segunda-feira, 31 de julho de 2023

A fé é o princípio da felicidade


Há uma diferença fundamental entre os que vivem com medo e os que vivem felizes: a forma como encaram o seu futuro.

Quem tem medo fecha-se e prepara-se para o sofrimento que julga certo. Os que vivem felizes acreditam sempre que algo de bom virá a seguir, mesmo que estejam no meio de uma tempestade e por mais improvável que possa ser.

A fé é uma paixão que se quer sentir. Uma força de viver que se decide ter, mesmo que contra as evidências. As aparências acabam por ser apenas e só isso mesmo, nada mais do que a camada superficial do mundo.

Uma pessoa deprimida tem e terá sempre razões concretas para estar triste e desconfiada a respeito dos seus amanhãs. O pessimismo é, apesar de tudo, lógico, prudente e sensato. Mas quem espera e se prepara para o pior acaba, muitas vezes, por nem reconhecer o bem quando ele aparece em vez do mal.

É verdade que tudo pode sempre piorar. Mas é mentira que tenha de ser sempre assim. O que escolhemos esperar determinará o nosso caminho. Com medo, o futuro é perigoso, o presente é traumático e só o passado nos parece confortável.

Se sinto medo, há guerra em mim, se tenho fé, há paz no meu coração.

Com medo escondo-me, com amor entrego-me.

Na verdade, parece que é mais fácil imaginar tragédias do que sonhar com a felicidade, de tal forma que há até quem tenha medo de sonhar, com medo das desilusões… ora, haverá maior maldade do que alguém assassinar a sua própria esperança?

Sem fé não há esperança, sem esperança não há amor, porque o amor é a força da felicidade.

A fé é uma espécie de imprudência, mas resulta! Porque o mundo não se move pelas lógicas da razão, mas sim pela bravura da vontade dos que, acreditando que podem fazer a diferença, se entregam para que felicidade dos outros os faça felizes.

O amor supõe implica tomar por certo o incerto, lutando pela felicidade contra até a própria lógica, entregando a própria vida por uma intenção que é uma loucura aos olhos do mundo.

José Luís Nunes Martins

domingo, 30 de julho de 2023

O Tesouro

 


A liturgia deste domingo convida-nos a reflectir nas nossas prioridades, nos valores sobre os quais fundamentamos a nossa existência. Sugere, especialmente, que o cristão deve construir a sua vida sobre os valores propostos por Jesus.
A primeira leitura apresenta-nos o exemplo de Salomão, rei de Israel. Ele é o protótipo do homem "sábio", que consegue perceber e escolher o que é importante e que não se deixa seduzir e alienar por valores efémeros.
Algumas pessoas e grupos com um peso significativo na opinião pública procuram vender a ideia de que a realização plena do indivíduo está num conjunto de valores que decidem quem pertence à elite dos vencedores, dos que estão na moda, dos que têm êxito... Em muitos casos, esses valores propostos são realidades efémeras, materiais, secundárias, relativas. Quase sempre, por detrás da proposição de certos valores, estão interesses particulares e egoístas, a tentativa de vender determinada ideologia ou a preocupação em tornar o mercado dependente dos produtos comerciais de determinada marca... O "sábio", contudo, é aquele que está consciente destes mecanismos, que sabe ver com olhar crítico os valores que a moda propõe, que sabe discernir o verdadeiro do falso, que distingue o que apenas tem um brilho doirado daquilo que, na essência, é um tesouro que importa conservar. O "sábio" é aquele que consegue perceber o que efectivamente o realiza e lhe permite levar a cabo, dentro da comunidade, a missão que lhe foi confiada. Como é que eu me situo face a isto? O que me seduz e que eu abraço é o imediato, o brilhante, o sedutor, ainda que efémero, ou é o que é exigente e radical mas que me permite conquistar uma felicidade duradoura e concretizar o meu papel no mundo, na empresa, na família ou na minha comunidade cristã?
No Evangelho, recorrendo à linguagem das parábolas, Jesus recomenda aos seus seguidores que façam do Reino de Deus a sua prioridade fundamental. Todos os outros valores e interesses devem passar para segundo plano, face a esse "tesouro" supremo que é o Reino.
Mais uma vez o Evangelho convida-nos a admirar (e a absorver) os métodos de Deus, que não tem pressa nenhuma em condenar e destruir, mas dá tempo ao homem - todo o tempo do mundo - para amadurecer as suas opções e fazer as suas opções. Sabemos respeitar, com esta tolerância e liberdade, o ritmo de crescimento e de amadurecimento dos irmãos que nos rodeiam?
A segunda leitura convida-nos a seguir o caminho e a proposta de Jesus. Esse é o valor mais alto, que deve sobrepor-se a todos os outros valores e propostas.
Diante da oferta de Deus, somos livres de fazer as nossas opções - opções que Deus respeita de forma absoluta. No entanto, a vida plena está no acolhimento desse "valor mais alto" que é o seguimento de Jesus e a identificação com Ele. É esse o "valor mais alto", o "tesouro" pelo qual eu optei de forma decidida no dia do meu baptismo? Tenho sido, na caminhada da vida, coerente com essa escolha?

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sábado, 29 de julho de 2023

É hora de um novo respirar!


Chegou o momento. As pré-jornadas iniciaram. Os peregrinos já começaram a pisar o solo luso e sente-se, nas ruas das nossas cidades, a tão desejada “pressa no ar”. Vê-se nos rostos de cada um a alegria e a esperança de uma vivência em comunidade, mas acima de tudo sente-se o desejo de quererem fazer caminho sustentado no diálogo e na procura. Na procura de si. Do outro. E, claro, deste Deus apresentado por Jesus Cristo.

Tem sido um ano carregado de muita polémica. Iniciando com os casos dos abusos sexuais e terminando com toda a controvérsia sobre como deveria ser gerida e sustentada esta Jornada Mundial da Juventude. E continuarão a ser tempos controversos para a Igreja Católica Apostólica e Romana, em Portugal e no Mundo, mas esta JMJ 2023 pode dar um novo alento. Aos crentes, aos agnósticos e até aos ateus. Poderá ser, sem dúvida alguma, um novo respirar.

Mas só se respirará mais e melhor dentro da Igreja se formos capazes de renovar. E bem sabemos que para arejar a Igreja precisamos de escancarar todas as portas e deixar que o vento - esse sopro divino que conhecemos como Espírito Santo - sopre a toda a força. É verdade que quando se abrem todas as portas pode existir uma corrente de ar capaz de deitar tudo abaixo e isso deixar-nos assustados. Podemos ficar com medo, mas mais do que nunca sabemos que as portas não podem mais ficar fechadas. Está tudo cheio de mofo e o ar é pesado.

Precisamos de abrir as portas. Não têm de ser todas de uma vez, mas temos de pelo menos dar a conhecer ao mundo que as portas estão entreabertas. Temos de dar a conhecer ao mundo que, apesar de ainda não estarem todas as portas abertas, estamos recetivos a criar e a encontrar a chave para todas elas. E a JMJ 2023 pode ser, sem dúvida alguma, o grande chaveiro.

É na Jornada Mundial da Juventude que temos de testemunhar Aquele em quem acreditamos. Não O podemos testemunhar se continuarmos a acreditar que a Sua mesa é só para alguns. Não O podemos testemunhar se continuarmos a acreditar que valem mais sacrifícios do que misericórdia. Não O podemos testemunhar se continuarmos a acreditar que a alegria não é condizente com a dignidade e a sacralidade. Não O podemos testemunhar se continuarmos a acreditar que somos donos e senhores da vida dos outros. Não O podemos testemunhar se continuarmos a acreditar que a conversão acontece pela doutrina.

