sábado, 30 de setembro de 2023

Sínodo: Vigília de oração é «marca importante», diz irmão David

Praça de São Pedro transforma-se em grande jardim, para acolher encontro ecuménico, com mais de 3 mil jovens




Cidade do Vaticano, 29 set 2023 (Ecclesia) – O Vaticano vai receber na tarde de sábado uma vigília ecuménica de oração, pela 16ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, reunindo responsáveis de várias Igrejas e cerca de três mil jovens.


“Esta vigília, com momentos de silêncio, de intercessão, com cânticos meditativos, é uma marca importante para este Sínodo e para o caminho da Igreja”, disse hoje à Agência ECCLESIA o irmão David, membro da comunidade ecuménica de Taizé.

“Temos uma grande experiência de escuta, de caminhar juntos neste tempo da sinodalidade. O que queremos é que esta nossa experiência possa estar ao serviço da Igreja universal, não nos queremos pôr à frente, mas colocar o nosso trabalho ao serviço de todos”, acrescentou.

O projeto nasceu em outubro de 2021, quando o irmão Alois, prior de Taizé, foi convidado a falar na abertura do processo sinodal da Igreja Católica, propondo a realização de “uma celebração sóbria de escuta da Palavra de Deus, com um longo momento de silêncio e intercessão pela paz”.

O irmão David, monge português, assume que “é uma grande alegria que esse sonho, essa inspiração do irmão Alois se possa concretizar, com este tempo de oração pelo trabalho do Sínodo e que possa ser, verdadeiramente, um tempo de oração de todo o Povo de Deus”.

“Reunimo-nos em volta do Papa e dos diferentes responsáveis de Igrejas, para que este caminho sinodal seja, realmente, caminhar juntos. Caminhar juntos com os outros, caminhar junto com os jovens, com os outros cristãos e pedir a inspiração do Espírito para que guie este trabalho da assembleia sinodal”, apontou.


"O grande sonho é que este Sínodo traga os seus frutos e que esta oração possa inspirar o trabalho sinodal”.

Jovens de 18 a 35 anos de vários países europeus, incluindo Portugal, e das várias tradições cristãs vão estar em Roma, até domingo à tarde, sendo alojados pela população local.

A oração comunitária na Praça de São Pedro inclui momentos de escuta da Palavra de Deus, louvor e intercessão, cânticos de Taizé e silêncio, apresentando-se como “sinal de fraternidade, unidade e paz”.

A vigília de oração ecuménica será presidida pelo Papa Francisco, na presença do patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu, do arcebispo de Cantuária (Igreja Anglicana), Justin Welby, e de outros responsáveis de Igrejas e comunidades cristãs.

A cerimónia será precedida – das 17h00 às 18h00 (menos uma em Lisboa) – por uma “celebração de gratidão em torno de quatro dons: gratidão pelo dom da unidade e pelo caminho sinodal, pelo dom do outro, pelo dom da paz e pelo dom da Criação”.

O programa evoca ainda o ‘Tempo da Criação’, iniciativa de oração e ação ecuménica que decorre até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis.

“A Praça de São Pedro também se vai tornar um jardim, repleta de árvores e flores, assim como a Cruz de São Damião de São Francisco”, adiantam os organizadores.

O portal de notícias do Vaticano fala numa “floresta simbólica” que começou a ser preparada nos últimos dias, para criar uma “cenografia multifacetada de arbustos, plantas, ervas e flores”.

A instalação verde foi criada pela Confagricoltura e Assoverde, da Itália, procurando evocar a “biodiversidade dos ecossistemas”.

No início da tarde de sábado, a Basílica de São João de Latrão, em Roma, acolhe “uma oração de louvor e adoração”, seguida de uma peregrinação a pé até ao Vaticano.

Os participantes vão reunir-se em vários ateliês, para “ouvir refugiados, falar sobre suas experiências, aprender com outras crenças e religiões, visitar o trabalho das missões da cidade com pessoas marginalizadas, reconhecer Cristo na diversidade das tradições, participar em mesas redondas ecuménicas, prestar mais atenção à Criação”.

O Vaticano sublinha que, para os jovens católicos, este evento “pode ser vivido em continuidade com a Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu em Lisboa no início de agosto”.

A primeira sessão XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’, vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023.

Parceria Consistório e Sínodo/OC

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

AO LADO DOS JOVENS NÃO SE ENVELHECE



Com certeza que não será ao lado dos que, distraída ou voluntariamente, fazem da vida uma autoestrada para lado nenhum e insistem em percorrê-la! Tal como todos, são ‘terra sagrada’, portadores ‘de sementes de vida divina’, dignos de todo o respeito, sem dedo em riste, sem julgamento, com amor. No entanto, a própria sociedade, olhando com olhos de ver e querendo implementar o bem e o bom, interroga-se sobre o quê e como fazer para os ajudar a discernir e a concluir, em liberdade, que há outras estradas muito mais belas e realizadoras, com metas e pódio para a coroa da vitória. Triste seria se, embora só viessem a ser enterrados daqui a noventa, cem ou mais anos, triste seria se alguém, jovem, fazendo ouvidos moucos a si próprio e aos outros, viesse a optar pela ‘aposentação’ precoce ou por ‘morrer’ antes de tempo, como diz não sei se o outro se a outra, mas tenho cá um palpite que terá sido a mariquinhas quem o disse. Isso aconteceria, se, com 17, 18, 20 ou mais anos, algum jovem deixasse de sonhar, sendo o sonho que comanda a vida. Custa-me acreditar que haja jovens que já calçaram as pantufas e vestiram o robe para se espraiarem no sofá, que entorpece, ou já decidiram deixar-se envelhecer por caminhos outros ao sabor de repentes! Não é justo que eles mesmos se imponham a si próprios esta visão de vida! É pobre demais! Embora, por certo, os tenham e bem tratados, se isso acontecesse, nestes tempos tão desafiantes e promissores, seria caso para chamar à liça o provérbio e dizer com o povo: foi ‘dar nozes a quem não tem dentes’!
Quando os jovens são 'o hoje de Deus', os espiões do amanhã e os ‘coreógrafos da dança da vida’; quando são ‘desejosos de sentido e de futuro’, ‘empreendedores de sonhos e não gestores de medos’; quando se assumem como verdadeiros ‘protagonistas da mudança’, com energia, audácia e criatividade; quando são 'jovens com raízes', com um raizame que os fortalece e faz ‘crescer, florescer e frutificar’; quando procuram e tudo arriscam, ao lado desses jovens ninguém consegue envelhecer, mesmo que a idade avance e reclame bengala ou canadianas. Eles reviram o mundo de pernas para o ar, contagiam. A sua presença e ação envolvem toda a gente, não permitindo que o entusiasmo dos outros esmoreça nos bons e menos bons frenesins e rebuliços da festa da vida!
No seguimento da Jornada Mundial da Juventude, o hoje do mundo e da Igreja precisa destes jovens arautos da esperança. Precisa de jovens jovens e em saída, que estimulem e contagiem, que dinamizem e entusiasmem, que congreguem e promovam o bem comum, com Cristo, em Cristo, ao jeito de Cristo. Cristo continua a ser o Jovem mestre mais influente e inovador de todos os tempos, com as únicas armas do amor e da amizade levadas até ao extremo. Ele é sempre jovem e vive, quer-nos vivos, felizes e ativos. E seja qual for a direção, a qualidade e a paisagem dos nossos caminhos, Jesus faz-se companheiro de viagem, e, se quisermos, Ele ajuda-nos a endireitar as veredas em direção à meta e ao pódio... Como disse Sebastião da Gama “Meu caminho é por mim fora, até chegar ao fim de mim e encontrar-me com Deus”.
Na Exortação Apostólica ‘Cristo Vive’, o Papa Francisco fala duma pastoral juvenil que implique “duas grandes linhas de ação. Uma é a busca, a convocação, o chamamento, capaz de atrair novos jovens para a experiência do Senhor. A outra é o crescimento, o desenvolvimento de um caminho de amadurecimento daqueles que já fizeram essa experiência”. Por todo o capítulo sétimo desse documento, Francisco dá valiosas pistas para que a pastoral juvenil possa ser uma pastoral missionária onde toda a comunidade se envolva, dando maior protagonismo aos jovens. Trata-se “de mobilizar a astúcia, o engenho e o conhecimento que os próprios jovens têm da sensibilidade, da linguagem e das problemáticas dos outros jovens”.
No referente à primeira grande linha de ação, a BUSCA, Francisco, dando-lhes liberdade de ação, confia “na capacidade dos próprios jovens, que sabem encontrar os caminhos atraentes para convidar. Sabem organizar festivais, competições desportivas, e sabem também evangelizar nas redes sociais com mensagens, canções, vídeos e outras intervenções (...). Nesta busca, deve-se privilegiar a linguagem da proximidade, a linguagem do amor desinteressado, relacional e existencial que toca o coração, atinge a vida, desperta esperança e anseios (...). A linguagem que os jovens entendem é a de quantos dão a vida, a daqueles que estão ali por eles e para eles, e a de quem, apesar das suas limitações e fraquezas, se esforça por viver coerentemente a sua fé”.
Quanto à segunda grande linha de ação, o CRESCIMENTO, Francisco faz uma advertência importante. Ele afirma que, em alguns lugares, acontece que, depois de os jovens terem feito uma experiência intensa de Deus, um encontro com Jesus que tocou o seu coração, são-lhes propostos encontros onde se abordam apenas questões doutrinais e morais. “Resultado: muitos jovens aborrecem-se, perdem o fogo do encontro com Cristo e a alegria de o seguir, muitos abandonam o caminho e outros ficam tristes e negativos. Acalmemos a ânsia de transmitir uma grande quantidade de conteúdos doutrinais e procuremos, antes de mais nada, suscitar e enraizar as grandes experiências que sustentam a vida cristã”. É certo que “qualquer projeto formativo, qualquer percurso de crescimento para os jovens deve, certamente, incluir uma formação doutrinal e moral. De igual modo é importante que aqueles estejam centrados em dois eixos principais: um é o aprofundamento do querigma, a experiência fundante do encontro com Deus através de Cristo morto e ressuscitado; o outro é o crescimento no amor fraterno, na vida comunitária, no serviço”. E alerta: “seria um erro grave pensar que, na pastoral juvenil, “o querigma é deixado de lado em favor duma formação supostamente mais “sólida”. Nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio. Toda a formação cristã é, primariamente, o aprofundamento do querigma que se vai, cada vez mais e melhor, fazendo carne”. Por isso, a pastoral juvenil deve incluir sempre “momentos que ajudem a renovar e aprofundar a experiência pessoal do amor de Deus e de Jesus Cristo vivo. Fá-lo-á valendo-se de vários recursos: testemunhos, cânticos, momentos de adoração, espaços de reflexão espiritual com a Sagrada Escritura e, inclusivamente, com vários estímulos através das redes sociais. Mas nunca se deve substituir esta experiência feliz de encontro com o Senhor por uma espécie de ‘doutrinação’” (CV209-215).

