Persiste ainda a ideia de que não se pode seguir um caminho de fé sem que este nos traga um peso ou um ar sisudo. Durante anos e anos acreditou-se que uma celebração ou um ato de fé só teriam dignidade se se refletissem em gestos rígidos e em faces pouco jubilosas.
No entanto, é fácil perceber-se, através dos relatos dos Evangelhos e até mesmo pela história de vários santos, que isto da fé só pode ser levado a sério se não nos levarmos tão a sério. E que Deus não se afasta de nós por andarmos de rosto alegre durante as suas celebrações ou durante uma oração. Ele fez-nos para esta felicidade. E sim, é possível anunciar este Verbo "conjugando-o" com alegria e boa disposição. O próprio Cristo, ao estar rodeado sempre por vários homens, mulheres e crianças, teria muitas vezes que rir-se dos outros e com os outros. Ou achamos mesmo que o Messias não tinha tempo para tal? Acreditamos mesmo que o Messias, naquele tempo, conquistaria o coração de multidões se andasse sempre de face fechada? Aquela gente já tinha sofrimento suficiente naquela época, e não precisavam de alguém que lhes colocasse um peso maior nas suas vidas.
A fé não tem de ser um fardo. Para isso já temos os problemas do nosso quotidiano. Para isso já existem as preocupações do dia a dia que nos consomem e que tantas vezes não nos permitem andar de rosto arejado. A fé serve para nos tornar leves e, assim, podermos chegar mais perto do Pai. A fé serve para nos relembrar da alegria eterna anunciada na manhã de Páscoa e não para nos deixarmos ficar amorfos na tristeza da Sexta-feira santa.
A alegria de viver a fé é, sem dúvida alguma, uma forma de se caminhar para a santidade. É através da alegria, do sorriso e do riso dos outros que encontramos tantas vezes o rosto de Deus.
Não quero com isto dizer que a fé seja coisa para se levar na brincadeira, nem para ser motivo de rebaldaria. A fé é para se levar a sério e não há nada mais sério do que podermos olhar para toda a nossa história e conseguirmo-nos rir com a certeza de que sabemos que Ele sempre está.
A alegria e a fé partilham do mesmo poder: ambas nos elevam diante deste mistério que é a nossa vida!
Hoje, antes de te fechares nas tuas certezas, pergunta-te: a tua fé prende-te ou liberta-te? A tua fé anima ou aborrece os que se cruzam contigo?
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