A Igreja abrirá portas e tornar-se-á ar puro para a sociedade, se conseguir aproveitar a alegria, a cor e o brilho dos jovens. A Igreja abrirá portas e tornar-se-á ar puro para a sociedade, se não permitir que o medo à mudança congele as suas decisões. A Igreja abrirá portas e tornar-se-á ar puro para a sociedade, se acreditar que conversão acontece através do olhar, do toque, do amor. Do se saber amado. A Igreja abrirá portas e tornar-se-á ar puro para a sociedade, se permitir que todos sintam a alegria de estar à volta de uma mesa que distribui vinho de alegria e pão de uma vida doada. A Igreja abrirá portas e tornar-se-á ar puro para a sociedade, se finalmente voltar ao Evangelho. Sim, essa Boa Nova que foi capaz e reerguer vidas e de colocar no centro tantos e tantas.

Não estarei na JMJ 2023, mas espero, anseio e acredito que os mais de um milhão e meio de jovens trarão, para todos nós, a mensagem mais forte deste ano, pois através das suas vidas darão a conhecer ao mundo que “não há nada suficientemente morto que não possa ser ressuscitado, que não possa ser erguido”. Esta será a grande prova de que “Jesus vive e não nos deixa sós!”. Esta será a grande prova de que a Igreja tem portas e limites inimagináveis!

Emanuel António Dias

sexta-feira, 28 de julho de 2023

A JMJ E A CULTURA DO ENCONTRO

A Jornada Mundial da Juventude já se faz sentir, com muita alegria e esperança. Gente de múltiplas culturas, cores e feitios, de várias proveniências e distâncias, iniciaram esta Peregrinação de Fé em busca da cultura do encontro. São João Paulo II, peregrino incansável, dizia que o objetivo principal das Jornadas “é trazer de volta ao centro da fé e da vida de cada jovem a pessoa de Jesus, para que Ele se torne o ponto de referência constante e para que seja também a verdadeira luz de cada iniciativa e de cada compromisso educativo com as novas gerações”. No seu conjunto, todas as Jornadas Mundiais “aparecem como um convite contínuo e premente a basear a vida e a fé na rocha que é Cristo.”

Quem faz uma peregrinação de fé, procura prepará-la e vivê-la o melhor possível. Impõe-se a si próprio objetivos, exigência e esforço pessoal, pois sabe que o verdadeiro caminho a percorrer não é tanto a passagem de um lugar para outro. É, sim, aquele caminho que conduz da realidade física à espiritual, da vida do corpo à vida no Senhor, é um caminho ‘mais interior e vital que espacial’. A alegria dum cristão não está tanto em fazer uma peregrinação para estar num lugar santo. Está sobretudo em viver santamente. Em procurar Deus para o encontrar e, encontrando-o, o buscar e seguir com maior fervor, como afirmava Santo Agostinho. Tenho entre mãos “A Peregrinação no Grande Jubileu do Ano 2000”, um texto publicado pela Igreja na viragem do milénio e que nos esclarece sobre os requisitos a ter em conta para que uma peregrinação conduza, de facto, à verdadeira cultura do encontro.
ENCONTRO com o mistério de Deus, descobrindo, através de Jesus, o seu rosto de amor e de misericórdia. Desde o seu nascimento, o homem é chamado ao diálogo com Deus (cf. GS19). O caminho a percorrer para esse encontro é Cristo, cuja experiência mais forte se realiza sobretudo na celebração eucarística do mistério pascal.
ENCONTRO com a Palavra do Senhor, através da sua escuta e reflexão, fonte e alimento da vida espiritual. “Os momentos de peregrinação, por causa das circunstâncias que os suscitam, das metas a que se dirigem, da sua proximidade às necessidades e alegrias quotidianas, são um campo favorável ao acolhimento da Palavra de Deus nos corações”.
ENCONTRO com a Igreja, convocada pela Palavra e alimentada pelo Corpo de Cristo. Cada um sente-se membro da única família de Deus. Uma família animada na unidade e conduzida ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo, pela mão visível dos pastores que têm a missão de a conduzir e que, na JMJ, está presente da forma mais alta possível, na pessoa do Santo Padre, o primeiro entre todos, o sucessor de Pedro, o Vigário de Cristo, “o princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade de fé e comunhão” (LG, 18).
ENCONTRO no Sacramento da Reconciliação. Aqui se revive a dolorosa experiência do filho pródigo, a experiência dolorosa do pecado e da saudade da casa paterna, empenhando-se no regresso penitente e humilde. Aqui se experimenta a alegria do abraço do Pai misericordioso, que reconduz da morte à vida: “Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e encontrou-se” (Lc 15, 24).
ENCONTRO com Cristo eucarístico, o pão que sustenta no caminho e torna presente a Páscoa de Cristo. A reconciliação com Deus e com os irmãos leva à celebração eucarística. A Eucaristia acompanha a peregrinação que deve refletir o acontecimento pascal do êxodo, sim, mas, sobretudo, deve refletir o evento de Cristo que celebra a sua Páscoa no final da sua longa viagem rumo à cruz e à glória.
ENCONTRO com a caridade, antes de mais com Deus que foi o primeiro a amar-nos, enviando o seu filho ao mundo. Mas também no apoio e na partilha, em sinais que curam e consolam, que geram empatia entre os companheiros de viagem, tal como Cristo fez durante a sua peregrinação sobre a terra.
ENCONTRO com a humanidade. Mesmo que todas as religiões tenham os seus itinerários sagrados, o cristão, sem proselitismos, deve estar ao lado de todos quantos procuram a Deus de coração sincero. A peregrinação transforma-se numa ocasião de comunhão solidária com os valores de outros povos, irmãos na humanidade, onde cada um tem origem no único Criador de todos, ao qual, os reis da terra e todos os povos, os jovens, os idosos e as crianças, devem bendizer “porque só o seu nome é excelso, a sua majestade está acima do céu e da terra” (Sl 148,11-13).
ENCONTRO pessoal com Deus e consigo mesmo, através da reflexão, da meditação, da oração, do exame de consciência, do silêncio. As grandes perguntas sobre o sentido da existência e do destino último do homem fazem com que a peregrinação não seja apenas “um movimento do corpo, mas sobretudo um itinerário da alma”.
ENCONTRO cósmico com Deus. A contemplação da beleza é fonte de espiritualidade, tudo manifesta e proclama a glória de Deus. Há beleza nas pessoas, na paisagem do caminho, no local de destino, na arte que se encontra, nas culturas mais altas e nas mais populares. A espiritual do homem moderno passa pela sua maior disponibilidade para apreciar a natureza e a contemplar, pois tudo narra o poder e a glória do Senhor.
ENCONTRO com Maria, a Mãe do Senhor. Nela se une a peregrinação do Filho de Deus até à humanidade com a peregrinação de fé da própria humanidade. O seio de Maria foi o primeiro santuário, a tenda do encontro entre a divindade e a humanidade. É pelas estradas do amor que o cristão se põe em viagem com Maria pelas estradas da fé e do mundo. E há pressa no ar, é preciso sair apressadamente a promover a cultura do encontro com Deus, consigo mesmo, com os outros, com a natureza.
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 28-07-2023.

quinta-feira, 27 de julho de 2023

Aprendizes da paciência




DOMINGO XVI DO TEMPO COMUM Ano A
“Não suceda que, ao arrancardes o joio,
arranqueis também o trigo.”
Mt 13, 29


Fizeste-nos aprendizes da paciência, Senhor,

    mas demoramos a cultivá-la!

Por tudo e por nada nos “salta a tampa”

    e dizemos o que não queríamos.

Esquecemos a lentidão do que é importante

    e queremos funcionar mais rápido que as redes digitais.

Desligámo-nos da terra e do compasso das estações,

    esquecemos a alegria de ver crescer as plantas

    e nem esperamos pelo arco-íris que vem depois das chuvas.

Instituímos a pressa como sinónimo de vida,

    e queremos tanto a felicidade toda e agora,

    nem que seja uma felicidade oca num embrulho bonito!