D.Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 29-09-2023.

A PROPÓSITO… DA CATEQUESE

 



1. Que eu compreenda a vocação dos catequistas e a sua nobre missão eclesial.

2. Que eu perceba que evangelizar é dar a vida e fazer caminho ao jeito de Jesus.

3. Que eu entenda que Deus, apesar de não precisar de nós, quer contar connosco.

4. Que eu sinta o dever cristão de viver, testemunhar e anunciar a Boa Nova do Reino.

5. Que eu me abra à graça divina para ser um verdadeiro discípulo de Jesus Cristo.

6. Que eu seja capaz de falar da Palavra de Deus com fé, esperança e caridade.

7. Que eu acolha a vontade de Deus e partilhe apaixonadamente o que sou e acredito.

8. Que eu antes de falar de Deus, dialogue intimamente com Ele na oração.

9. Que eu não me anuncie a mim mesmo e esteja sempre em comunhão com a Igreja.

10. Que eu viva o mandamento do Amor e siga a Jesus, Caminho, Verdade e Vida.

- Paulo Costa

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

CATEQUESE 2023/2024

 CATEQUESE  2023/2024

REUNIÃO DE PAIS 


A Paróquia de Arronches convida os Pais das crianças que vão entrar para o 1º ano da Catequese Paroquial para Reunião preparatória, no dia 29 de Setembro às 20h30m na Casa Paroquial.
Compareça!




Se não fizer por justiça, faça por caridade!



Caridade, coisa maravilhosa essa!

A propósito disso recordo muitas vezes a história que o nosso Padre Manuel contava dos tempos de seminário. Para ser bem contada, só por ele (a quem faço justa homenagem como contador de histórias) que relatava a história de um seminarista que pelos vistos não tinha cumprido com sucesso todas as provas a que se tinha proposto, e como tal estava em risco de não prosseguir nos seus estudos. Todos se aproximaram do professor a tentar convence-lo a deixar passar esse jovem e o argumento era este: “Se não for por justiça, que seja por caridade!”

Tanto quanto me recordo, e apesar de ser padre, não foi sensível ao argumento da caridade e agarrou-se mais à justiça. Se tem razão ou não, eu não sei julgar, mas obriga-me a refletir quantas vezes temos o poder na mão, e a justiça do nosso lado e optamos pela caridade. E nas vezes em que somos JUSTOS, justíssimos mas ficamos com um amargo de boca porque não fomos caridosos.

Quantas vezes temos de decidir, sejamos professores, líderes de grupos, membros de equipas, passar, utilizar ou chumbar alguém e nos deparamos com dúvidas. 
O que fazer?

A justiça deveria andar de braço dado com a caridade, mas quantas vezes, fechamos os olhos e pomos mais uns pozinhos nas notas para o outro poder passar. Quantas vezes fechamos os olhos às ausências e justificamos com amor na expectativa de que a qualquer momento ele sinta que a sua presença é importante. Quantas vezes é justíssimo o lugar que ocupamos e o cedemos a alguém que dele precisa.

Quantas vezes achamos que somos justos, mas na verdade apenas guardamos a lei e não olhamos à substância. Cumprimos fielmente protocolos e etiquetas, mas esquecemos-mos de assumir que o nosso dever é amar o outro com as suas falhas e limitações. Não estou com isso a justificar injustiças, mas a realçar a vertente humana de qualquer decisão.

A justiça protege-nos, mas nem sempre nos apazigua.

A justiça protege-nos dos julgamentos dos outros, mas não do nosso.

Não, não é fácil discernir o que é correto, eu sei do que falo, mas na dúvida: “se não fizer por justiça, que seja por caridade”.

Quem sabe é uma oportunidade de o outro ver em nós, não uma fraqueza, mas a grandeza maior que é o amor traduzida em gestos de caridade.

Nem sempre o outro reconhece o dom que lhe é dado, nem sempre o outro merece, nem sempre…mas sabe tão bem!

E tu amiga, quantas vezes fazes por caridade?


Raquel Rodrigues

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Não é o que consegues, é o que tentas

 


Aquilo que no final da nossa existência mais vai importar não são os resultados que atingimos, mas aquilo pelo qual lutámos. Não o que ganhámos ou perdemos, mas o que fizemos quando estávamos na arena, qual foi o nosso objetivo e que decisões concretas tomámos para o alcançar.

Cada um de nós, porque é livre, é responsável por si e pelos seus gestos. Não pelos desfechos que resultam deles. Se fossemos todo-poderosos e não respeitássemos nada nem ninguém, então sim, mas só nessas condições.

Somos parte de um todo, os sucessos quase sempre são mérito de muitas pessoas, não de uma só. É bom que nos lembremos disso quando nos julgamos melhores do que todos os outros e autossuficientes.

Haverá sempre quem prefira destruir sozinho em vez de construir em conjunto. Orgulhosos, querem ser autores singulares de qualquer coisa, ainda que seja má. Pelo menos assim se sentem num patamar diferente dos demais.

No fim dos tempos, seremos pesados de acordo com as nossas ações e intenções. Alguém que tentou fazer o mal, ainda que sem o ter alcançado, terá o mesmo fim daquele que o conseguiu. O mesmo em relação ao bem, é querê-lo e tentá-lo que define o direito à eternidade, não se o conseguimos concretizar ou não.

