A vida atravessa-nos sem nos pedir autorização. Os desafios são tremendos e só somos preparados para os viver quando nos arrebatam. Quase nunca conseguimos perceber a arbitrariedade da própria vida. Os bons ficam doentes. Os maus ganham mais força. Os bons têm contrariedades enormes e os maus parecem estar sempre no seu melhor.
Uma das frases que mais oiço e que mais me faz pensar é esta:
“Porque é que as coisas más acontecem sempre aos bons?”
Claro que as coisas más acontecem a todos. Só que a verdade é que nos importamos mais com os bons. Com os que dão tudo e que dedicam a vida aos outros. Se os “maus” estão a sofrer isso passa-nos ao lado. Importamo-nos pouco com essa categoria de pessoas. Reparamos na injustiça quando são os “bons” a sofrer. Talvez valha a pena também lembrar que os maiores sofrimentos são, muitas vezes, as maiores catapultas de desenvolvimento pessoal e espiritual. O sofrimento não é gratuito nem ao acaso. É ponte. É lição. É meio para atingir uma outra etapa da vida.
Depois, outra reflexão que talvez faça sentido desenhar: o que será isso dos maus e dos bons?
É fácil atribuir rótulos extremados. Especialmente se são etiquetas que nos convêm. Estamos sempre do lado dos bons, verdade?
Mais do que dividir-nos a todos entre os bons e os maus, talvez seja mais apropriado falar dos mais e menos conscientes; dos mais e dos menos traumatizados; dos mais e dos menos amados; dos mais e dos menos respeitados; dos mais e dos menos cuidados. Se olharmos mais para os outros com estes olhos, talvez consigamos desconstruir muitos dos estereótipos que vamos erguendo dentro do coração, e que nos afastam uns dos outros.
A maldade existe, no entanto. É o avesso do amor e da compaixão. E essa sombra só pode ser combatida com mais amor. Com mais cuidado. Com mais respeito e empatia. Também não precisamos de receber a maldade dos outros se não estivermos capazes de devolver amor. Podemos sempre afastar-nos e rezar, depois, por aquilo que não conseguimos compreender.
Quando não souberes o que fazer ou como lidar seja com o que for, repete baixinho:
“Que seja tudo por amor”.
Marta Arrais
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