A outra, a verdadeira, que enche o coração de um azul imenso,

    parece-nos impossível porque tarda em chegar!

É assim que sacrificamos nos altares da fama e do dinheiro

    os que dizemos amar, com quem passamos menos tempo,

    somos mais amigos de écrans e “tik toks”

    do que de presença e escuta generosa.

Apressamo-nos a julgar o todo pela parte,

    colando rótulos e processando invejas,

    querendo colher antes de estar maduro

    e valorizando mais o joio do que o trigo,

Abriste-nos horizontes imenso de vida,

    mas preferimos ainda o que é fácil, o que se pode comprar, o que brilha!

Dá-nos paciência, Senhor,

    de descobrir o trigo que cresce em cada pessoa,

    de andar de braço dado com a esperança

    de agradecer mais do que exigir.

É preciso aprender a paciência que não cruza os braços,

    nem aprisiona o coração!


Pe. Vitor Gonçalves

quarta-feira, 26 de julho de 2023

São Joaquim e Santa Ana - Dia dos Avós

"Hoje, nesta festa dos santos Joaquim e Ana, celebra-se o Dia dos Avós. Os avós são tão importantes na vida de uma família, pois é através deles que recebemos a herança humana e religiosa essenciais em toda e qualquer sociedade" (Papa Francisco). Reza pelos teus avós e fala com eles neste seu dia.Pode ser uma imagem de texto que diz "SÃO JOAQUIM ESANTA ANA Dia dos Avós "Étão "É mportante que haja encontros conversas intergeracionais, especialmente na família" Papa Francisco CLICKTOPRAY"
Todas as reações

As ausências de quem está perto


Recentemente falei com uma amiga sobre a importância da presença das pessoas na nossa vida e como notamos as ausências dos que nos são próximos. Sim, disse bem: ausências dos que nos são próximos.

A distância está muitas vezes associada ao afastamento, mas conheço algumas pessoas que a distância as obriga a estreitar laços, a falar todos os dias e a querer estar presente. Estão longe fisicamente mas mais perto do que muitos.

Outros, porém, habitam as mesmas casas, partilham os mesmos espaços mas estão…ausentes. É como se vivessem noutro mundo, alheios aos que sentimos e vivemos. São filhos que entram e saem como se num hotel estivessem. É maridos e esposas que se limitam a chegar a casa e ligar televisão ou fazer tarefas. São colegas de trabalho com quem estamos e pouco ou nada sabemos, são pais e mães que deixamos de visitar porque “precisamos de descansar”. E aos poucos vamo-nos alheando uns dos outros. Vivemos no nosso mundo e estamos sempre cansados e preocupados. Como chegamos aqui? Como permitimos estas ausências? Como as justificamos? Será que já não temos saudades uns dos outros, não gostamos uns dos outros? Só sei que esta ausência de quem nos está próximo doí muito! Atrevo-me a dizer que é a que doí mais.

Recordo alguns idosos que me contavam que tinham imensos filhos, mas viviam sozinhos, completamente sós.

É assim que nos queremos sentir: SÓS!?

Se não, então temos de nos esforçar mais para não fazermos aos outros o que não gostaríamos que nos fizessem a nós.

Se te tiveres de te zangar para teres mais abraços dos teus filhos, zanga-te!

Se tiveres que te zangar porque queres visitar os teus, zanga-te!

Se te tiveres de zangar para juntar a família para jantarem juntos, zanga-te!

As tuas lutas de hoje serão as conquistas de amanhã.

Pelo menos tentaste!

E tu amiga, quais as ausências que sentes falta?


Raquel Rodrigues

terça-feira, 25 de julho de 2023

Viver é nascer e morrer a cada dia


A vida não é uma fuga nem uma procura, é uma viagem. As mudanças são parte essencial do que somos. Ser é mudar. Que bom seria se fosse sempre para melhor.

Nenhuma hora das nossas vidas pode ser vivida duas vezes. Cada existência é preciosa também porque é um conjunto único de momentos irrepetíveis.

As alegrias passam e as tristezas também. Os sofrimentos por vezes perduram, mas nunca para sempre, ainda que ao fim de algum tempo os sintamos como eternos, tal é a nossa impotência de lutar contra eles. Importa que não percamos a esperança, que se faz paciência, e não nos esvaziemos da nossa própria alma como gesto desesperado e absurdo para tentar não sofrer mais.

Muitos de nós parecem ter sido condenados a suportar as dores de 39 chicotadas. Sem nunca sabermos qual é a que vai doer mais… se a primeira, a segunda, a vigésima ou a última… mas isso pouco importa. Estas flagelações têm algo que merece ser admirado: a força de as suportar, a capacidade de nos mantermos inteiros apesar de tudo o que nos atinge e tenta destruir.

O mal não nos quer mortos, quer-nos rendidos. Não sem vida, mas sem vontade de viver. Mas esta vontade é sempre uma decisão. A vida é uma firmeza, é uma coragem que não consiste em protagonizar um grande e sensacional gesto heróico, mas sim ser capaz de um conjunto imenso de decisões que nos fazem avançar, passo a passo, no caminho certo.

A verdadeira felicidade, que também é paz, tem de ser construída todos os dias, para que se estabeleça e perdure. Se assim não for, ou nem aparece ou arruína-se até desaparecer.

Não esqueças que aquilo que vês depende também muito do que és. Esforça-te por te aperfeiçoares e tudo à tua volta também ganhará luz e cor.

O comboio que é a tua vida vai parar em todas as estações. Sai e explora cada lugar, conhece pessoas e procura sempre aprender com tudo e todos. Depois, volta ao teu lugar na carruagem. E, sem deixar de sentir saudades pelo bem que pudeste experimentar, permite-te sempre sonhar com o melhor que pode estar à tua espera na próxima estação.

José Luís Nunes Martins

segunda-feira, 24 de julho de 2023

Aos amigos!





Aos de ontem e aos de hoje.

Aos que chegaram há muito e ficaram.

Aos que chegaram há menos tempo, mas varreram tudo com ventos de ternura.

Aos que nos conhecem os contornos, as sombras, as coisas boas e os devaneios.

Aos que brindam connosco a todas as possibilidades de futuro.

Convosco o futuro é sempre bom. Tem sempre sol que faz arder o coração.

Aos que nos dizem as verdades com cuidado. Aos que têm coragem para nos amar, apesar das deslealdades pontuais e desta ou daquela desilusão.

Aos que se riem só com o olhar. Aos que se riem com tudo. Que partem a loiça toda.



Aos que são mais calmos e discretos.

Aos que nos são cajado para o caminho e companhia para os dias de nuvens pretas e de chuva.

Aos que têm paciência.

Aos que nos aturam sem pressa de ir embora.

Aos que estão sempre ocupados, mas que nunca se escapam quando mais precisamos.

Aos que nos abrem as portas da sua vida, do seu coração e da sua casa.

Aos que nos aceitam como somos.

Aos que percebem tudo sem termos de lhes explicar.

Aos que não julgam nem nos combatem os deslizes ou incoerências.

Aos que são paz. Brisa. Vento de fim de dia em agosto.

Aos que são tudo.

Aos verdadeiros.

Com eles, é sempre verão na nossa vida.

Aos meus. Aos nossos. Obrigada. Sempre.