Devemos trabalhar como se tudo dependesse só de nós, sem ficar à espera de que outros nos ajudem e assim nos poupemos. Há que dar tudo. Tudo. Conscientes de que os fins a que chegamos aqui são muito pouco importantes quando comparados com aquele que devemos merecer…

Quem desiste, enquanto puder tentar mais uma vez, nem de si mesmo é digno.


José Luís Nunes Martins

terça-feira, 26 de setembro de 2023

Um dia houve alguém que escutou o sofrimento



Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. Ignorou leis e preceitos. Derrubou crenças e opressões para que o sofrimento de muitos fosse escutado. Era alguém que levava ao extremo a doação da sua vida para que tantos outros pudessem sentir o sabor da Vida.

Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. Fez da sua vida uma verdadeira estrada, onde através da verdade aliviava quem durante tanto tempo tinha sido ignorado, menosprezado e maltratado. Era alguém que trabalhava para erguer e por isso caminhava por entre a existência dos que ninguém queria ver, ouvir ou tocar. Era alguém que escutava porque tinha o cuidado de colocar no centro quem sempre viveu na periferia.

Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. E não parou até gritar a todos que é no amor que surgem os milagres. Não parou até dar a conhecer a todos que a fé se faz de laços. Não parou até que todos se deixassem contagiar pelo discipulado da escuta, do toque e da compaixão. Era alguém que escutava porque descodificava a vida e o sofrimento com o coração.

Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. E explicou vezes sem conta que o seu sonho haveria de ser concretizado quando todos fossem cuidados, acolhidos e amados. Mas muitos demoraram a entender e, por isso, explicou-lhes a fé, a vida e o amor em parábolas. E sem ver resultados entregou-se totalmente. Acolhendo em si todos os gritos, todas as dores, todas as opressões e incompreensões. Deixou que todos, todos, todos fossem inscritos para sempre na sua vida.

Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. E tu? Tens escutado os que se sentem abandonados pela sociedade, pela Igreja e pelos seus?

Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. E tu? Tens estado atento aos que te rodeiam?

Um dia houve alguém que escutou o sofrimento. E tu? Tens-te ouvido? Tens curado as tuas feridas, as tuas sombras? Tens procurado a ajuda necessária para poderes escutar o teu sofrimento?

Um dia houve alguém que escutou o sofrimento e, a partir desse momento, todos foram erguidos!


Emanuel António Dias,

segunda-feira, 25 de setembro de 2023

As pessoas que nos curam

 

Ninguém se cura sozinho. Ninguém ultrapassa as tempestades, os barcos revirados, a água que se engole ou o vento cortante sem a ajuda de ninguém. O processo de cura de cada um, ainda que profundamente individual e altamente solitário, é (ainda) um processo de comunidade. De partilha profundíssima capaz de revolver crenças, raízes e, até, a própria alma. É sobre estas pessoas que vale a pena falar. Sobre os que nos mudam a vida para melhor, sem contrapartidas e, tantas vezes, com prejuízo pessoal.

 

Este texto é para quem não se assusta com a nossa escuridão.

Para quem entra no barco, segura nos remos e diz: “vamos por aqui”.

Para quem nos acende a luz de dentro com a sua.

Para quem vem para ficar.

Para quem nos diz o que precisamos de ouvir.

Para quem nos mostra o que precisamos de ver.

Para quem nos revela as fotografias da alma, que nem sabíamos que existiam, algures por ali.

Para quem é genuinamente bom.

Para quem luta do lado do Bem.

 

Para quem se atreve a ficar connosco quando somos pouco, fazemos pouco e sabemos ainda menos.

Para quem nos segura o leme quando a nossa vida é um navio prestes a embater no maior iceberg.

Para quem não desiste de nós e não se perturba pelas nossas fragilidades.

 

Para quem nos encontra a meio caminho.

Para quem reza por nós.

Para quem se preocupa.

Para quem cuida de nós com o carinho que nem sempre merecemos ou sabemos retribuir.

 

Que saibamos cuidar das nossas pessoas-leme. Das nossas pessoas-resgate. Que vêm para nos mostrar que o Bem há de ganhar sempre. Seja qual for o mal que nos apareça.

 Marta Arrais

domingo, 24 de setembro de 2023

Aleluia

 

"Ide também vós para a minha vinha"

 


A liturgia do 25º Domingo do Tempo Comum convida-nos a descobrir um Deus cujos caminhos e cujos pensamentos estão acima dos caminhos e dos pensamentos dos homens, quanto o céu está acima da terra. Sugere-nos, em consequência, a renúncia aos esquemas do mundo e a conversão aos esquemas de Deus.
A primeira leitura pede aos crentes que voltem para Deus. "Voltar para Deus" é um movimento que exige uma transformação radical do homem, de forma a que os seus pensamentos e acções reflictam a lógica, as perspectivas e os valores de Deus.
O homem só poderá converter-se a Deus e abraçar os seus esquemas e valores, se se mantiver em comunhão com Ele. É na escuta e na reflexão da Palavra de Deus, na oração frequente, na atitude de disponibilidade para acolher a vida de Deus, na entrega confiada nas mãos de Deus, que o crente descobrirá os valores de Deus e os assumirá. Aos poucos, a acção de Deus irá transformando a mentalidade desse crente, de forma a que ele viva e testemunhe Deus e as suas propostas para os homens.
A conversão é um processo nunca acabado. Todos os dias o crente terá de optar entre os valores de Deus e os valores do mundo, entre conduzir a sua vida de acordo com a lógica de Deus ou de acordo com a lógica dos homens. Por isso, o verdadeiro crente nunca cruza os braços, instalado em certezas definitivas ou em conquistas absolutas, mas esforça-se por viver cada instante em fidelidade dinâmica a Deus e às suas propostas.

O Evangelho diz-nos que Deus chama à salvação todos os homens, sem considerar a antiguidade na fé, os créditos, as qualidades ou os comportamentos anteriormente assumidos. A Deus interessa apenas a forma como se acolhe o seu convite. Pede-nos uma transformação da nossa mentalidade, de forma a que a nossa relação com Deus não seja marcada pelo interesse, mas pelo amor e pela gratuidade.
Todos têm lugar na Igreja de Jesus... Mas todos terão a mesma dignidade e importância? Jesus garante que sim. Não há trabalhadores mais importantes do que os outros, não há trabalhadores de primeira e de segunda classe. O que há é homens e mulheres que aceitaram o convite do Senhor - tarde ou cedo, não interessa - e foram trabalhar para a sua vinha. Dentro desta lógica, que sentido é que fazem certas atitudes de quem se sente dono da comunidade porque "estou aqui há mais tempo do que os outros", ou porque "tenho contribuído para a comunidade mais do que os outros"? Na comunidade de Jesus, a idade, o tempo de serviço, a cor da pele, a posição social, a posição hierárquica, não servem para fundamentar qualquer tipo de privilégios ou qualquer superioridade sobre os outros irmãos. Embora com funções diversas, todos são iguais em dignidade e todos devem ser acolhidos, amados e considerados de igual forma.

A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de um cristão (Paulo) que abraçou, de forma exemplar, a lógica de Deus. Renunciou aos interesses pessoais e aos esquemas de egoísmo e de comodismo, e colocou no centro da sua existência Cristo, os seus valores, o seu projecto.
Neste texto, impressiona também a liberdade total de Paulo face à morte. Essa liberdade resulta do facto de a fé que anima o apóstolo lhe permitir encarar a morte, não como o mais terrível e assustador de todos os males, mas como a possibilidade do encontro definitivo e pleno com Cristo. Dessa forma, Paulo pode entregar-se tranquilamente ao exercício do seu ministério, sem deixar que o medo trave o seu empenho e o seu testemunho. Também aqui a atitude de Paulo interpela e questiona os crentes... Para um cristão, a morte é o momento da realização plena, do encontro com a vida definitiva. Não é um drama sem sentido, sem remédio e sem esperança. Para um cristão, não faz sentido que o medo da perseguição ou da morte impeça o compromisso com os valores de Deus e com o compromisso profético diante do mundo.

https://www.dehonianos.org/

sábado, 23 de setembro de 2023

PORQUÊ A MISSA?

