terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Alegria

Bem-aventuradas as famílias que dizem de si mesmas: “somos um laboratório para a alegria”

Tolstoi começa o seu romance “Anna Karenina” dizendo que «Todas as famílias felizes se parecem, mas cada família infeliz é infeliz à sua maneira». A felicidade, porém, é tão singular como o sofrimento. Se o modo de chorar é pessoalíssimo, também o é o modo de rir. Diz-nos Jesus no Evangelho de S. João: «Eu quero que a alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa» (Jo 15,11). E: «Ninguém vos poderá roubar a vossa alegria» (Jo 16,22). Há, portanto, uma alegria que nada nem ninguém nos pode tirar, e que constitui o horizonte da nossa vida. É fundamental que a família coloque os olhos no horizonte e sinta que é para a alegria que está a ser chamada. É para a roda dos eleitos. E, por isso, desloca infatigavelmente o seu coração do peso da sombra para a leveza da luz. Na verdade, somos atravessados, somos conduzidos, somos levados pela mão de uma promessa, e essa promessa é a alegria. A alegria é sempre um dom. A alegria nasce quando eu aceito construir a minha vida numa cultura de hospitalidade. Se insonorizo o meu espaço vital, a alegria não me visita.

Em vez de crescermos na severidade, na intransigência, na indiferença, no sarcasmo, na maledicência, no lamento, caminhemos esperançosamente no sentido contrário. Cresçamos na simplicidade, na gratidão, no despojamento e na confiança. A alegria tem a ver com uma essencialidade que só na pobreza espiritual se pode acolher. Bem-aventuradas as famílias que dizem de si mesmas: «somos um laboratório para a alegria»; «somos uma escola do sorriso»; «somos um ateliê para a esperança»; «somos uma fábrica para o abraço e para a dança».

Armando Spadini, 1918

José Tolentino Mendonça
Pontifícia Universidade Católica-Minas, Belo Horizonte, Brasil,

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