Marta Arrais

domingo, 23 de julho de 2023

O Trigo e o Joio

 


A liturgia do 16º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir o Deus paciente e cheio de misericórdia, a quem não interessa a marginalização do pecador, mas a sua integração na comunidade do "Reino"; e convida-nos, sobretudo, a interiorizar essa "lógica" de Deus, deixando que ela marque o olhar que lançamos sobre o mundo e sobre os homens.
A primeira leitura fala-nos de um Deus que, apesar da sua força e omnipotência, é indulgente e misericordioso para com os homens - mesmo quando eles praticam o mal. Agindo dessa forma, Deus convida os seus filhos a serem "humanos", isto é, a terem um coração tão misericordioso e tão indulgente como o coração de Deus. Muitas vezes, percebemos certos males que nos incomodam como "castigos" de Deus pelo nosso mau proceder. No entanto, este texto deixa claro que Deus não está interessado em castigar os pecadores... Quando muito, procura fazer-nos perceber, com a pedagogia de um pai cheio de amor, o sem sentido de certas opções e o mal que nos fazem certos caminhos que escolhemos.
O Evangelho garante a presença irreversível no mundo do "Reino de Deus". Esse "Reino" não é um clube exclusivo de "bons" e de "santos": nele todos os homens - bons e maus - encontram a possibilidade de crescer, de amadurecer as suas escolhas, de serem tocados pela graça, até ao momento final da opção definitiva. Convém termos sempre presente o seguinte: não há o mal quimicamente puro de um lado e o bem quimicamente puro do outro... Mal e bem misturam-se no mundo, na vida e no coração de cada um de nós. Dividir as nações em boas (as que têm uma política que serve os nossos interesses) e más (as que têm uma política que lesa os nossos interesses), os grupos sociais em bons (os que defendem valores com os quais concordamos) e maus (os que defendem valores que não são os nossos), os indivíduos em bons (os amigos, aqueles que nos apoiam e que estão sempre de acordo connosco) e maus (aqueles que nos fazem frente, que nos dizem verdades que são difíceis de escutar, que não concordam connosco)... é uma atitude simplista, que nos leva frequentemente a assumir atitudes injustas, que geram exclusão, marginalização, sofrimento e morte. Mais uma vez: saibamos olhar para o mundo, para os grupos, para as pessoas sem preconceitos, com a mesma bondade, compreensão e tolerância que Deus manifesta face a cada homem e a cada mulher, independentemente das suas escolhas e do seu ritmo de caminhada.
A segunda leitura sublinha, doutra forma, a bondade e a misericórdia de Deus. Afirma que o Espírito Santo - dom de Deus - vem em auxílio da nossa fragilidade, guiando-nos no caminho para a vida plena. O verdadeiro crente é o que vive em comunhão com Deus. Não prescinde desses momentos de diálogo, de partilha, de escuta, de louvor a que chamamos oração. É nesse diálogo intenso, verdadeiro, diário que o crente, através do Espírito, intui a lógica de Deus, a sua verdade, o projecto que Ele tem para cada homem e para o mundo. Esforço-me por encontrar espaço para o diálogo com Deus e para fortalecer a minha intimidade com Ele?

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sábado, 22 de julho de 2023

A vida torna-se bonita pelo amor



A vida torna-se bonita pelo amor que se vai deixando pelo caminho.

A vida torna-se bonita pelos abraços que são porto de abrigo.

A vida torna-se bonita pelas mãos que confortam tanto.

A vida torna-se bonita pelos olhares que tocam a alma.

A vida torna-se bonita pelos sorrisos que iluminam os dias.

A vida torna-se bonita pelos beijos que curam tudo.

A vida torna-se bonita pelos colos que não deixam cair.

A vida torna-se bonita pelas palavras que falam do coração.

A vida torna-se bonita pelos silêncios que escutam o coração.

A vida torna-se bonita pelos gestos que salvam.

A vida torna-se bonita pela gentileza que muda o mundo.

A vida torna-se bonita pelas pessoas que são amparo, pelas pessoas que cuidam, pelas pessoas que fazem sorrir.

A vida torna-se bonita pelos momentos assim, em que a própria vida serena e nos permite parar para respirar, para sentir, para ver de verdade: com o coração.

A vida torna-se bonita pelos momentos assim, só assim, do amor a acontecer.

É por isto. É só por isto.

E é tanto. É tudo.

O resto é só o resto.

A vida torna-se bonita pelo amor. O amor que se vai deixando pelo caminho. E encontrando também.


Daniela Barreira

sexta-feira, 21 de julho de 2023

DIA MUNDIAL DOS AVÓS E IDOSOS


No próximo Domingo, dia 23 de julho, celebramos o III Dia Mundial dos Avós e Idosos. Torno presente a Mensagem que o Santo Padre, o Papa Francisco, nos envia:
“Queridos irmãos e irmãs!
«De geração em geração, a sua misericórdia» (cf. Lc 1, 50): assim reza o tema do III Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. O tema leva-nos a um encontro abençoado: o encontro entre Maria, jovem, e sua parente Isabel, idosa (cf. Lc 1, 39-56). Esta, cheia de Espírito Santo, dirige à Mãe de Deus palavras que, dois milénios depois, cadenciam a nossa oração diária: «Bendita és Tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre» (1, 42). E o Espírito Santo, que já tinha descido sobre Maria, sugere-Lhe como resposta o Magnificat, onde proclama que a misericórdia do Senhor se estende de geração em geração. O Espírito Santo abençoa e acompanha todo o encontro fecundo entre gerações diversas, entre avós e netos, entre jovens e idosos. De facto, Deus quer que os jovens, como fez Maria com Isabel, alegrem os corações dos anciãos e extraiam sabedoria das suas experiências. Mas o primeiro desejo do Senhor é que não deixemos sozinhos os idosos, que não os abandonemos à margem da vida, como hoje, infelizmente, acontece com demasiada frequência.
Neste ano, regista-se uma proximidade estupenda entre a celebração do Dia Mundial dos Avós e dos Idosos e a Jornada Mundial da Juventude; no tema de ambas, sobressai a «pressa» de Maria (cf. 1, 39) quando visita Isabel, levando-nos assim a refletir sobre a ligação entre jovens e idosos. O Senhor espera que os jovens, ao encontrar os idosos, acolham o apelo a guardar as memórias e reconheçam, graças a eles, o dom de pertencerem a uma história maior. A amizade duma pessoa idosa ajuda o jovem a não cingir a vida ao presente e a lembrar-se que nem tudo depende das suas capacidades. Por sua vez, aos mais velhos, a presença dum jovem abre à esperança de que não se perderá tudo aquilo que viveram e se vão realizar os seus sonhos. Em resumo, a visita de Maria a Isabel e a consciência de que a misericórdia do Senhor se transmite duma geração à outra mostram que não podemos avançar – nem salvar-nos – sozinhos, e que a intervenção de Deus se manifesta sempre no conjunto, na história dum povo. É precisamente Maria quem no-lo diz no Magnificat, alegrando-Se em Deus, que, fiel à promessa feita a Abraão (cf. 1, 51-55), realizou maravilhas novas e surpreendentes.
Para melhor captar o estilo do agir de Deus, recordemos que o tempo deve ser vivido em plenitude, porque as realidades maiores e os sonhos mais belos não acontecem num instante, mas através dum crescimento e duma maturação: em caminho, em diálogo, no relacionamento. Ora, quem se concentra apenas no imediato, nas próprias vantagens que se hão de conseguir rápida e sofregamente, no «tudo e já», perde de vista o agir de Deus. Diversamente, o seu projeto de amor atravessa o passado, o presente e o futuro, abraça e põe em ligação as gerações. É um projeto que nos ultrapassa a nós mesmos, mas no qual cada um de nós é importante e, sobretudo, é chamado a ir mais além. Para os mais jovens, trata-se de ir mais além do imediato em que nos confina a realidade virtual, que muitas vezes nos desvia da atividade concreta; para os mais velhos, trata-se de não se deterem no debilitar-se das forças nem no lamento pelas ocasiões perdidas. Olhemos para a frente! Deixemo-nos plasmar pela graça de Deus, que, de geração em geração, nos liberta do imobilismo no agir e das lamúrias voltadas para o passado!
No encontro entre Maria e Isabel, entre jovens e idosos, Deus dá-nos o seu futuro. Na realidade, o caminho de Maria e o acolhimento de Isabel abrem as portas à manifestação da salvação: através do seu abraço, a misericórdia irrompe, com alegre mansidão, na história humana. Por isso, quero convidar cada um a pensar naquele encontro; mais ainda, a fechar os olhos e imaginar, como numa foto instantânea, aquele abraço entre a jovem Mãe de Deus e a mãe idosa de São João Batista; representá-lo na mente e visualizá-lo no coração, para o fixar na alma como um luminoso ícone interior.
E convido depois a passar da imaginação à vida concreta, fazendo algo para abraçar os avós e os idosos. Não os deixemos sozinhos; é preciosa a sua presença nas famílias e nas comunidades: dá-nos a noção de partilhar a mesma herança e de fazer parte dum povo em que se preservam as raízes. Sim! São os idosos que nos transmitem a pertença ao santo Povo de Deus. A Igreja e de igual modo a sociedade precisam deles. É que os idosos entregam ao presente um passado necessário para construir o futuro. Honremo-los, não nos privemos da sua companhia nem os privemos da nossa. Não permitamos que sejam descartados.
O Dia Mundial dos Avós e dos Idosos pretende ser um pequeno e delicado sinal de esperança para eles e para a Igreja inteira. Por isso renovo o meu convite a todos – dioceses, paróquias, associações, comunidades – para o celebrarem, colocando no centro a alegria transbordante dum renovado encontro entre jovens e idosos. A vós, jovens, que estais a preparar-vos para partir para Lisboa ou que vivereis a Jornada Mundial da Juventude na própria localidade, quero dizer: antes de sair para a viagem, ide visitar os vossos avós, fazei uma visita a um idoso sozinho. A sua oração proteger-vos-á e levareis no coração a bênção daquele encontro. A vós, idosos, peço para acompanhardes com a oração os jovens que estão prestes a celebrar a JMJ. Aqueles jovens são a resposta de Deus aos vossos pedidos, o fruto daquilo que semeastes, o sinal de que Deus não abandona o seu povo, mas sempre o rejuvenesce com a criatividade do Espírito Santo.
Queridos avós, queridos irmãos e irmãs idosos, chegue até vós a bênção do abraço entre Maria e Isabel, e encha de paz os vossos corações. Com afeto, vos abençoo. E vós, por favor, rezai por mim.
Roma – São João de Latrão, na Festa da Visitação da Virgem Santa Maria, 31 de maio de 2023.
FRANCISCO”
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D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 21-07-2023.