 

PORQUÊ A MISSA?


«Não há Domingo sem missa!», dizia o povo, antigamente. E, de facto, é muito vulgar ouvir dizer que os cristãos, ou melhor, os Católicos são os que vão à Missa ao Domingo. E também se diz que «os que vão são praticantes». Porque há quem diga: sou católico, mas não pratico!

Em qualquer Catecismo se lê que o terceiro Mandamento da Lei de Deus é: Santificar os Domingos e as Festas de Guarda. Vamos já ver donde é que tudo isto vem e que significado tem tal «obrigação»: como, quando e porquê se celebra (e se vive) essa santificação do Domingo.

Antes, porém, é bom lembrar e reparar em duas coisas. A palavra «Domingo» quer dizer «dia do Senhor»: «senhor», em latim, diz-se «Dominus». Ora, para os cristãos, o seu Senhor (Deus) é Jesus Cristo que, como nos diz o Evangelho, «ressuscitou no dia seguinte ao Sábado, o primeiro dia da semana», que, por isso, se tornou dia de festa, de memória e agradecimento.

Mas, para os judeus, seguindo o Antigo Testamento e as leis deixadas por Moisés, celebra-se o dia de Sábado: o «sabbat», que, em hebraico, quer dizer o «descanso», dia consagrado ao seu Deus, a Javé. Assim, no Livro do Êxodo (cap. 20, 8-10), o terceiro mandato de Moisés diz o seguinte: «Lembra-te do dia de sabbat para o santificar. Durante seis dias trabalharás e farás o que tens a fazer, mas o sétimo dia é de descanso para o Senhor, teu Deus, nele não farás qualquer trabalho».

Os judeus festejam o último dia (da semana), o descanso com Deus depois dos trabalhos. Os cristãos celebram o primeiro dia (da semana), da vida nova com Jesus que os manda viver na alegria e na comunhão.


A plenitude no Novo Testamento

O Evangelho não deitou fora a Lei, mas Jesus ensinou a cumpri-la com amor, ao serviço da pessoa e dos mais necessitados. Além disso, revelou qual é a verdadeira plenitude de vida em Paz: o pleno descanso, o «sete», o fim dos tempos está na comunhão com Cristo Ressuscitado. Jesus veio chamar-nos, a todos, a viver e a celebrar a Páscoa. Não só com toda a solenidade uma vez por ano, mas cada Domingo. No primeiro dia da semana, Jesus, terminados os seus «trabalhos», entrou no «descanso eterno» do abraço do Pai. Ressuscitou e convida-nos a morrer para o que é mundano e a tomar parte no seu descanso, na comunhão com Ele.

Porquê a Missa?

A Eucaristia é participar na Ressurreição

O que descansa o cristão é experimentar que é amado por Deus. É ouvir e entender a sua palavra salvadora, fazer parte, como membro vivo, da família de Cristo: a Igreja, seu corpo; e receber o alimento da fé, da esperança e do amor, comungando o pão da vida. E ainda receber a missão de ir testemunhar o Caminho, a Verdade e a Vida ressuscitada.

Tudo isto é ir à Missa: buscar e receber o alimento para a Missão; alimentar o ser cristão.

A graça e o direito ao descanso com Deus

Concluindo: cumprir ou praticar o Terceiro Mandamento é valorizar e aproveitar os meios espirituais comunitários que Cristo, através da Igreja, oferece para crescer e participar com Ele na Vida Eterna: «Santificar o dia do Senhor e todos os dias em que celebramos os Passos da sua entrega de amor»; «fazei isto em memória de mim!».



Vasco Pinto de Magalhães, sj (In Mensageiro do Coração de Jesus – adaptado)

sexta-feira, 22 de setembro de 2023

NÃO CAIA NA ESPARRELA!...


Esparrela é sinónimo de cilada, burla, arriosca, armadilha, logro, langará, coisa que, se nela caímos, é sempre desagradável. Quem, voluntariamente, pelas razões que só ele sabe, arma uma cilada a alguém, o povo diz que esse arteiro deve ser fraca rés. Quando, porventura, alguém cai num desses ardis por ingenuidade, o mesmo povo diz que esse é um tonho! Pior será se somos nós a fraca rés que arma as ratoeiras e os tonhos que nelas caem! Se assim for, acho que já não bastará um mero ‘tiroteio de palavradas de tarimba’!... Mas vem isto a propósito de quê? Ora..., a propósito de quê!?... De não sermos tonhos nem fraca rés, claro está, mesmo no segredo, ihihihih!
Até em relação aos conteúdos da fé, pode-se cair numa esparrela ou deixar-se ir em cantigas, acabando por comer gato por lebre e por beber zurrapa em vez de Alvarinho, festejando como se fosse um lauto banquete do progresso em reação a uma Igreja que resiste a embarcar em modas, sempre transitórias. As pessoas são livres, são, e bem. São livres para dizerem o que pensam, pensando o que dizem. São livres para seguirem o que ouvem, discernindo o que escutam. São livres para fazer isto ou aquilo, escolhendo o bem. Quem opta pelo mal, acho que não é suficientemente livre, está a ser escravo de si mesmo, das suas circunstâncias e fragilidades, talvez dos outros também. A liberdade, coisa tão bela e preciosa, tem caprichos e rabugens de dama garbosa. Tanto para quem, sem mais, diz o que pensa, segue o que ouve ou faz o que entende. Tal como a verdade, a liberdade reclama diligências de sentinela e cuidados de quem se ama a si e aos outros.
Exemplo: ‘Cristo sim, Igreja não’! Aceitar ou propagar este absurdo pode manifestar, em quem o faz, propósitos armadilhados ou desviantes, quer para minimizar a importância da Instituição, quer para enaltecer a religiosidade ‘à la carte’ ou em ‘self service’, arrastando outros para o mesmo erro. Pode ser fruto de quem diz o que pensa sem pensar o que diz, atestando que isso é que é bom e verdadeiro. Pode mesmo manifestar, na pessoa que o afirma, desconhecimento de Cristo e da Igreja, autodenunciando-se como um craque nesse desconhecimento. No entanto, porque há quem perfilhe ‘Cristo sim, Igreja não’, o Magistério sempre tem alertado para o contrassenso dessa afirmação. Francisco também já o fez. Paulo VI, por exemplo, de quem tenho aqui um seu documento à mão, afirmou que há “momentos em que acontece nós ouvirmos, não sem mágoa, algumas pessoas - cremos que bem-intencionadas, mas, com certeza, desorientadas no seu espírito -, a repetir que pretendem amar a Cristo mas sem a Igreja, ouvir a Cristo mas não à Igreja, ser de Cristo mas fora da Igreja. O absurdo de uma semelhante dicotomia aparece com nitidez nesta palavra do Evangelho: “Quem vos rejeita é a mim que rejeita”. E como se poderia querer amar a Cristo sem amar a Igreja, uma vez que o mais belo testemunho de Cristo é o que São Paulo exarou nestes termos: “Ele amou a Igreja e entregou-se a si mesmo por ela” (EN16).
‘Cristo total’ é Cristo e a Igreja. Podemos dizer que Cristo (Cabeça), não existe sem a Igreja (Corpo). Nem a Igreja (Corpo), existe sem Cristo (Cabeça). Não se pode amar a Cabeça e desprezar o Corpo, tampouco amar o Corpo e desprezar a Cabeça. Há uma ligação íntima entre Cristo e a Igreja a Igreja e Cristo. O Espírito Santo é quem une todas as partes deste Corpo místico, “tanto entre si como com a Cabeça, pois Ele está todo na Cabeça, todo no Corpo, todo em cada um dos seus membros” (CIgC797). Formamos todos um só Corpo, pois participamos todos do único Pão que é Cristo (cf. Cor 10, 16-17). Esta unidade de Cristo e da Igreja implica também a distinção dos dois, numa relação pessoal, muitas vezes apresentada pela imagem do esposo e da esposa. O próprio Senhor se designou como “Esposo” (Mc 2,19), e a Igreja é apresentada como uma esposa ‘desposada’ com Cristo Senhor que a amou e se entregou por ela para a santificar, associou-a a si por uma aliança eterna, não cessando de lhe prestar cuidados (cf. CIgC796): “Serão os dois uma só carne. É esse um grande mistério, digo-o em relação a Cristo e à Igreja” (Ef 5, 29.31-32).
Acreditamos que Cristo, pelo seu ser, presença e atuação, é “Sacramento” de Deus Pai, é sinal vivo, real, atuante e eficaz de Deus entre nós. É pela Encarnação de seu Filho Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que o Pai se faz presença salvífica entre nós, quem vê o Filho vê o Pai (cf. Jo 14,9). Aos que creem em Cristo decidiu Deus chamá-los à Santa Igreja, a qual, “prefigurada já desde o princípio do mundo e admiravelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança, foi constituída no fim dos tempos, e manifestada pela efusão do Espírito Santo, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos” (LG2).
Cristo é “Sacramento” de Deus, a Igreja, por sua vez, é “Sacramento” de Cristo. É sinal real da sua presença e foi enviada, por Ele, com uma missão específica, evangelizar. Existe uma ligação profunda entre Cristo, a Igreja e a evangelização. A evangelização não se realiza sem a Igreja, muito menos contra a Igreja ou deturpando o projeto de Deus da qual ela é depositária e guardiã, um projeto sempre atual e atuante, em todos os tempos e lugares. Isto não quer dizer que ela, a Igreja, porque também é humana, não deva estar sempre sujeita ao escrutínio alheio e próprio, até porque isso a ajuda a crescer e a melhor servir, sem desvios.
Nascida da ação evangelizadora de Jesus e dos Apóstolos, nascida da missão, a Igreja é enviada por Jesus, como sinal, como sacramento da sua partida e da sua permanência, é sua cooperadora na obra da salvação universal, é através dela que Jesus cumpre a sua missão, pois Ele veio para todos e para caminhar com todos, até ao fim dos tempos. Jesus enviou-a como seu prolongamento: “assim como o Pai Me enviou, assim também Eu vos envio a vós” (Jo 20,21). “Quem vos ouve, a Mim ouve; e quem vos rejeita, a Mim rejeita; mas quem Me rejeita, rejeita Aquele que Me enviou” (Lc 10,16). “Ide, pois, fazei discípulos de todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei. E eis que Eu estou convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mt 28,19-20). Enviou-os a pregar, “não as suas próprias pessoas ou as suas ideias pessoais, mas sim um Evangelho do qual ela é depositária. Nem eles nem ela são senhores e proprietários absolutos, para dele disporem a seu bel-prazer. São ministros para o transmitir com a máxima fidelidade” (EN15).
A Encarnação, a Missão e o Mistério Pascal de Cristo não são acontecimentos do passado, dominam todos os tempos. A Eucaristia faz a Igreja, é o memorial do Mistério Pascal de Cristo, o seu hoje, a atualização e oferecimento sacramental do seu único sacrifício, a proclamação das maravilhas que Deus fez por amor dos homens, atraindo-os para Cristo, a verdadeira Vida. Jesus só voltou para o Pai depois de nos ter deixado forma de podermos participar na sua Páscoa, ao longo dos tempos. Embora precedida pela evangelização, pela fé e pela conversão, fazemo-lo em Igreja, sobretudo através da Liturgia. Os sacramentos são «como forças que saem do Corpo de Cristo”, são “a obra-prima de Deus, na nova e eterna aliança”, estão ordenados à santificação das pessoas e à edificação do Corpo de Cristo, a Igreja. Supõem a fé, sim, mas também a alimentam, a fortificam, a exprimem.

