Nunca estamos bem. Ou não temos dinheiro ou não temos saúde. Ou queremos estar sozinhos ou queremos que não nos larguem a mão. Ou queremos poupar muito para o futuro ou gastar tudo porque só se vive uma vez. Ou gostávamos de um trabalho de sonho mesmo com outras áreas a correr mal ou preferimos que tudo o resto corra bem, mesmo não tendo um trabalho maravilhoso. Ou sentimos que o que conta é o que se é. Ou fazem-nos sentir que o que conta é o que se tem.
Sabemos realmente o que queremos? Ou este jogo dos contrários faz parte da própria vida?
Viver insatisfeito é uma realidade de muitos de nós. Parece que nos falta sempre subir mais um degrau ou realizar mais aquele ou o outro projeto. É como que vivêssemos para o que não temos ou não nos foi dado ao invés de nos concentrar-nos (e de disfrutarmos) daquilo que já está a fazer parte da nossa realidade. Temos sempre os “mas” a dançar na nossa cabeça e no nosso coração:
“Sim, isso está a correr bem, mas aquilo…”
Quase me parece que temos gosto em boicotar as nossas alegrias já existentes, o nosso dia-a-dia já, tantas vezes, recheado de tesouros e de bênçãos. Na verdade, vivemos a correr atrás do prejuízo por nunca conseguirmos contemplar aquilo que já é nosso.
Se eu não pensar tanto no que me falta, o que já consigo dizer que tenho?
Já pensei no tanto que me é dado a cada dia? Já agradeci?
O que nos falta, mesmo, é praticar mais a gratidão. Esquecer, por momentos, as hipóteses, os cenários imaginados e semi perfeitos e viver, apenas, com o que nos é dado hoje. E agora.
Pôr em prática esta teoria tem muito que se lhe diga e vai ser, provavelmente, difícil. Mas, se conseguimos a proeza de viver focados num tempo que já não temos (no passado) ou no que ainda não chegou (no futuro) não seremos também capazes de nos desafiar a viver no presente?
Entre as mil e uma coisas que não sabemos, há uma certeza que nos é dada:
Só temos o momento que temos.
Que vamos fazer com isso?
Marta Arrais
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