Viver é nascer e morrer a cada dia




A vida não é uma fuga nem uma procura, é uma viagem. As mudanças são parte essencial do que somos. Ser é mudar. Que bom seria se fosse sempre para melhor.

Nenhuma hora das nossas vidas pode ser vivida duas vezes. Cada existência é preciosa também porque é um conjunto único de momentos irrepetíveis.

As alegrias passam e as tristezas também. Os sofrimentos por vezes perduram, mas nunca para sempre, ainda que ao fim de algum tempo os sintamos como eternos, tal é a nossa impotência de lutar contra eles. Importa que não percamos a esperança, que se faz paciência, e não nos esvaziemos da nossa própria alma como gesto desesperado e absurdo para tentar não sofrer mais.

Muitos de nós parecem ter sido condenados a suportar as dores de 39 chicotadas. Sem nunca sabermos qual é a que vai doer mais… se a primeira, a segunda, a vigésima ou a última… mas isso pouco importa. Estas flagelações têm algo que merece ser admirado: a força de as suportar, a capacidade de nos mantermos inteiros apesar de tudo o que nos atinge e tenta destruir.

O mal não nos quer mortos, quer-nos rendidos. Não sem vida, mas sem vontade de viver. Mas esta vontade é sempre uma decisão. A vida é uma firmeza, é uma coragem que não consiste em protagonizar um grande e sensacional gesto heróico, mas sim ser capaz de um conjunto imenso de decisões que nos fazem avançar, passo a passo, no caminho certo.

A verdadeira felicidade, que também é paz, tem de ser construída todos os dias, para que se estabeleça e perdure. Se assim não for, ou nem aparece ou arruína-se até desaparecer.

Não esqueças que aquilo que vês depende também muito do que és. Esforça-te por te aperfeiçoares e tudo à tua volta também ganhará luz e cor.

O comboio que é a tua vida vai parar em todas as estações. Sai e explora cada lugar, conhece pessoas e procura sempre aprender com tudo e todos. Depois, volta ao teu lugar na carruagem. E, sem deixar de sentir saudades pelo bem que pudeste experimentar, permite-te sempre sonhar com o melhor que pode estar à tua espera na próxima estação.




José Luís Nunes Martins

quinta-feira, 20 de julho de 2023

Bom senso, bom senso, onde estás?



Fala-se muito da necessidade de haver bom senso, ou de se apelar ao bom senso. E confiamos tanto nesse ”bom senso” que volta e meia somos surpreendidos com o suposto ”bom senso” de alguns.

Mas afinal o que é isso de bom senso?

Ao que pude perceber o “bom senso” está relacionado com a sabedoria e sensatez que uma pessoa tem e que permite, numa situação específica, ela distinga qual a melhor ação tendo em conta aquilo que acha que está certo. Portanto é algo individual, intrínseco e meramente intuitivo, assente em valores morais que cada um desenvolve e que definem a sua atuação perante um desafio ou escola.

Assim, o que para mim é certo, para outro pode não ser e podemos estar ambas certas e ambas erradas. Será assim? Talvez.

Descobri, recentemente, que essa palavra é uma caixinha de surpresas pois aquilo que considero Bom senso, pode, e não é tão comum como acreditamos. O mundo está cheio de factos que comprovam esta discrepância entre o sentimento do que é bom senso.

E então? Vamos banir isto do dicionário? Se calhar vamos tentar pensar nisto com mais frieza.

Quando, perante uma decisão ou uma escolha, apelamos ao bom senso da pessoa, afinal apelamos a quê? No meu entender apelamos a que a pessoa olhe para todos os “bom sensos” que existem, opiniões, argumentos, pontos de vista e reúna a informação necessária para tomar uma “boa “ decisão que pode não agradar a todos mas que tenta reunir consenso. Mas isso implica que a pessoa, a quem é dada esse poder, tenha alguma maturidade, ou pelo menos, que se esforce para a trabalhar- sim porque implica treino e discernimento- sabedoria!

O que sei é que não devo confiar tanto no bom senso de cada um, mas trabalhar mais para melhorar a minha aplicação pessoal de “bom senso”. Noutros casos, não há nada a fazer: é ser mais assertiva sobre o que realmente considero ser importante!

E tu amiga, onde achas que faz falta bom senso?


Raquel Rodrigues



quarta-feira, 19 de julho de 2023

Não esperes que te agradeçam



A ingratidão é uma das formas mais comuns de orgulho magoa muitas pessoas que, tendo feito o bem a alguém, acabam por se sentir traídas por esses a quem as suas obras beneficiaram.

Há pessoas que só não são ingratas nas oportunidades em que o que querem é obter ainda mais favores.

A verdade é que um ingrato é sempre um fraco, mas também o é quem faz o bem com intenção de ser louvado.

O bem nunca deixa de ser meritório, embora aquele que age de forma interesseira não tenha direito a muito mais elogios do que aqueles que obtém de quem lhe agradeceu ou aplaudiu.

Por outro lado, quando alguém faz o bem sem buscar nada em troca, esse sim merece muito mais do que qualquer aplauso ou louvor humano. É mais do que justo que o seu gesto seja agradecido, se não neste mundo, então naquele de que este faz parte. Há obras que só mesmo a eternidade pode revelar e agradecer.

Importa viver, escolher e agir bem, sem esperar gratidão ou aplausos. E quando o bem que fizermos for menosprezado, esquecido ou espezinhado, é bom que tenhamos presente que isso não retira valor algum àquilo que fizemos, talvez até o aumente.