D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 22-09-2023.

O essencial


Que nunca esqueçamos o essencial. Que ainda saibamos serenar toda a correria. Silenciar todo o ruído, por fora e por dentro. Para respirar, para sentir, para ver com o coração. Para recordar sempre. E para nunca esquecer. O essencial. O que importa de verdade. No meio de tudo e apesar de tudo. Aquilo que fica, no final.

No final, o que fica são aqueles abraços que nos abrigam dos medos.

No final, o que fica são aquelas mãos que nos confortam nos tempos mais duros.

No final, o que fica são aqueles sorrisos que nos sorriem no meio do caos.

No final, o que fica são aqueles olhares da alma no meio do desalento.

No final, o que fica são aquelas ternuras que nos curam as dores.

No final, o que fica são aqueles amparos que nos seguram as fraquezas.

No final, o que fica são aquelas palavras que nos falam com o coração e aqueles silêncios que nos escutam o coração.

No final, o que fica são aqueles risos que nos aliviam o peso do mundo.

No final, o que fica são aqueles gestos que nos salvam dos dias cinzentos, da escuridão, da tempestade.

No final, o que fica são aquelas pessoas-amor. Que estão, que ficam, que se importam. Todos os dias. (Até, às vezes, quando não merecemos).

No final, o que fica é o amor.

No meio de tudo e apesar de tudo.

Para recordar sempre. E para nunca esquecer.

O essencial é o amor.



Daniela Barreira

quinta-feira, 21 de setembro de 2023

Ama-Me como tu és

Pode ser um desenho de texto que diz "Se para Me M amar, tu esperas primeiro ser prefeito, nunca Me amarás Tiu"

Não importa sermos pequenos,
Não importa de que errâncias chegamos.
Deus está sempre disposto
a procurar-nos e a encher-nos de uma medida transbordante de Amor.
E repete-nos: “Ama-Me como tu és,
a cada instante
e na posição em que te encontras,
no fervor ou na secura,
na fidelidade ou na infidelidade.
Se tu esperas tornar-te primeiro perfeito
para então começares a Me amar,
não Me amarás nunca.
Eu só não te permito uma coisa, que não Me ames.
Ama-Me, tal como és.
Eu quero
o teu coração esfarrapado,
o teu olhar indigente,
as tuas mãos vazias
e pobres.
Eu amo-te até ao fundo da tua fraqueza.
Eu amo o Amor dos pobres.
Eu quero ver no fundo da tua miséria,
crescer o Amor
e só o Amor.
Se para Me amar, tu esperas primeiro ser prefeito, nunca Me amarás.
Ama-Me como és!

| Cardeal D. José Tolentino Mendonça


quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Ajuda-me a perdoar, ajuda-me a libertar-me

 





Querida amiga, quantas vezes somos absorvidos por sentimentos de mágoa que nos impedem de olhar para o outro com amor.

Quantas vezes, damos por nós a ver o mal em tudo e todos e por consequente, a desejar algum (pouquinho) mal a tudo e a todos.

É inevitável que colecionarmos mal entendidos mas também é inevitável que algumas coisas não sejam: são manifestamente de propósito! Prejudicam-nos, magoam-nos, ferem-nos, atraiçoam-nos e pela calada nos dão palmadinhas nas costas quando, na verdade, nos querem é ver pelas costas.

Como perdoar a quem nos faz mal? Como perdoar a quem nos faz sentir mal?

Quando rezamos o Pai Nosso, recorda muitas vezes a minha a mãe, dizemos: ”perdoai os nossos pecados, assim como perdoamos a quem nos tem ofendido” e se não consigo perdoar? O que fazer?

Reconcilia-te:

Dá um passo no sentido de abordar esse assunto. Se não conseguires com a pessoa que te prejudicou (porque às vezes é difícil) partilha essa mágoa com alguém da tua confiança. Quem sabe ela não verá as coisas por outro prisma e te faça amainar a dor.

Reúne factos, sentimentos e mistura-os com amor e caridade e se mesmo assim não funcionar, aceita que nem sempre conseguimos sarar as feridas todas de uma vez.

Liberta-te:

O sacramento da reconciliação é muitas vezes menosprezado, considerado desnecessário, em desuso como se de uma submissão se tratasse. Confesso que em alguns casos é um momento constrangedor porque não se cria empatia necessária para uma conversa reparadora. Não tecerei comentários sobre o protocolo do sacramento da reconciliação, mas sei, por experiência, que pode ser transformador. Não se trata de uma conversa apenas- é um sacramento, um dom que nos é dado por Deus, e como tal acredito que ultrapassa o que os olhos possam ver. Quando há um propósito, um sentimento e vontade de partilhar, com humildade, o que te pesa, incomoda e te impede de olhar para os outros com amor, e se encontrares no outro um representante divino, na doçura e na compreensão, não é só um peso que se liberta, é a ALMA.

