sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Oferecer


Inesquecível gesto, cravado entre o céu e a terra, de um Deus que se ofereceu.
Por inteiro.

Oferecer.
Colocar nas mãos do outro um objeto é sempre oferecer algo de invisível, que revela aquilo que você é. No fundo, é sempre oferecer a si mesmo.

Como as folhas, no final da estação, se oferecem ao vento, como um barco, depois da tempestade, se oferece ao sabor das ondas, da mesma forma, oferecer-se é sentir a força ou a doçura do outro.É deixar-se levar pelos cuidados ou esperas dos outros por você.

Oferecer é um gesto que acontece no presente, mas que traz em si o futuro.
É começar a caminhar sobre uma ponte da qual não se enxerga o final, imerso na neblina do lado oposto.É saborear o sentimento de um futuro que acolhe e que se aproxima de você.

Entretanto, quem olha apenas o passado, e se fecha para admirá-lo, perde a chance de mudar. Fecha-se em si mesmo e em certezas que, talvez, não tenham um amanhã.
Oferecer, na verdade, é sempre um desafio ao medo do novo, do vazio e da reação do outro.

Oferecer é romper o círculo fechado da lógica do levar, do aproveitar-se ou do apossar-se.
Para unir-se à gratuidade evangélica dos lírios do campo e dos pássaros do céu.
Oferecer uma vida - como a sua - é mudar o mundo inteiro.

Oferecer-se é reunir nas palmas das mãos aquilo que você é e entregá-lo.
Como uma onda que vem de longe, você oferecerá aquilo que já recebeu faz tempo.
E, ainda, o amor que concebeu você, quando os outros lhe deram a vida.

E dessa forma que a macieira sustenta seus ramos carregados de frutos e de folhas, no ato de mostrar aquilo que, nela, produziram o céu e a terra, o esforço dos seres humanos, a alegria de florescer e a espera paciente...
Oferecer é fruto de uma história de dádivas que abarrotaram você e que o ensinaram a oferecer-se.

Mas oferecer é também abrir os braços para unir entre eles duas extremidades.
Oferecer-se é tornar-se um elo em terras que antes não eram conhecidas e que, com você, podem finalmente ser tocadas.
E é um milagre que você possa fazer isso entre as duas partes quando, por vezes, um abismo as separa.

Entre as criaturas humanas e culturas diferentes, entre imigrantes e habitantes de um lugar, oferecer-se é considerar o encontro com elas mais importante que sua própria pessoa, quando então seu corpo, abrindo-se, comunga entre eles.

E o gesto humilde e fecundo de unir realidades distantes entre si.

Renato Zílio

Do livro: Elogio do encontro - Paulinas

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