Valerá a pena amar um ingrato? Sim, porque se não for o amor, é mais do que certo que nada o poderá redimir.

É duro ter de admitir que, muitas vezes, os ingratos somos nós… quantas vezes agradeço o bem que fazem por mim? Ou será que julgo que é justo que assim seja, porque eu sou melhor do que os outros e, por isso, eles me devem servir?

Uma das estratégias mais comuns é a de nos fixamos nos erros e vícios de quem nos faz bem do que na sua bondade.

Não esqueças, nunca, o bem que te foi feito. Não haverá maior honra do que essa a quem o fez.


José Luís Nunes Martins


terça-feira, 18 de julho de 2023

Somos outros

 



Somos outros. E não nos completamos sem a relação daqueles que se entrecruzam nos caminhos da nossa existência. Não conseguimos alcançar a plenitude do que somos sem esta relação de partilha. Precisamos de outros para que tudo em nós se coordene e ganhe sentido. Precisamos de outros para construir o significado da nossa realidade. Precisamos de outros para interpretar o que nos rodeia e o que nos define.

Somos outros. E nem sempre nos recordamos disto. Vivemos fechados em nós, acreditando que só se salva quem não se dá, quem não se entrega, quem não se revela. Vivemos mais ligados do que nunca, mas nunca estivemos tão desligados dos outros. Nunca estivemos tão longe daqueles que deveriam ser tão próximos. Daqueles que deveriam ser nosso próximo. Sim, íntimos. Numa relação de proximidade e igualdade. Respeitando-nos, olhando-nos e amando-nos.

Somos outros. E como precisamos deste amor. Deste amor de uns pelos outros. Como necessitamos dos olhares que marcam a nossa história. Como precisamos desta partilha de abraços que nos saciam a sede do toque e que satisfazem esta vontade de sermos habitados por alguém. Como necessitamos desta partilha de lágrimas capaz de regar os nossos medos, as nossas angústias e as nossas inquietações. Como precisamos da partilha de gargalhadas que nos avivam os dias, nos abrilhantam a alma e nos recordam a bela sinfonia de uma vida partilhada.

Somos outros. E isto deveria estar para sempre presente naquilo que somos e fazemos. Somos outros e deveríamos andar gratos por todos os que nos carregaram e nos carregam aos seus ombros. Somos outros. Somos esses outros que arriscaram trilhar o caminho da vida ao nosso lado. Trilharam-no em diferentes palcos e em diferentes ritmos, mas deram sinais da sua presença. E foram, confirmados em tantos momentos, presentes de Deus.

Somos outros, porque a vida não se ganha na individualidade. Somos outros, porque a vida se estende para além das nossas necessidades. Somos outros, porque a nossa vida ganha a forma de tantos e tantas. Somos outros, porque a nossa vida só se engrandece quando permitimos que a mesma se encontre em abraços.

Hoje, antes de voltares à tua rotina, questiona-te: eu sou outros? Quem são os meus “outros”? Quem são os que vivem em mim?

Emanuel António Dias


segunda-feira, 17 de julho de 2023

Coerência, precisa-se!


Somos excelentes no desenvolvimento e no apregoamento de teorias. As palavras saem-nos rapidamente no sentido do julgamento ou de uma forma que nos quer colocar acima das atitudes dos outros com quem falamos e convivemos. É como se aquilo que dizemos fosse lei pela qual todos os demais se deviam reger. Opiniões também temos de sobra. Se fosse eu, fazia assim. Se eu fosse aquela pessoa não teria ido por aquele caminho ou não teria tomado aquela decisão. Fácil de dizer. E de atirar para o ar. Mas a verdade é que não somos (nem fomos) aquela pessoa. Cada um é cada um mas isso não nos dá o direito de assumir que todos temos de agir da mesma forma.

No entanto, há um desafio que nos é colocado a cada momento, e principalmente, nos momentos mais adversos ou importantes das nossas vidas: o da coerência. O de rimar as nossas atitudes com aquilo que a nossa boca apregoa e reza. A coerência está em vias de extinção. Vê-se pouco e sente-se ainda menos. O que se sente, na realidade, são as consequências do pautar a existência por uma superficialidade de palavras e de opiniões.

Somos todos muito bons a viver a vida dos outros. Mas a história deles não é a nossa. A vida deles não é a nossa.

O que nos é pedido a todos (e não me excluo) é que vivamos mais de acordo com as nossas palavras. Que consigamos devolver aos outros a certeza de saberem o que podem receber do nosso lado. Que saibamos alinhar os nossos valores e os nossos princípios com o que apresentamos aos que se cruzam connosco. Porque de dizer uma coisa e fazer outra está o mundo cheio. E nós cansados de não ver nada bater certo. E nós cansados de ouvir palavras que rimam com vento e com pouca verdade, ao invés de atitudes certas, corretas e recheadas de bom senso.

Temos, todos, um longo caminho a percorrer. Falta-nos aprender a ter mais cuidado com os que conhecemos e, também, com aqueles que conhecemos pouco. Merecemos todos mais respeito, mais coerência e mais verdade da parte uns dos outros.

Claro que as máscaras sociais, as aparências, as roupas bonitas e as marcas caras são profundamente atrativas num mundo que se quer de carneirada… mas valerão tanto assim?

Valeremos assim tão pouco que deixámos de nos importar com o que realmente merece a nossa dedicação?

Marta Arrais

domingo, 16 de julho de 2023

O Semeador

 


A liturgia do 15º Domingo do Tempo Comum convida-nos a tomar consciência da importância da Palavra de Deus e da centralidade que ela deve assumir na vida dos crentes.
A primeira leitura garante-nos que a Palavra de Deus é verdadeiramente fecunda e criadora de vida. Ela dá-nos esperança, indica-nos os caminhos que devemos percorrer e dá-nos o ânimo para intervirmos no mundo. É sempre eficaz e produz sempre efeito, embora não actue sempre de acordo com os nossos interesses e critérios.
Quando escutamos a Palavra de Deus, sentimo-nos confiantes, optimistas, com o coração a transbordar de esperança; sentimos que o caminho que Deus nos indica é, efectivamente, um caminho de felicidade e de vida plena... "Que bom é estarmos aqui" - dizemos... Depois, voltamos à nossa vida do dia a dia e reencontramos a monotonia, os problemas, o desencanto; constatamos que os maus, os corruptos, os violentos, parecem triunfar sempre e nunca são castigados pelo seu egoísmo e prepotência, enquanto que os bons, os justos, os humildes, os pacíficos são continuamente vencidos, magoados, humilhados... Então perguntamos: podemos confiar nas promessas de Deus? Não estaremos a ser enganados? A Palavra de Deus que hoje nos é proposta responde a estas dúvidas. Ela garante-nos: a Palavra de Deus não falha; ela indica sempre caminhos de vida plena, de vida verdadeira, de liberdade, de felicidade, de paz sem fim.
O Evangelho propõe-nos, em primeiro lugar, uma reflexão sobre a forma como acolhemos a Palavra e exorta-nos a ser uma "boa terra", disponível para escutar as propostas de Jesus, para as acolher e para deixar que elas dêem abundantes frutos na nossa vida de cada dia. Garante-nos também que o "Reino" proposto por Jesus será uma realidade imparável, onde se manifestará em todo o seu esplendor e fecundidade a vida de Deus.
A segunda leitura apresenta uma temática (a solidariedade entre o homem e o resto da criação) que, à primeira vista, não está relacionada com o tema deste domingo - a Palavra de Deus. Podemos, no entanto, dizer que a Palavra de Deus é que fornece os critérios para que o homem possa viver "segundo o Espírito" e para que ele possa construir o "novo céu e a nova terra" com que sonhamos.