E porque sinto que muitas vezes me sinto pesada e presa dou por mim a pedir a Deus: “por favor ajuda-me a perdoar, liberta-me!”.

E tu amiga tens conseguido perdoar? Tens conseguido libertar-te?


Raquel Rodrigues

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Andas à procura do rumo certo?



Caminhar em direção à luz será sempre o rumo certo. Quem voltar as costas à luz seguirá sempre a sua própria sombra, rumo à maior das escuridões.

Mas que luz é esta que devemos buscar? Aquela que nos permite ver melhor o que são as pessoas e as coisas para além da sua aparência. A verdade ilumina. Na penumbra, as obras de um santo não se distinguem das de um malvado. É a luz que faz ver, porque sem ela, ainda que os olhos estejam em perfeitas condições e as coisas bem diante deles… nada se verá.

Quem foge da luz senão aqueles que se envergonham do que são? A verdade revela os defeitos com a mesma nitidez que celebra as perfeições. Só quem não tem fé em si mesmo, nem busca mais do que já, se permite a não ver aquilo em que pode ser melhor. Quem se emprega a corrigir as incorreções que a luz da verdade lhe mostra está no bom caminho.

Entre ti e a luz haverá sempre obstáculos que, roubando-te a luz, derramarão sobre ti a sua sombra. Não desanimes, porque uma grande sombra é um sinal claro de uma grande luz.

Cuidado para não te deixares enganar pelos brilhos que são apenas reflexos de uma luz que não é sua nem está ali, está no lado oposto.

Subir ou descer? É no alto da montanha que se está mais perto do céu. Quem se eleva aperfeiçoa-se. Muitos são os sacrifícios que são pedidos aos que sobem. Por vezes, o chão, de tão íngreme, parece uma parede que nos aconselha a voltar para trás.

O caminho de cada um de nós constrói-se a cada passo, não existe antes de nós o fazermos. Todos os caminhos que decidimos não criar, não existem na realidade, apenas nos sonhos de quem não os criou.

Ser livre é só isso: cumprir o dever de fazer o seu caminho. Nos dias em que não andamos para diante, não vivemos… apenas demoramos.


José Luís Nunes Martins

segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Amar

 

TANTAS VEZES ACONTECE QUE, ao contrário das nossas expectativas, o amor não nos peça a força, mas espere sim de nós uma fraqueza
ainda maior do que aquela que trazemos. Tantas vezes acontece que o amor não de importância, pelo menos a importância grandiosa que idealizamos, àquilo que temos para dar, mas se mostre sobretudo interessado em treinar o nosso coração para a arte de receber. E, do mesmo modo, que o amor não requeira de nós novas palavras a somar àquelas que já dizemos, mas nos desafie à aprendizagem de uma contemplação e de um silêncio que até aqui ignorámos. Na verdade, o amor não escolhe esta ou aquela preciosa veste para se revelar, mas dá-se a ver na exata e difícil nudez da vida ordinária. Por isso, Senhor, ajuda-nos a compreender que amar é descobrir, no próprio coração, quanto o amor maior e mais livre do que as imagens prévias que construímos. E que o compromisso incondicional com esse amor seja a nossa quotidiana forma de estar perante ti.

| Cardeal Dom José Tolentino Mendonça

domingo, 17 de setembro de 2023

Capacidade de viver

 


Jesus ajuda-nos a ler em profundidade e a perceber isto: a perceber que se eu não estou disposto a perder, a perder-me, em última análise a perder a vida, eu nunca vou descobrir o sabor profundo da vida.
É como aquele poema do Tagore sobre os dois pássaros que estão enamorados, só que um está dentro da gaiola e o outro anda em liberdade. O que anda em liberdade vem voar à volta da gaiola e vem dizer:
- “Meu amor, vamos, vem comigo, vem conhecer os campos, vem comigo conhecer o ar livre.”
E o outro diz:
- “Não posso, estou aqui preso, vem tu aqui para dentro.”
E ele diz:
- “Não, tem coragem, tem força, nós podemos voar.”
Ele diz:
- “Não, eu não consigo, eu estou aqui dentro, vem tu para o pé de mim e assim vamos estar juntos.”
E andavam nisto, e da última vez que o pássaro livre fala ao pássaro enamorado mas que está preso na gaiola, diz: “Vem, anda, vamos voar.” Ele diz: “Não posso, as minhas asas morreram.”
À custa de nós estarmos aprisionados àquilo que nos prende as nossas asas morrem. E depois perdemos a capacidade de viver uma vida na sua amplidão, com a respiração, com a fantasia, com o idealismo, com a verdade, com a autenticidade, com a essencialidade que uma vida pode ser. De repente, damos por nós em gaiolas douradas e, de facto, as nossas asas morreram. E morreram porquê?
Porque nós tivemos medo a dada altura, ou tivemos medo em muitas alturas de pegar na cruz e seguir e sentir que a vida se perde, sentir que a vida é um salto, que a vida não é sustentada por um cálculo de somar. A vida tem de ser uma trajetória de confiança. Ou apanhamos isto, sustentados no exemplo da vida de Jesus, ou então andamos atrás Dele mas não percebemos o que Ele nos diz – e quando Ele faz esta proposta: “Quem quiser seguir-Me pegue na sua cruz e siga-Me.”, Ele fica sozinho a levar a sua porque cada um de nós parte o mais depressa possível.

| Cardeal D. José Tolentino Mendonça

Perdão sem limites

 



A Palavra de Deus que a liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum nos propõe fala do perdão. Apresenta-nos um Deus que ama sem cálculos, sem limites e sem medida; e convida-nos a assumir uma atitude semelhante para com os irmãos que, dia a dia, caminham ao nosso lado.
O Evangelho fala-nos de um Deus cheio de bondade e de misericórdia que derrama sobre os seus filhos - de forma total, ilimitada e absoluta - o seu perdão. Os crentes são convidados a descobrir a lógica de Deus e a deixarem que a mesma lógica de perdão e de misericórdia sem limites e sem medida marque a sua relação com os irmãos. Este Evangelho recorda-nos - talvez ainda de forma mais clara e concludente - aquilo que a primeira leitura já sugeria: quem faz a experiência do perdão de Deus, envolve-se numa lógica de misericórdia que tem, necessariamente, implicações na forma de abordar os irmãos que falharam. Não podemos dizer que Deus não perdoa a quem é incapaz de perdoar aos irmãos; mas podemos dizer que experimentar o amor de Deus e deixar-se transformar por Ele significa assumir uma outra atitude para com os irmãos, uma atitude marcada pela bondade, pela compreensão, pela misericórdia, pelo acolhimento, pelo amor.
A primeira leitura deixa claro que a ira e o rancor são sentimentos maus, que não convêm à felicidade e à realização do homem. Mostra como é ilógico esperar o perdão de Deus e recusar-se a perdoar ao irmão; e avisa que a nossa vida nesta terra não pode ser estragada com sentimentos, que só geram infelicidade e sofrimento. Muitos homens do nosso tempo pensam que só nos afirmamos, só nos realizamos e só triunfamos quando somos fortes e respondemos com força e agressividade à força e agressividade dos outros. Jesus Ben Sira, contudo, ensina que a "sabedoria", o êxito e a felicidade do homem não passam por cultivar sentimentos de ódio e de rancor, mas por cultivar sentimentos de perdão e de misericórdia. Quem tem razão? O que é que nos dá paz, nos faz sentir em harmonia connosco, com Deus e com ou outros e nos torna mais felizes: os gestos violentos que mostraram aos outros a nossa força e apaziguaram o nosso orgulho ferido, ou os nossos gestos de perdão, de bondade, de misericórdia?
Na segunda leitura Paulo sugere aos cristãos de Roma que a comunidade cristã tem de ser o lugar do amor, do respeito pelo outro, da aceitação das diferenças, do perdão. Ninguém deve desprezar, julgar ou condenar os irmãos que têm perspectivas diferentes. Os seguidores de Jesus devem ter presente que há algo de fundamental que os une a todos: Jesus Cristo, o Senhor. Tudo o resto não tem grande importância. Às vezes perdemo-nos na discussão das coisas secundárias e esquecemos o essencial. Discutimos se se deve receber a comunhão na mão ou na boca, se se deve ou não ajoelhar à consagração, se determinado cântico é litúrgico ou não, se os padres devem ou não casar, se a procissão do santo padroeiro da paróquia deve fazer este ou aquele percurso... e, algures durante a discussão, esquecemos o amor, o respeito pelo outro, a fraternidade, e que todos vivemos à volta do mesmo Senhor. É preciso descobrir o essencial que nos une e não absolutizar o secundário que nos divide.

