para ti e ajoelho-me porque reconheço que és o único que pode saciar a minha sede de amor e alimentar a minha fome de viver em relação contigo e com os outros.

Reconheço que tu és o caminho que quero percorrer, a verdade que quero conhecer e a vida que me restitui e recria, abrindo um horizonte inesgotável de oportunidades para ser mais (magis).

Vida que não se deixa conter pelos limites humanos e que transcende todas as fronteiras terrenas. Vida que nos veio mostrar que é possível renunciar-se à bandeira do mundo e das suas riquezas, poder e fama, e atrever-se a escolher todos os dias a bandeira da simplicidade, humildade e serviço aos outros, içando-a bem alto com a confiança de quem sabe que só em ti está a verdadeira alegria e a paz de uma vida plena.

Pesarosa e de semblante anuviado apercebo-me que, por mais que queira ter a ousadia de quem deixa tudo para seguir-te, tenho ainda “bens” que me aprisionam e me detêm e que só a tua graça desvelará os meus enganos e ilusões para deles me libertar.

Ajuda-me a despertar os sentidos entorpecidos que se defendem de sentir; a quebrar as amarras da desconfiança que me impedem de rasgar o coração e mostrar-me aos outros despida de todas as máscaras que escondem a minha vulnerabilidade; e liberta-me do medo de voltar a sofrer porque nenhum amor que valha a pena é isento de lágrimas e dor.

Seja a tua cruz o meu exemplo e o meu desejo de ver em ti novas todas as coisas!




Raquel Dias


quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Onde está Deus?





O mundo está a ultrapassar uma fase complicada. Dos desastres naturais que ocorrem de uma ponta à outra do mundo, à pandemia Covid-19, até à crise humanitária que se vive no Afeganistão e no Haiti. Perante tudo isto, muitos perguntam: Onde está Deus?

Quando confrontados com todas as vivências que ocorrem no mundo atual, muitos questionam a presença de Deus, porque Deus não permitiria tudo isto. Mas é preciso retirarmos as vendas dos olhos para vislumbrar a presença incrível de Deus nos dias de hoje.

Se pensarmos bem, todas estas crises têm a mão do Homem. O Homem que se centra em si e não no outro, que prefere o dinheiro e o poder ao amor, que resolve tudo com violência em vez da paz. A mão do Homem que agora se percebe pequeno perante a grandeza da Natureza que não consegue controlar. A culpa de tudo o que vivemos não é de Deus, é do Homem. Mas então, onde está Deus?

Se retirarmos as vendas dos olhos, conseguimos ver e sentir a presença de Deus. Deus que está nos milhões de profissionais de saúde espalhados pelo mundo e que formam a linha da frente na guerra contra o Covid-19. Eles que colocam as suas vidas em perigo para salvar vidas, porque todas as vidas contam. Eles que se colocam em último para que todos os outros possam ser os primeiros. Eles que também choram, que dão a mão, que precisam de um abraço, mas que dão os mais apertados. Deus está neles!

E está em todos os militares que arriscam as suas vidas para combater a guerra e trazer a paz ao mundo. Eles que defendem o seu país e o país dos outros, para que cidadãos inocentes possam ter direito à vida. Eles que enfrentam terroristas, que ensinam povos, que dotam de conhecimentos, que acalmam e protegem. Eles que também têm medos e desligam o botão dos sentimentos para poderem ir à luta. Deus está neles!

E também está em todos os voluntários que se multiplicam para ajudar todos os que enfrentam crises humanitárias, de saúde e de causas naturais. Eles que recolhem materiais e fundos, que os distribuem por quem necessita, que dão cor ao mundo cinzento destes povos. Deus está neles!

Mas não só neles! Deus está em ti! Tu que podes dar a mão, que te podes entregar, que podes ser a paz, a cor e o amor que o outro precisa. Tu que tens o poder de tornar o mundo um lugar melhor, com as mais pequenas atitudes. Deus está nos profissionais de saúde, nos militares e nos voluntários, mas principalmente, Deus está em ti!


Joana Carvalho



terça-feira, 14 de setembro de 2021

Comunicado da reunião do Conselho Permanente da CEP




 Fátima, 14 de setembro de 2021

1. Tendo em conta a situação atual da evolução da pandemia, continuaremos a realizar as nossas celebrações e atividades pastorais com os devidos cuidados sanitários e de segurança, quanto à higienização, uso de máscaras e razoável distanciamento.

Recomendamos que, com os devidos cuidados e observância das normas, sejam dignificadas as exéquias cristãs e se realizem as procissões e outras atividades pastorais, como a catequese e outros encontros.

De acordo com o evoluir da situação e as orientações das autoridades de saúde, serão tomadas novas orientações na reunião do Conselho Permanente de outubro e, sobretudo, na Assembleia Plenária de 8-11 de novembro.