No nosso tempo manifesta-se, cada vez mais, uma preocupação séria com a forma como usamos o mundo que Deus nos ofereceu. O homem de hoje já descobriu que a criação não é para ser explorada, violentada, usada de acordo com critérios de egoísmo e de exploração. Aquilo que nos deve mover, no entanto, não é a simples preocupação com o esgotamento dos recursos, ou com a destruição das condições de habitabilidade do nosso planeta; mas o que nos deve mover é a ideia da fraternidade que deve unir o homem e as outras coisas criadas por Deus. Só quando se instalar essa consciência de fraternidade, podemos libertar toda a criação do egoísmo e da exploração em que o homem a encerrou e fazer aparecer o "novo céu e a nova terra".

A parábola, na sua forma original (vers. 1-9) refere-se à inevitável erupção do "Reino", à sua força e aos resultados maravilhosos que o "Reino" alcançará... Com frequência, olhamos o mundo que nos rodeia e ficamos desanimados com o materialismo, a futilidade, os falsos valores que marcam a vida de muitos homens e mulheres do nosso tempo. Perguntamo-nos se vale a pena anunciar a proposta libertadora de Jesus num mundo que vive obcecado com as riquezas, com os prazeres, com os valores materiais... O Evangelho de hoje responde: "coragem! Não desanimeis pois, apesar do aparente fracasso, o 'Reino' é uma realidade imparável; e o resultado final será algo de surpreendente, de maravilhoso, de inimaginável".

• Muitas vezes sentimo-nos confusos com certas novidades que nos desconcertam e que parecem pôr em causa os velhos esquemas sobre os quais o mundo se tem edificado. Criticamos os mais jovens pela sua ousadia, pelos seus valores, pelas suas preocupações, pela sua visão do mundo... Não sabemos para onde vamos e parece que nada faz sentido... Sentimo-nos abalados e inseguros; lamentamo-nos porque tudo parece ir de mal a pior e não sabemos "onde isto vai parar". Não é possível que, em muitos casos, a nossa rigidez esconda o comodismo, a instalação, o aburguesamento de quem tem medo da novidade?

sábado, 15 de julho de 2023

O HOJE DA GALILEIA É LISBOA!... LÁ O VEREIS!


A JMJ é a paz em movimento por entre continentes, povos e culturas, num intercâmbio sem igual de experiências e dons. Ao seu jeito, com o ‘idioma da proximidade’ e da alegria, os jovens fazem ecoar – hoje! -, aquela feliz notícia da radiosa manhã de Páscoa: “Nós vimos o Senhor!” (Jo 20, 25). Ele ressuscitou, está vivo, ide anunciar uns aos outros que Ele vai à vossa frente para a Galileia, lá o vereis! (cf. Mc 16, 7). Nestes dias que se aproximam, o ‘HOJE’ da Galileia é Lisboa, lá o vereis!
“Eu não acreditarei”, dirão os que, como Tomé, exigem ver e tocar. Jesus, com amizade e compreensão, disse a Tomé: “Tu acreditaste porque viste. Felizes os que hão de acreditar sem terem visto” (Jo 20, 29). Estamos entre aqueles que acreditam sem terem visto, somos felizes por isso! O Senhor está vivo e faz-se encontrado por todos quantos, sem medo e com fé, lhe escancaram as portas do coração! Com eles estabelece uma amizade tão forte que a todos dá a sua paz e responsabiliza, em todos confia e a todos envia, em seu nome, pelos caminhos do mundo e da história, a ensinar o que Ele disse e fez, porque é que o fez e disse. Como o mundo seria diferente se todos o quisessem saber e viver!
Animada pelo Espírito que a todos congrega e acompanha, a JMJ é uma assembleia constituída por gente muito para além de “partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia vizinha de Cirene, colonos de Roma, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes” (cf. At 2, 5-11). É uma assembleia muitíssimo maior do que essa. São milhares e milhares de jovens provenientes de cento e oitenta países a manifestar que amam a vida e gostam de viver na direção certa! E não são meros destinatários da Palavra, são os protagonistas por excelência, são eles que também anunciam e sentem o apelo que a Igreja, em nome de Jesus, lhes faz, a irem por todo o mundo a anunciar a Boa Nova que liberta e salva.
Ao ouvir e anunciar Jesus, ninguém está fora de si nem “embriagado com vinho doce”, como, ‘admirados e perplexos’, alguns afirmaram naquela manhã do Pentecostes quando ouviam falar os apóstolos nas suas próprias línguas (At 2,13). Quem se deixa inundar pelo Espírito, sempre canta e louva as maravilhas de Deus de forma incrível! E ninguém melhor do que os jovens o sabem fazer! Em Lisboa, todos entenderão o anúncio do Ressuscitado na sua própria língua! O Espírito Santo é dom do Ressuscitado destinado a todos os homens, a todas as nações e em todos os tempos. A sua missão tem valor de universalidade no tempo e no espaço. Os que se deixam transformar pela Boa Nova e pelo Espírito Santo aprendem e falam uma linguagem que todos compreendem: é a linguagem do amor e da ternura, a linguagem que faz com que todos tenham um só coração e uma só alma e se amem uns aos outros como Cristo nos amou e ama. É uma linguagem semelhante àquela lalação entre a mãe e o seu bebé, uma linguagem que não precisa de intérpretes, ambos se entendem de forma tão extraordinária e tão bela que vivem e convivem confiantes e felizes.
Sendo uma peregrinação de fé, são os jovens, os menos jovens, as pessoas de boa vontade e todos os voluntários que rezam, estimulam, apoiam e trabalham em prol do êxito da JMJ, que, numa experiência sem igual da catolicidade da Igreja, sem barreiras de origem, raça e cultura, se sentem missão na pista do que dá significado e sentido à vida e às coisas da vida: Jesus Cristo!
Com vitalidade, dinamismo e entusiasmo, toda esta gente de boa vontade testemunha ao mundo o que é que a faz correr em direção à JMJ, mesmo que por entre muitos sacrifícios e algum sofrimento, renunciando ao supérfluo e optando apenas pelo essencial e prático, impondo-se austeridade e exigência pessoal. O que a todos faz correr não é uma motivação semelhante à da Rainha de Sabá que veio dos confins do mundo só para ouvir a sabedoria de Salomão (Mt 12,42). Não correm para ver uma cana agitada pelo vento ou um homem vestido com roupas finas (Lc 7, 24-25). O que os traz a Lisboa é uma razão tão forte e tão envolvente que não se pode comparar seja ao que for. É a presença do Senhor, o Rei do Universo, o princípio e o fim. Ele está no meio de todos, como aquele que serve e ensina a servir. É a centralidade da JMJ na pessoa de Jesus e na sua Palavra, uma Palavra sempre atual e atuante, feita caminho, verdade e vida.
Logo após o seu nascimento, o homem começa a trepar o caminho do tempo e do espaço da sua existência. A peregrinação simboliza isso mesmo. Desde Adão até hoje, a peregrinação é uma constante, às vezes por caminhos errados, é certo. No entanto, mesmo que, por vezes, seja por caminhos errados, eles podem transformar-se num sério momento para reconsiderar e regressar à casa do Pai, em busca daquele abraço apertadinho que acolha, perdoe e console.
Essa é a certeza que anima a nossa esperança! Deus nunca nos abandona nem nos mostra cara de vinagre. De braços abertos para nos abraçar, sempre aguarda o regresso em liberdade do filho pródigo. Não faz perguntas, não censura, fica feliz pelo reencontro, cura as feridas, faz festa, integra e ama sem preconceitos, aponta caminhos que libertam e salvam. Os jovens e as pessoas de boa vontade que têm a graça de participar ou acompanham à distância a JMJ, testemunham a sua comunhão na grande peregrinação que Cristo, a Igreja e a humanidade continuam a realizar através da história em direção à ‘Tenda do Encontro’, à cidade futura e permanente. Nesta caminhada, devemos apostar sempre na fidelidade, na formação, no amor fraterno, na vida comunitária e no serviço.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 14-07-2023.

sexta-feira, 14 de julho de 2023

Gratidão

 


É mais fácil recordar a pequena gratidão que os outros nos devem, do que aquela sem medida, que nos torna devedores de todos.

