quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Francisco está continuando a construção da Igreja de Bento XVI?

Evidências indicam uma continuidade entre ambos que é maior do que se pensa



Nos parágrafos 93 a 97 da Evangelii Gaudium, o papa Francisco fala de duas formas de "mundanidade espiritual" que ele vê como obstáculos para o verdadeiro cristianismo. Uma comparação dessas passagens com o que Joseph Ratzinger previu como o futuro da Igreja sugere que o papa actual e o papa emérito compartilham a visão do que a Igreja terá de se tornar nos próximos anos. As coisas que se interpõem no caminho da Igreja imaginada por Ratzinger são as mesmas que o papa Francisco identifica como problemáticas.

Escrevendo no fim da década de 1960, Ratzinger parece prever o colapso total do catolicismo cultural e das instituições que o caracterizam:

"Da crise de hoje emergirá a Igreja de amanhã, uma Igreja que terá perdido muito. Ela se tornará pequena e terá de recomeçar mais ou menos do início. Ela não conseguirá habitar muitos dos edifícios que construiu nos tempos de prosperidade. Com o número de seus adeptos diminuindo, ela perderá muitos dos seus privilégios sociais. Em contraste com épocas anteriores, ela será vista muito mais como uma sociedade de entrada voluntária, à qual se adere apenas por livre decisão".
A Igreja, Ratzinger previu, perderia o seu prestígio social e muitas das suas instituições. Compare essa previsão com a condenação que Francisco faz do mundanismo espiritual que ele chama de gnosticismo:

"Esse mundanismo espiritual se esconde atrás de um fascínio com o ganho social e político, ou do orgulho pela capacidade de gerir negócios práticos, ou da obsessão com programas de auto ajuda e auto realização. Ele pode se traduzir ainda na preocupação por ser visto, na vida social cheia de aparências, reuniões, jantares e recepções. Ele também pode levar a uma mentalidade de negócios, feita de gestões, estatísticas, planos e avaliações cujo beneficiário principal não é o povo de Deus, mas a Igreja como mera instituição".
Além de tratar dos artigos da fé apenas como um "conjunto de ideias e dados que servem para consolar e iluminar", esse gnosticismo católico está concentrado em manter as instituições e os projectos para salvar as aparências: ele tenta preservar justamente os privilégios sociais e os edifícios institucionais que Ratzinger previu que a Igreja teria de se preparar para abandonar.

Entre os edifícios que terão de ser abandonados, há certamente inúmeras escolas católicas, hospitais e instituições de caridade. Muitas paróquias erguidas em notável número das grandes cidades dos Estados Unidos fecharam nas últimas décadas. O aumento da pressão cultural em torno do que é eufemisticamente chamado de "cuidados reprodutivos" e da supervisão da indústria médica pelo governo pode levar muitos hospitais católicos a ser vendidos ou forçados a fechar as portas, inclusive os que foram criados há poucas décadas. A instituição das uniões do mesmo sexo vem extinguindo em vários Estados as agências católicas de adopção, que tinham sido as mais eficientes nas suas respectivas regiões.

Em dado momento, teremos que estar prontos para abandonar o prestígio de realizar um grande número de programas "católicos", cortando o laço institucional que identifica a Igreja como a progenitora desses esforços de caridade. Se insistirmos em manter a “identidade católica” das instituições só porque o catolicismo oferece um certo “efeito terapêutico”, mas nunca foi ou não é mais integrado plenamente à sua missão, então teremos caído na armadilha dessa primeira forma de mundanismo espiritual.


Timothy Kirchoff : sources: Aleteia

Sem comentários:

Enviar um comentário

Este é um espaço moderado, o que poderá atrasar a publicação dos seus comentários. Obrigado