2. Sobre o processo sinodal convocado pelo Santo Padre para toda a Igreja, que vai decorrer de outubro de 2021 a outubro de 2023, sobre o tema “Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”, o Conselho tomou nota das orientações vindas da Secretaria Geral do Sínodo, expressas no Documento Preparatório e no Vademecum com os seus quatro anexos, e salientou o seguinte no que diz respeito às Dioceses e à Conferência Episcopal:

  • Cada Diocese fará a abertura do processo sinodal numa celebração litúrgica, no dia 17 de outubro de 2021.
  • Cada Bispo Diocesano nomeará uma Pessoa de Contacto e uma Equipa Sinodal Diocesana para coordenar e dinamizar o processo (essa equipa manterá funções até 2023 e a seguir, na fase de receção do Sínodo).
  • As perguntas essenciais e as dez áreas temáticas encontram-se no Vademecum.
  • No final do processo, cada Diocese fará uma Síntese de 10 páginas, segundo metodologia apresentada no Vademecum e anexos, a qual deverá ser enviada ao Secretariado Geral da CEP até finais de março.
  • Também até finais de março, cada Diocese fará uma Reunião Pré-Sinodal, centrada na celebração da Eucaristia, apresentando nessa altura a Síntese preparada.
  • A partir das Sínteses diocesanas, um grupo nomeado pela CEP fará a Síntese final, também de dez páginas, a ser enviada em abril à Secretaria Geral do Sínodo.
  • A Reunião Pré-Sinodal da CEP coincidirá com a Assembleia Plenária de 25-28 de abril de 2022.
  • O Secretário da CEP será a Pessoa de Contacto com a Secretaria Geral do Sínodo.

 

3. O Conselho apreciou uma proposta de agenda para a próxima Assembleia Plenária, a qual terá a sua aprovação final na reunião do Conselho Permanente de outubro.

4. No âmbito da JMJ Lisboa 2023, o Conselho aprovou uma proposta de estudo “Jovens, fé e futuro”, que será realizado pelo Centro de Estudos em Povos e Culturas de Expressão Portuguesa da Universidade Católica Portuguesa.

Congratulou-se ainda pelo bom andamento da peregrinação dos Símbolos (Cruz e Ícone de Maria) em Angola, na Polónia e agora na Espanha, antes de se iniciar nas Dioceses portuguesas a partir de novembro de 2021.

5. O Conselho manifestou a sua congratulação pelo início da Faculdade de Medicina da Universidade Católica Portuguesa, cuja inauguração aconteceu hoje.

6. O Conselho expressou a sua oração e homenagem a dois homens recentemente falecidos: Dr. Acácio Catarino, sempre atento às questões sociais, nomeadamente como Presidente da Cáritas Portuguesa; Dr. Jorge Sampaio, pelo serviço à democracia e à sociedade, como Presidente da República e em vários cargos a nível internacional.

7. O Conselho apelou ainda ao direito e dever dos cidadãos em participarem nas próximas eleições autárquicas através do seu voto livre, consciente e democrático.




Hoje a Igreja celebra a Exaltação da Santa Cruz

 



(ACI).- “Algumas pessoas não cristãs podem se perguntar: por que ‘exaltar’ a cruz? Podemos responder que nós não exaltamos uma cruz qualquer ou todas as cruzes: exaltamos a Cruz de Jesus Cristo, porque é nela que foi revelado o máximo amor de Deus pela humanidade”. Assim o papa Francisco explicou a festa que é celebrada neste dia 14 de setembro: a Exaltação da Santa Cruz.

Em sua reflexão antes do Ângelus Dominical, em 14 de setembro de 2014, Francisco afirmou que “a Cruz de Jesus é a nossa única e verdadeira esperança”.

O papa disse que “quando olhamos para a Cruz onde Jesus foi pregado, contemplamos o sinal do amor infinito de Deus para cada um de nós e a raiz da nossa salvação. ‘Daquela Cruz vem a misericórdia do Pai que abraça o mundo inteiro’”.

Segundo manifesta a história, foi em 14 de setembro de 320 que Santa Helena, imperatriz de Constantinopla, encontrou o madeiro em que morreu o Cristo Redentor. No entanto, em 614, a Cruz foi levada pelos persas como um troféu de guerra.

Mais tarde, o Imperador Heráclio a recuperou e voltou com a Cruz para a Cidade Sagrada no dia 14 de setembro de 628. Desde então, celebra-se liturgicamente esta festividade.

Quando a Santa Cruz chegou novamente a Jerusalém, o imperador se dispôs a acompanhá-la em solene procissão, mas vestido com todos os luxuosos ornamentos reais e logo se deu conta de que não era capaz de avançar.

Então, o Arcebispo de Jerusalém, Zacarias, lhe disse: “É que todo esse luxo que carrega está em desacordo com o aspecto humilde e doloroso de Cristo quando carregava a cruz por essas ruas”.

O imperador se despojou de seu manto de luxo e de sua coroa de ouro e, descalço, começou a percorrer as ruas e pôde seguir a piedosa procissão.

Para evitar novos roubos, o Santo Madeiro foi dividido em quatro pedaços e separados entre Roma e Constantinopla, enquanto o que ficou em Jerusalém foi deixado em um belo cofre de prata. Dos quatro fragmentos, foram feitos pequenos pedaços para serem distribuídos em várias Igrejas do mundo, os quais foram chamados de Vera Cruz.

Na vida dos santos narra-se que Santo Antônio Abade, ao ser atacado por terríveis tentações do demônio, fazia o sinal da cruz e o inimigo fugia. Desde esse tempo, afirmam, tornou-se costume fazer o sinal da cruz para se libertar dos males.

Outro fato poderoso e sagrado deste sinal foi mostrado pela Santíssima Virgem Maria que, ao aparecer pela primeira vez à Santa Bernardette e ao ver a menina quis se benzer, Nossa Senhora fez o sinal da cruz bem devagar para lhe ensinar que é necessário fazê-lo com calma e mais devoção.