Não reparamos, ou nem sempre reparamos, quanto a nossa vida é amparada por uma coreografia anônima de gestos, que generosamente confluem ao nosso encontro; quanto é sustentada pela multiplicação quotidiana de dádivas, pela laboriosa fadiga de uma multidão de conhecidos e desconhecidos, pela conspiração benevolente do amor.
Não reparamos, ou nem sempre reparamos, quanto dependemos desse fluxo de vida que é maior do que nós e no qual tantas mulheres e homens se empenham intensamente.
É mais fácil considerarmos que tudo o que temos é um direito natural e adquirido, em vez de aceitarmos a mais manifesta das verdades: que a vida é dom, que as coisas mais importantes nós as recebemos como pura graça, que tudo o que é amável nos excede.
É mais habitual nos dividirmos entre a reivindicação áspera e o resmungo exasperado, prisioneiros da sonâmbula ingratidão que se torna um labirinto, em vez de encontrar tempo para aquela gentileza espiritual que nos faz expressar mais vezes o reconhecimento fundamental que devemos aos outros.
Por isso Te peço Senhor: dá-me um coração bondoso, humilde e grato. Dá-me um coração consciente até ao fim do que um coração hipotecado.

| Cardeal D. José Tolentino MendonçaI

Pode ser uma ilustração de texto que diz "Te peço Senhor: dá-me um coração consciente até ao fim do que um coração hipotecado. Tm"

Todas as reaçõe
1,2 

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Empatia precisa-se


Querida amiga já te aconteceu, numa conversa de amigos, alguma destas situações?

    - Olá estás bem?

    - Sim.

    - Que bom, eu é que estou mal…

E lá vem o rol das lamentações

Ou então,

    - Olá estás bem?

    - Nem por isso, dormi mal.

    - Isso não é nada, eu não durmo á 2 noites, e estou cheia de dores de cabeça…

E lá vem o rol das lamentações.

Bem me parecia que conhecias esta história.

Pois é, não é que eu tenha nada contra quem conta as suas misérias, e até tenho vontade de ajudar, mas não gosto é de desvalorizarem as minhas angústias, consoante as suas próprias. Costumo chamar a isso a “conversa dos reumáticos”, com todo o respeito pela doença. Na prática, o que acontece é que quando um se começa a queixar, logo outro se queixa ainda mais.

Se alguém diz:

    -Estou ocupada, nem sei para onde me virar! (em jeito de desabafo)

Geralmente não ouço ninguém dizer:

    - A sério? Posso ajudar?

O que ouço é

    - Nem digas nada! E Eu?

E lá vem o rol das lamentações

Nem sempre estamos com paciência uns para os outros mas podíamos cultivar mais a empatia, a escuta e a valorização do que o outro sente, pensa ou acha que tem, sem o querer “atropelar” com as nossas considerações. E isto tanto vale para o mal como para o bem.

Não raras vezes alguém partilha:

    - Fui ver um concerto de alguém.

E o outro responde

    - Esse? Não canta nada, eu fui ver…e blábláblá

E lá temos de ouvir as peripécias todas do concerto que o outro assistiu sem termos possibilidade de partilhar a nossa alegria. Isto passa-se com viagens, idas a restaurantes e tantas outras coisas que são tão boas de partilhar e que nem sempre encontram o recetor certo.

Creio que não custa nada mostrar interesse, empatia e escutar o outro. Quem sabe o outro nos pergunta:

    E tu amiga, como estás?



Raquel Rodrigues

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Ó Deus, livra-me de mim


Encontro-me muitas vezes sem grande esperança nem coragem para enfrentar o amanhã. Vejo o mundo a partir de mim, como se eu fosse o centro de tudo o que existe. Por causa disso, sinto uma ansiedade crescente face a tudo o que pode acontecer, porque, afinal, me parece que não posso contar senão comigo próprio, e eu bem sei que estou longe de conseguir grandes coisas sozinho!

Basta pensar um pouco e olhar para os me rodeiam e aqueles com que convivo para perceber que não tenho, nem conseguiria ter mesmo que o desejasse, uma vida isolada. Sei que sou parte da vida de muitos e que serão ainda mais os que fazem parte da minha vida.

Sempre que me centro em mim, acabo a ver tudo desfocado e sob uma luz que não é natural nem verdadeira. Ora, se eu não sou o centro do mundo, quem será? Talvez o amor.

Talvez o centro do mundo seja a vida e a alma do mundo seja o amor.

O mais importante não sou eu, somos nós. Ou mais ainda: é o que nos faz existir e nos une.

Ó Deus, dá-me força para me esvaziar de tudo quanto sou e que não é bom;

Ajuda-me a alimentar o que dentro de mim pode ser força e luz do bem;

Livra-me do egoísmo e do orgulho que me convencem de que sou o mais importante;

Quanta paz sentiria se em mim deixasse mais espaço para Ti;

Quanta alegria alcançaria se me empenhasse mais na alegria dos outros.

Obrigado por tanto que tenho e sou.

Perdão pelo que não sei ou não quero dar nem ser.

Ajuda-me.


José Luís Nunes Martins


terça-feira, 11 de julho de 2023

Aprendes com os erros?


Esta é uma pergunta com “rasteira”. Acredito, mesmo, que aprendemos pouco com os erros. Ou, antes, não aprendemos o suficiente para não deixar de errar. Mas, afinal, o que se passa connosco para não conseguirmos cometer um disparate (ou um erro) numa vez única? O que nos leva a repetir, a voltar a cair no mesmo sítio? Na mesma lama, no mesmo buraco, na mesma armadilha que já ali estava antes?

É fácil. O que nos leva a repetir os erros é o esquecimento. Ou a falta de memória. Imaginemos a seguinte situação: o ano passado apanhámos um escaldão. A dor da pele a estalar, a cor rosada que repelia qualquer toque, o calor a espalhar-se por todo o corpo como se tivéssemos uma fogueira acesa debaixo da pele. Um horror. Enquanto cobríamos a pele ferida e magoada com este ou aquele unguento, repetíamos mentalmente afirmações como: nunca mais vou à praia; nunca mais fico tanto tempo ao sol; nunca mais volto a cometer esta estupidez.

E o que nos acontece, tantas vezes, no ano seguinte? Voltamos a repetir o erro. Confiamos que não há de ser assim tão mau. Que o sol não estava assim tão forte e que pusemos protetor suficiente. Repetimos porque nos esquecemos da dor que sentimos antes. Daquele queimar que nos deixava dormentes e desconfortáveis. Como se quiséssemos fugir da pele que vestíamos.

O que nos faz repetir os erros é a nossa memória. Seria insuportável manter presente a dor do escaldão do ano anterior. Além de que já não combinaria com a nossa pele recuperada e recomposta.

Infelizmente, muitos de nós precisamos de repetir para lembrar. Para entranhar a sensação de não querer mais aquele escaldão. Aquela pessoa. Aquele relacionamento tóxico. Aquele padrão de resposta e de reação. A repetição cansa-nos porque nos traz a dor de agora e a dor de antes. Mas é preciso repetir para lembrar como deve ser. Para que o corpo grite que já chega. Que disto não queremos mais. Que desta água não bebemos. Que daquele sol não queremos mais feridas.

Só quando temos a humildade de reconhecer que vamos errar mais do que uma vez (no mesmo lugar e pelos mesmos motivos) é que estaremos disponíveis para perceber o que nos fará quebrar essa repetição e decidir fazê-lo.

Enquanto não aprenderes e não tiveres coragem para olhar, prepara-te para viveres numa espiral de déjà-vus.


Marta Arrais