https://www.dehonianos.org/

sábado, 16 de setembro de 2023

Cardeal Tolentino Mendonça destaca importância de São Vicente na história da Lisboa

Cardeal Tolentino Mendonça destaca importância de São Vicente na história da Lisboa

O cardeal Tolentino Mendonça evocou hoje em Lisboa a importância da figura de São Vicente (séc. III-IV), padroeiro da cidade, falando na abertura das celebrações dos 850 anos da chegada a Lisboa das relíquias do diácono e mártir.




A chegada das relíquias, indicou D. José Tolentino Mendonça, colocou Lisboa “no mapa das grandes cidades europeias”, face ao reconhecimento internacional do mártir, nas comunidades católicas.

O responsável católico aludiu à necessidade de “mediadores” entre gerações, que “passem o testemunho”, falando numa “crise de transmissão”.

“Diálogo, inclusão, negociação, coesão são também declinação de uma herança com 850 anos”, observou.

A intervenção citou o discurso proferido pelo Papa no Centro Cultural de Belém, a 2 de agosto, no qual falou de Lisboa como “cidade do encontro”, “cidade do Oceano”, “capital mais ocidental da Europa” e “capital do futuro”.

“Se olharmos com atenção, o símbolo de Lisboa não faz dela uma capital do passado, mas uma protagonista do futuro”, disse D. José Tolentino Mendonça.

O colaborador do Papa evocou “todas as formas de martírio”, que afetam a humanidade, convidando a aplicar, hoje, o “amplo património espiritual e social” da herança de São Vicente, como “transladadores de futuro”.

Aquela nau transporta, através do oceano, um estranho que nós acolhemos, mostrando que a nossa identidade não se constrói na lógica da indiferença ao outro, mas na abertura, na hospitalidade e no diálogo”.

https://www.patriarcado-lisboa.pt/

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

ANDA POR AÍ MUITO PÓ NO AR!... E A CULPA É DELE.....


Sim, a culpa é do Papa Francisco, não é da Eva nem da cobra nem vai morrer solteira. Ele que me desculpe e o leitor não se escandalize com esta minha ousadia, mas foi ele quem nos escreveu a dizer que “a alegria cristã é acompanhada pelo sentido de humor” (GE,126), coisa que não significa falta de respeito, o respeitinho é muito bonito. E ele até lembra, entre outros, Tomás More, que rezava todos os dias para que Deus lhe desse uma suficiente dose de humor para viver feliz. O bom humor contagia, adoça a vida, humaniza...
Desde que, depois de eleito, passou pela sacristia das lágrimas da Capela Sistina, para rezar sobre o que lhe tinha acontecido e vestir uma das três batinas brancas à espera do tamanho físico de quem quer que fosse eleito; desde que, daí chegou à varanda principal da Basílica de S. Pedro para se apresentar ao mundo e pedir ao povo de Deus que o abençoasse e rezasse por ele; desde aí, tudo tem sido, para Francisco, um ver se te avias. O Espírito Santo e a sua preocupação pela humanidade não o deixam descansar. Pessoalmente, em traje papal, logo foi pagar a conta ao Hotel, onde, nos dias do Conclave, se tinha hospedado, não viessem a dizer que ele era daquela espécie de pessoas cuja denominação o leitor sabe. Para alguns, porém, já isso de ele ir pessoalmente ao Hotel pagar o que devia, naquelas circunstâncias, foi coisa fora da caixa, levantou pó quanto bastasse para que os viperinos de serviço espanejassem tal estilo e logo augurassem futuro sombrio para a ortodoxia romana.
Regressando a casa, imaginamos Francisco, já consciente de que era a Pedra da Igreja escolhida por Cristo, imaginamo-lo a escancarar portas, a abrir janelas, a franquear gavetas, a telefonar aos amigos, a gerar empatia, a criar proximidade com todos como gostava que todos naturalmente o viessem a fazer. Mas, se ainda não falei, é dos tapetes que vou falar, dá-me mais gosto e jeito, embora lhes pareça que não bate a bota com a perdigota, mas bate, bate bate. Com zelo e persistência de santo, jamais Francisco deixou de os sacudir, à janela ou fora da janela, razão pela qual anda por aí muito pó no ar a gerar abadas de morrinha em muito boa gente. As modalidades que ele tem usado para sacudir o pó dos ditos cujos são diversas, como diferentes são as formas de quem cuida dos da própria casa. Ora pega nos tapetes e apenas os sacode; ora usa a vassoura, ou o que for, para os sovar até lhes fazer saltar o pó que teima em permanecer; ora usa tecnologia mais sofisticada ou robôs de aspiração; ora dá a entender que já estão demasiadamente surrados e são como burro velho na aprendizagem, já não vale a pena; ora os olha mais como tropeço enredoso do que como coisa bela e útil; ora entende que já não servem para mais nada senão para serem substituídos, etc. etc. e tal. Mas, não haja dúvida, o pó anda por aí no ar, debaixo dos tapetes é que Francisco o não deixa sossegar. Mas, engraçado!, apesar do peso e dos fortes abanões, o demo dos tapetes nunca lhe caem das mãos. Tem mãos fortes e firmes, não fossem elas as mãos de Pedro, do Papa, e ainda por cima jesuíta. É que há, por esse mundo fora, mais que muitos mirones e espiões, mui mui atentos, a ver se ele os deixa cair, para correrem e os erguerem bem alto como troféu de salvadores heroicos da ortodoxia e de património milenar valiosíssimo e por ele tão desbaratados. Como é saudável e bonito ver, ler, ouvir, refletir e perceber tanto chinfrim que o sacudir dos tapetes tem causado, sabendo nós que é urgente e salutar que aconteça e que o pó vai acabar por pousar normalmente, com Pedro e sob Pedro, refontalizando, convertendo, renovando, salvando, seguindo em frente. Ó feliz culpa de tanto pó e chinfrim! Este pó é como o maná do deserto, que foi um dom tão importante quão intrigante e chinfroso, ainda hoje a captar a imaginação de todos. Uns ficaram felizes e cheios de esperança, outros protestaram, outros amuaram e outros até perderam o apetite, tantas eram as saudades dos pepinos e das panelas do Egito (Ex 16, 14; Nm 11, 4-8). Moisés sofreu, mas permaneceu forte e firme. Francisco também, não desiste!
Para a maioria esmagadora, apesar de ser pó, é um pó saudável, não danifica nada nem ninguém, não entope nem entorpece. Antes pelo contrário, mexe positivamente com as pessoas, beneficia a respiração, torna o mundo espiritual e intelectualmente mais habitável. Para outros, é um pó tóxico, causa-lhes azia, desespera-os, isola-os, parece-lhes que o mundo vai acabar, e torcem, retorcem e voltam a torcer e a retorcer porque, para eles, o descalabro está mesmo iminente, uma grande desgraça se aproxima! Para outros, é assim-assim, tanto lhes dá como se lhes deu, não são carne nem peixe, são uma espécie de esperanto. No entanto, vai-lhes sendo útil, conforme as suas conveniências e circunstâncias. Para outros, é causa de medonha enervação, deixa-os com fortes dúvidas existenciais. Gostavam duns pozinhos mais doces, com receitas fáceis de aplicar, mas entendem que o Papa, só sacode o que sacode e sempre a meias, deixa-lhes tudo no ar e na dúvida. Sacode o pó mas não acrescenta qualquer coisa mais que eles gostariam de ouvir. Assim, só lhes complica a vida, emaranha-a ainda mais porque só fala em discernimento com esse jeito de dizer que a realidade é superior à ideia e que é preciso confiar mais na força da graça e na solicitude pastoral do que na força das leis. Para outros, isolando afirmações e usando critérios preconceituosos, é motivo para ocultarem a sua trave e manifestarem maus fígados, zurzindo no argueiro de quem não gostam, de pessoas e instituições, a quem desprezam e gostariam de ver ao largo e ao longe. Para outros, agora é que vai ser, “todos ao molho e fé em Deus”, “todos, todos, todos”, pois foi o Papa que disse. Será que disse? Sim, disse e repetiu, e até convidou a rapaziada a repetir com ele. E muito bem, foi bonito de se ver, ouvir e sentir, eu também me associei à multidão naquele entusiasmo de repetir com o Papa. No regresso de Lisboa a Roma, porém, no avião, Francisco respondeu à curiosidade de uma jornalista estrangeira que, não sei se afetada com o pó na garganta ou mesmo sem o pó, lhe colocou precisamente essa questão, isto é, como é que ele explicava “esta incoerência entre ‘Igreja aberta’ e ‘Igreja não igual para todos”. Respondeu o Papa: “... a Igreja está aberta para todos e, depois, há legislações que regulam a vida dentro da Igreja e, quem está dentro, atém-se à legislação ... Mas isto não significa que a Igreja seja fechada. Cada um encontra Deus pela própria estrada, dentro da Igreja; e a Igreja é mãe, guia cada um pela sua estrada ... Venham todos e, depois, cada qual, na oração, em conversa íntima com Deus, no diálogo pastoral com os agentes da pastoral, procura o modo de avançar...”.
A Igreja acolhe toda a gente, sim. Sendo chamada a ser “hospital de campanha para curar as feridas”, como diz Francisco, ela tem de ser mesmo uma espécie de “carro vassoura para não deixar ninguém atrás”, como afirmou Tolentino Mendonça. Mas, com toda a caridade e solicitude pastoral, como se lhe exige e, aliás, é seu dever, ela não pode aceitar tudo como se tudo fosse igual a tudo. Acolhe e acompanha as pessoas, como mãe, com humildade, “passo a passo, no seu caminho de amadurecimento”. Faz suas as alegrias e as esperanças, as dores e as angústias de cada um, e, com Cristo, em Cristo e ao jeito de Cristo, assume “uma atitude sabiamente diferenciada: algumas vezes, é necessário permanecer ao lado e ouvir em silêncio; outras vezes, deve-se preceder para indicar o caminho a percorrer; e outras vezes ainda, é oportuno seguir, apoiar e encorajar” (RF77).
Caro leitor, “Deus não nos deu um espírito de medo, mas um espírito de força, de amor e de sabedoria” (2Tm 1, 7). O ‘amor de Cristo nos impele’ (2Cor 5,14). “Coragem, não tenhais medo”, a barca não vai afundar-se (Mc 6,50), “Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”, garantiu-nos Cristo Jesus (Mt 28,20).
D. Antonino Dias - Bispo Diocesano
Portalegre-Castelo Branco, 15-09-2023.

