Ainda é Verão, mas fomos arremessados por uma(s) tempestade(s) que nos roubaram o sol e algum ânimo. Neste tempo de regresso ao trabalho para tantos de nós, é como se até a meteorologia não se compadecesse de nós. Já não bastava termos que ser arrancados das espreguiçadeiras, ainda temos que suportar ventanias, varetas de guarda-chuva partidas e a insuportabilidade do trânsito.
Esta semana o tempo alinhou-se com o nosso estado de espírito. Mas quantas vezes somos tempestade mesmo com o Sol a brilhar lá fora? Quantas vezes sentimos que o que nos chove na alma nos faz buracos do lado de dentro do peito? Quantas tempestades trazemos dentro, afinal?
Na verdade, a tempestade e as tempestades fazem parte do que somos e deviam ter o mesmo espaço que reservamos para a alegria e para a festa. Somos profundamente preconceituosos no que respeita aos nossos lados negros. Às nossas nuvens feias e escuras. Essa impossibilidade de aceitarmos os relâmpagos que nos saem, por vezes, do coração paga-se muito cara. As tempestades interiores que não acolhemos e que não abraçamos podem rebentar-nos por dentro e destruir-nos. Claro que ninguém gosta tanto de uma tempestade como de um dia de sol, mas isso não significa que a neguemos. Que a calemos. Que façamos de conta que só existem dias de sol e de calma.
Podemos ser tempestade e dia de sol.
Podemos ser silêncios ou sinceridade rasgada em palavras.
Podemos ser doentes nalgumas partes de nós e ser infinitamente saudáveis noutras.
Podemos ser boas pessoas e pessoas pouco tolerantes.
Podemos ser paciência e rastilho curto.
Podemos ser gentileza ou sobrancelha franzida.
Podemos ser tolerantes ou preconceituosos.
Na verdade, somos um pouco de tudo o que é bom e mau. Para ser mais inteiro e para crescer para o lado certo, há que saber olhar com verdade (e com amor!) para os dias de sol, mas, principalmente, para as tempestades. Para as nossas. Para as dos outros e para aquelas que, sem querer, fizemos nascer.
Marta Arrais
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