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Que seja tudo por amor



A vida atravessa-nos sem nos pedir autorização. Os desafios são tremendos e só somos preparados para os viver quando nos arrebatam. Quase nunca conseguimos perceber a arbitrariedade da própria vida. Os bons ficam doentes. Os maus ganham mais força. Os bons têm contrariedades enormes e os maus parecem estar sempre no seu melhor.

Uma das frases que mais oiço e que mais me faz pensar é esta:

“Porque é que as coisas más acontecem sempre aos bons?”

Claro que as coisas más acontecem a todos. Só que a verdade é que nos importamos mais com os bons. Com os que dão tudo e que dedicam a vida aos outros. Se os “maus” estão a sofrer isso passa-nos ao lado. Importamo-nos pouco com essa categoria de pessoas. Reparamos na injustiça quando são os “bons” a sofrer. Talvez valha a pena também lembrar que os maiores sofrimentos são, muitas vezes, as maiores catapultas de desenvolvimento pessoal e espiritual. O sofrimento não é gratuito nem ao acaso. É ponte. É lição. É meio para atingir uma outra etapa da vida.

Depois, outra reflexão que talvez faça sentido desenhar: o que será isso dos maus e dos bons?

É fácil atribuir rótulos extremados. Especialmente se são etiquetas que nos convêm. Estamos sempre do lado dos bons, verdade?

Mais do que dividir-nos a todos entre os bons e os maus, talvez seja mais apropriado falar dos mais e menos conscientes; dos mais e dos menos traumatizados; dos mais e dos menos amados; dos mais e dos menos respeitados; dos mais e dos menos cuidados. Se olharmos mais para os outros com estes olhos, talvez consigamos desconstruir muitos dos estereótipos que vamos erguendo dentro do coração, e que nos afastam uns dos outros.

A maldade existe, no entanto. É o avesso do amor e da compaixão. E essa sombra só pode ser combatida com mais amor. Com mais cuidado. Com mais respeito e empatia. Também não precisamos de receber a maldade dos outros se não estivermos capazes de devolver amor. Podemos sempre afastar-nos e rezar, depois, por aquilo que não conseguimos compreender.

Quando não souberes o que fazer ou como lidar seja com o que for, repete baixinho:

“Que seja tudo por amor”.


Marta Arrais


quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Que pesos carregas tu?


“Diz-me amiga? O que te pesa? Porque andas triste e com olhar vazio? Não costumas ser assim.“


Quantas vezes já fizemos esta pergunta a alguém que gostamos muito. Se calhar não tantas vezes quanto necessárias mas, ainda vamos a tempo, basta atenção e coragem.

Atenção para perceber os sinais que o outro transmite;

Atenção para perceber silêncios e ausências;

Atenção para perceber olhares cabisbaixos.

Atenção para perceber o que o outro não quer que percebamos.

Depois é preciso coragem

Coragem para ir ao encontro;

Coragem para por o dedo na ferida;

Coragem para fazer a pergunta certa;

Coragem para ouvir o que não se está preparada para ouvir.

Parece fácil mas não é! Dá trabalho estar atento e é preciso muita preparação para ter coragem. Precisamos de estar certos de como estamos e que não, não precisamos de ter respostas certas, aliás por vezes, o grande segredo é…ouvir. Estar disposto a reconhecer o peso que o outro carrega, sem julgamentos ou mezinhas. Às vezes basta reconhecer que não é fácil, que há horas difíceis, momentos conturbados mas que não nos podemos sentir sós.

Sim, porque eu e tu também carregamos pesos entre eles a tristeza que sentimos com a tristeza dos outros, a frustração por não sentir que fizemos bem o que queríamos e tantas coisas, mais ao menos graves, que sentimos.

Mas independentemente do peso, sei que quando o partilho e encontro no outro a empatia e a compreensão, não me liberto do peso apenas ganho mais força - e isso me basta!

E tu amiga, que te pesa?

Raquel Rodrigues

terça-feira, 12 de setembro de 2023

PEREGRINAÇÃO DIOCESANA DO M.C.C.

 

                                         
  
                                  

60 ANOS


ATIVIDADES PARA O ANO PASTORAL 2023- 2024

“Igreja, lugar para todos, cada um a seu modo” (cf. LG31)



De acordo com a programação das atividades do M.C.C., para o

presente ano pastoral e ainda sob o eco das J.M.J., iremos realizar a

nossa Peregrinação diocesana, no dia 5 de outubro, sob o lema:

“S. Paulo, patrono do M.C.C.”

Vamos conhecer um pouco mais…

– Vamos fazer algumas visitas:

 Igreja de S.to António, de Lisboa

 Sé de Lisboa

 Igreja de S. Paulo, com celebração da Eucaristia

– Vamos almoçar…

– Continuamos as visitas:

 Zona de Belém

 Campo da Graça (local de celebrações das J.M.J.)

– Regressamos a casa…

                                                                                   



NOTA: oportunamente serão divulgadas informações concretas relativamente a horários,

alternativas para o almoço, valores totais. datas e locais para a inscrição